Minhas impressões sobre a entrevista de Bolsonaro na GloboNews

Não costumo assistir essas entrevistas e debates ao vivo, porque acho muito cansativo não poder pausar quando quiser. Por isso optei por assistir à entrevista de Jair Messias Bolsonaro na GloboNews somente hoje. Procurando pelo vídeo da entrevista de Bolsonaro, encontro uma entrevista curta dele logo após o programa. Nela, ele confessa que estava nervoso pois estava diante de jornalistas que não apreciavam sua candidatura. Esse tipo de sinceridade, cativa as pessoas. A imensa maioria iria dizer que estava tranquilo e que a entrevista transcorreu em alto nível, embora não fosse verdade.

Logo no começo Andrea Sadi falou: “O senhor é político profissional, e tem vários outros membros da família na política. O que o seu clã político tem de diferente de outros clãs?” Ele respondeu bem dizendo que seu clã não usou a política para enriquecer, mas o que eu ACHO que ele deveria também responder: “fui o primeiro político da minha família. Meus filhos me seguiram, por ver em mim um exemplo. Embora eu não compactue com esse tipo de política que se fez e se faz até hoje, preciso de apoio, não só dos meus filhos, como de todo brasileiro que se dispor a entrar na política com essa visão. Não há como mudar o país democraticamente senão pela política.”

Aí, o Merval Pereira faz uma pergunta e diz que Bolsonaro apresentou mais de 600 propostas. Então, aquele número que ele citou no Roda Viva era verdadeiro, e o jornalista que o corrigiu com um número bem menor e ouviu “que seja!” estava mentindo?

Quando chegou na vez de Gerson Camarotti perguntar, a coisa esquentou porque Camarotti insistia que se o partido é corrupto, Bolsonaro não podia ter feito parte dele. Boas respostas: “E qual partido você me sugere que eu estivesse? O PT?”; “Se eu estava num partido de corruptos, embora o próprio Joaquim Barbosa e o doleiro Youssef tenham afirmado que eu fui o único que não aceitou proprina, e você me questiona, o que você fará na entrevista com os candidatos do PT, PSOL e PCdoB, que apoiam até hoje os corruptos condenados?”

“Eu não sou oposição por oposição. Eu não apoio as propostas quando sinto cheiro de maracutaia”. Esse tipo de resposta pode dar a Presidência a Bolsonaro!!

Momento esquerda globalista se revela: um dos jornalistas pergunta “O senhor falou ‘missão de Deus’!!” falando a palavra “deus” com uma entonação de nojo. O rosto do jornalista não foi mostrado, então não sei quem foi o satanista.

Essa insistência de se perguntar o que ocorreria se Paulo Guedes se afogar na banheira já está se tornando irritante. Melhor resposta de Bolsonaro seria “eu não conheço somente Paulo Guedes como um grande economista. Em caso de necessidade, outros nomes podem ser chamados, mas não me pergunte quem porque seria um DESRESPEITO ao Paulo já ficar falando de substituto, quando ele é o meu ministro e, no que depender de mim, continuará a ser. É o mesmo que você perguntar a um presidente de clube qual será o próximo técnico se o atual for demitido”. Pronto! Isso encerra essa conversinha irritante. Num dado momento ele até resvalou para esse tipo de resposta ao perguntar aos entrevistadores se não teria mais ninguém competente trabalhando com Guedes.

Li muita gente surpresa com a honestidade das perguntas de Fernando Gabeira. Para mim não foi surpresa. Gabeira e Eduardo Jorge são dois raros exemplos que esquerdistas que, no passado, chegaram a pegar em armas para tentar derrubar o regime militar e, hoje em dia, fazem sua auto-avaliação e até mea culpa a respeito disso. Creio que a única coisa que os mantém ainda dentro da Esquerda é que eles têm um apoio por parte dela (justamente pelo seu passado) e temem não ser aceitos mais à direita do espectro político.

