Record estreia novela “Jesus” com proposta inovadora

Novela se propõe contar a vida de Jesus por inteiro

Iniciada há alguns anos, a proposta do núcleo de dramaturgia da Rede Record, de transformar em novelas e minisséries diversas passagens da Bíblia, atingiu ontem seu ponto mais alto: a estreia da novela “Jesus”.

De forma bastante didática, uma das chamadas da novela, feita há alguns dias mostrava uma linha de tempo, que se iniciava com a minissérie “Lia”, passada em 1700 a.C. e ia evoluindo para a história de “José do Egito”, “Os Dez Mandamentos”, “Terra prometida”, “Sansão e Dalila”, “Rei David” chegando finalmente em “O Rico e Lázaro”, que se passava em 600 a.C. Finalmente, chegando à divisão das duas eras históricas, a Record se propõe a contar a história da vida de Jesus de forma integral, utilizando as informações de todos os Evangelhos e mais alguns dados históricos.

Essa opção é inovadora, visto que nenhuma outra filmagem anterior se propôs a contar tudo, sempre optando por um evangelista em especial (geralmente Mateus com trechos de Lucas) ou passagens específicas dos 4 evangelhos.

Como era de se esperar de uma emissora gerida por uma igreja, o projeto de uma novela sobre Jesus recebeu um investimento alto, com filmagens no Brasil e no Marrocos, utilizando recursos de produção dignos de uma super produção. O resultado poderá ser visto a partir de agora.

Logo no primeiro capítulo, observamos uma inovação na abertura musical, que pela primeira vez em todas as novelas bíblicas, conta com um cantor. As composições da trilha sonora, assim como a música incidental são da responsabilidade de um mestre no assunto: Daniel Figueiredo, responsável por trilhas sonoras de várias novelas e minisséries da Record.

A autora, Paula Richard, sabendo que teria de apresentar os personagens principais de forma mais abrangente, inicia a narrativa ainda no tempo de noivado de José e Maria. Como isso poderia fazer do capítulo de estreia um pouco monótono, este se inicia já com cenas da Paixão de Cristo, com a subida do Gólgota e crucificação para, somente aí, recuar no tempo e ouvir um sacerdote contando a duas crianças como foi a criação do mundo e o pecado original, o que levou ao conceito do cordeiro que, sacrificado, purificava os pecados dos judeus e já prepara o telespectador para o conceito de sacrifício de Cristo para salvação dos nosso pecados. Tudo isso de forma ao mesmo tempo didática, mas sem pedantismo ou resvalar para pregação. As cenas simplesmente ilustram as crenças e costumes dos judeus da época.

Embora não tenha sido possível avaliar perfeitamente a qualidade da produção somente no primeiro capítulo, temos que elogiar a riqueza de detalhes do palácio de Herodes, o Grande, que realmente exala riqueza e imponência como era o hábito desse monarca. A maquiagem está tão perfeita que uma lesão de pele no pescoço de Paulo Gorgulho nos fez ter dúvidas se era algo real, do ator, ou do personagem. Somente na cena seguinte, quando se menciona a doença de pele de Herodes que concluímos que se trata de maquiagem. Aliás, Paulo Gorgulho a cada dia se firma como um grande ator, capaz de dar credibilidade tanto a Anrão, pai de Moisés em “Os Dez Mandamentos” quanto a Herodes em “Jesus”.

Como era de se esperar numa obra tão grandiosa, existiu um ponto negativo: a opção por um ator jovem para interpretar José. Sabemos que José era já viúvo e bem mais velho que Maria quando se casou com ela. Para criar um clima romântico entre os dois, a autora optou por um ator excessivamente jovem. Isso era totalmente desnecessário.

A imensa maioria dos personagens principais ainda não apareceu nesse primeiro capítulo, visto que a novela será dividida em três fases de tempo. Já podemos esperar grandes interpretações por parte de Vanessa Gerbelli, no papel de Herodíade e de Petrônio Gontijo, no papel de Pedro. A escolha de Dudu Azevedo para o papel de Jesus foi arriscada e veremos se o ator terá o elã para interpretar alguém que misturava força e suavidade, firmeza e compreensão.

Um dos grandes desafios da nova novela será o horário eleitoral, que geralmente derruba audiência de qualquer programa da TV aberta. Também esperamos que a Record pare de vez com esse péssimo costume de mudar o horário das novelas conforme sua necessidade, como fez com a reprise de “Os Dez Mandamentos”.

Num universo da TV brasileira, onde as novelas parecem concorrer para ver qual consegue passar os piores conceitos e exemplos, ter uma novela que conte a vida de alguém como Jesus é um alento, sem dúvida.

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