Urnas Eletrônicas – Confiar ou não nelas?

Já há algum tempo que escutamos que as urnas são seguras e eficazes - será verdade?

Em primeiro lugar, qual o tipo de urna que o Brasil utiliza?

O Brasil é o único país do mundo a utilizar as urnas chamadas de primeira geração, ou primeiro modelo de urnas. Qual o grande problema nisso? O problema é que, como tudo no mundo, a tecnologia evolui. E os meios de burlar essa tecnologia também. Não há nada mais facilmente fraudável do que uma urna eletrônica de primeira geração.

Mesmo que não fosse fraudável, por que não modernizar?

A ausência do comprovante impresso não dá confiança no resultado.

Um dos problemas da votação eletrônica é que nunca temos a certeza de que votamos exatamente em quem apareceu na tela do computador. O software pode ser programado para parecer que o voto foi para o candidato x, quando na verdade foi para o candidato y. Isso seria simples de resolver, com um comprovante impresso protegido por um vidro blindado em que o eleitor verifica os votos e depois confirma novamente para que o comprovante caia numa urna, também blindada. Em caso de discrepância, o presidente da seção eleitoral poderia ser acionado.

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) anunciou que criará o QR CODE para tornar as eleições mais transparentes.

Bem, sinto informar, mas isso não é verdade. O QR CODE somente fará você ter acesso mais rápido aos resultados das apurações em todo o país. Se a urna estiver fraudada, você terá resultados fraudados. Se não estiver, você terá os resultados reais. Além do mais, o dinheiro que será usado para criar esse aplicativo certamente será mais do que o necessário e virá dos nossos bolsos. Portanto, não caia nessa falácia.

Alguns argumentam que o voto impresso facilitaria o voto de cabresto.

Para quem não sabe, o voto de cabresto é o voto que o cidadão tem de provar ao candidato que votou nele para receber algum benefício prometido pelo candidato.

Dessa forma, num primeiro momento, parece que o voto impresso poderia facilitar a “compra” de votos. Ocorre que isso não é verdade. Pelo menos não se as regras forem seguidas. Não é permitido entrar com celular nem máquinas fotográficas na sala de votação. Mesmo assim, muitos entram e registram por vídeo o voto, que deveria ser secreto. Isso acontece mesmo sem o voto impresso. O importante, aqui, não é imprimir ou não. É fiscalizar de forma eficiente o eleitor para que não sejam cometidos crimes eleitorais.

Quais são outros problemas na votação brasileira?

O principal deles são os chamados “mesários”. Embora muitos estejam lá a contragosto, há muitos mesários voluntários. E, num país onde a credibilidade política é tão baixa como no Brasil, mesários voluntários podem representar fraude eleitoral, principalmente se forem todos de uma mesma seção e partilharem da mesma opinião política. Não há como controlar tudo, fato, mas a apuração poderia ser mais devagar se fosse supervisionada por representantes de cada partido antes de as urnas serem abertas.

Além disso, áreas mais isoladas, rurais, onde quase não há fiscalização, estão mais sujeitas a fraudes.

Por fim, uma questão que interfere diretamente no pleito é a OBRIGATORIEDADE DO VOTO. Ora, se o voto é um direito, eu posso, ao menos em tese, exercê-lo ou não. Porém, no Brasil, o voto é visto como um DIREITO inalienável, ou seja, um DEVER disfarçado na forma de um DIREITO.

Qual é o mal nisso? O mal está nos candidatos, não nos eleitores. Eleitores analfabetos, iletrados, que não têm a menor noção sobre os projetos de cada candidato, são facilmente influenciados a “decorar” os números do candidato que tem mais promessas e que raramente as cumpre. E assim o resultado das eleições pode não representar, necessariamente, o desejo da população de modo geral. Se o voto não fosse obrigatório, os políticos também conseguiriam influenciar alguns eleitores, mas teriam dois trabalhos: o de influenciá-los e o de convencê-los a comparecerem no dia das eleições.

Dessa forma, respondendo à pergunta proposta no título, as eleições no Brasil podem até ser confiáveis, porém existem inúmeras razões para que isso seja posto em cheque. Vale a pena pensar.