Minha dica ao candidato: os jornalistas acham que entendem muito dos assuntos, mas são um bando de arrogantes e repetem sempre as mesmas questões. A cada entrevista e debate, sente com Paulo Guedes e pergunte qual teria sido a resposta dele às perguntas de economia. Além de ser um aprendizado, pode apostar que alguém irá repetir essa pergunta numa próxima entrevista.

“A gente muda, Merval” Essa resposta foi muito boa, pois desarmou o jornalista que iria confrontar as ideias estatistas do regime militar e que eram defendidas por Bolsonaro no passado, com essa dita visão liberal atual.

Merval, do nada, porque não se estava falando disso, perguntou se Bolsonaro acabaria com a reeleição. Os esquerdopatas estão tão desesperados que agora já miram no segundo mandato, visto que o primeiro está cada dia mais certo.

Quando chegou na discussão sobre o comércio com a China, sinceramente, as reações dos jornalistas mais pareciam que eles eram funcionários chineses. Uma extrema preocupação com o risco de Bolsonaro cortar o comércio com aquele país, porque ficou claro que o candidato pretende se aproximar sim dos EUA, que foi deixado de lado nas últimas décadas por questões ideológicas.

Quando Bolsonaro entrou na questão do nióbio e grafeno, um assunto que ele parece estar estudando, os jornalistas ficaram anormalmente calados. A frase matadora foi “estive em Israel. Eles não têm nada e olha o que eles são. Nós temos tudo e olha o que nós não somos!” Ao ver que ele estava muito confortável, Camarotti imediatamente mudou de assunto para que? Economia…

Dessa vez Bolsonaro se enrolou e enrolou bem. Falou em abrir mais bancos. Era melhor dizer que a redução do número de bancos era natural do processo de globalização e estava ocorrendo na Europa também. A insistência de Camarotti em perguntar que subsídios ele manteria e quais eliminaria é uma coisa que poderia ser respondida com “ainda não está definido, mas iremos analisar caso a caso, com eliminações imediatas de alguns e a médio ou longo prazo de outros”. Pronto! Não teria como ficarem insistindo em quais.

Quase aos 50 minutos de entrevista, Bolsonaro perdeu a paciência com a insistência dos jornalistas, no caso era a Miriam Leitão, em saber detalhes da política econômica dele, querendo saber que impostos ele iria reduzir ou eliminar. Ao ver que o objetivo era, mais uma vez, pegá-lo de calças curtas, ele preferiu questioná-la quanto a pergunta, comparando ao fato dele não ser médico e não ter como responder questões médicas. Mas aí, tanto Andrea Sadi e Gerson Camarotti o pressionaram com o mesmo tipo de pergunta, deixano-o mais irritado.

A verdade é que isso confirma algo que eu já havia lido há muitos anos. O jornalismo brasileiro é extremamente focado na questão econômica, sendo que isso não é o único ponto importante na administração pública. Por exemplo: se a segurança pública melhorasse no Brasil, a economia teria um avanço na esteira dessa melhora, mesmo sem nenhuma medida econômica real.

Ao final da primeira hora, ficou claro duas coisas: Bolsonaro cansou e os jornalistas viram que o caminho era fazer perguntas específicas sobre medidas de governo, aqueles que nem um Presidente já exercendo o mandato diz antes de assinar um decreto, mas que eles queriam saber de um candidato ainda em campanha. Perguntaram se Bolsonaro iria retirar ou renovar o subsídio do diesel quando o prazo criado pelo governo Temer se encerrasse. Bolsonaro tergiversou demais e parecia com medo de afirmar tanto uma quanto outra coisa. Para meu espanto descobri que o programa ainda não tinha tido um intervalo comercial até aquela hora, o que é uma maldade com um entrevistado, mantendo 1 hora sob fogo (enquanto os jornalistas se revezam) sem um descanso.

O que me chamou atenção é que diversas vezes Bolsonaro tornou sua resposta mais íntima, como “você sabe disso, você conhece como é” dando a entender que os jornalistas SABIAM como as coisas funcionavam, mas mesmo assim faziam perguntas partindo do desconhecimento do público de como as coisas funcionavam em Brasília, fingindo um desconhecimento dos esquemas.

Uma técnica, se é que se pode chamar assim, que esses jornalistas têm utilizado e que vi tanto na entrevista de Álvaro Dias, Marina Silva quanto na de Bolsonaro é de ficar interrompendo o entrevistado no meio da resposta. E isso não ocorre porque o entrevistado está demorando para terminar não, pois já vi ocorrer após 2 frases.

Sinceramente não compreendo a promoção de Andrea Sadi, de uma repórter dos bastidores do Congresso a entrevistadora de presidenciáveis. Ela citou aquela história de que Bolsonaro disse que a mulher TEM que ganhar menos que o homem, sendo que ele havia respondido PORQUE a mulher ganha menos, o que é radicalmente diferente. Aliás, no programa de entrevistas com a candidata Marina Silva, Andrea Sadi entrou numa discussão com Marina em relação ao aborto, afirmando que 4 mulheres morriam por dia devido ao aborto. Isso é reconhecidamente fake news. Marina tentou discordar desse dado, mas de forma muito fraca e não ficou claro.

Uma parte muito boa foi quando Bolsonaro deixou escapar seu lado liberal ao responder a Merval que era um absurdo que ele quisesse interferir no mercado obrigando que uma empresa pagasse o mesmo salário para homens e mulheres, já que a empresa era privada e tinha liberdade para definir seus salários. A vontade de interferir nas iniciativa privada até esmagá-la é típica da Esquerda e Bolsonaro deixou claro que não compactua com isso.

“Nós não podemos querer que o índio fique morando dentro de uma reserva indígena isolado, como se fosse um animal em zoológico”. Mais uma frase perfeita de JMB.

Momento para ser imortalizado: “Eu nunca fui homofóbico!”; “Ah, não?”; “O que eu tô fazendo aqui?”.

A questão do auxílio moradia eu já tenho uma posição, desde quando não estava pretendendo votar em JMB. Por que um parlamentar que se mostre competente o suficiente para adquirir um imóvel em Brasília não receberia auxílio? Na verdade, eu acho que todos eles ganham o suficiente para ninguém ter direito a auxílio moradia e nem a imóvel funcional, mas então se eu sou um deputado federal e tenho um apartamento em cada estado do país menos Brasília, posso receber o auxílio? Mas se compro um imóvel em Brasília é imoral receber? Não concordo…

A resposta de Bolsonaro à pergunta de Gabeira sobre educação foi muito boa, mostrando que ele sabe responder sobre outros assuntos também. Ele deveria ter acrescentado que a experiência das escolas da Finlândia não se aplicava no Brasil porque aqui os estudantes vão armados na escola, há tráfico e que os professores se sentem totalmente inseguros. Por outro lado, essa nova experiência da Finlândia precisa dizer ao que veio. Só se consegue avaliar se uma medida na educação é boa a longo prazo. Várias novidades e modismos na área de educação acabaram se mostrando desastrosas mais tarde. Curiosamente, quando viram que ele estava à vontade, fizeram um novo intervalo poucos minutos depois do anterior.

Na parte de perguntas e respostas rápidas, ele foi muito bem! Nenhuma resposta ficou a desejar. A resposta a “Que país o senhor quer para o futuro?” foi extremamente boa.

Agora, não existem palavras para descrever o que foi aquele final. O programa já tinha encerrado e a Miriam Leitão não dispensava os colegas. Um deles chegou a fazer um gesto de incompreensão. Tudo isso para que ela repetisse o que estavam ditando no ponto eletrônico de uma forma titubeante, dando a entender que uma mudança de posição 50 anos depois, poderia mudar a realidade de que a Globo apoiou o regime militar sim, e se beneficiou demais disso.

Por fim, se os jornalistas da GloboNews estavam com essa cara de enterro só por ter que entrevistar Bolsonaro, imagina a cara se ele for eleito.

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