Nos últimos tempos, temos visto o termo “extrema-direita” ser utilizado para designar pessoas e publicações que não poderiam, de forma nenhuma, ser assim chamados. Para melhor compreensão disso, precisamos estudar o termo. Pouca gente sabe que os termos “direita” e “esquerda” se referem ao período que precedeu à Revolução Francesa.
Durante a Assembléia Nacional, os simpatizantes do Rei se sentavam do lado direito do Presidente da Assembléia. Já os opositores sentavam-se à esquerda. Com o tempo, acostumou-se a dizer que fulano era da esquerda ou da direita. Ainda haviam aqueles que, por serem moderados, sentavam-se ao centro.
Com a Revolução, deposição e decapitação do Rei Luis XVI, a esquerda subiu ao poder, perseguiu e condenou a morte os membros da direita. Como vemos, desde sua origem, a esquerda mostrou sua intolerância àqueles que pensavam de forma diferente…
Embora as idéias da esquerda francesa não possam ser consideradas socialistas, com o tempo o Socialismo se apropriou dessa designação. A Esquerda francesa era formada por burgueses, que se revoltaram contra o Estado, com seus impostos elevados. Mas a Esquerda moderna odeia a burguesia e adora o Estado forte e altos impostos, uma mudança radical nas ideias originais. Também passou a ser tradição que os socialistas indicarem quem “merecia” ser considerado de esquerda e quem seria considerado de direita. Essa divisão nem sempre seguia uma regra fixa.
Assim foi que o partido Nacional Socialista alemão (o partido nazista), embora se baseasse em diversas idéias comuns ao Socialismo russo, e o Fascismo italiano, nascido nos sindicatos, foram taxados como de “extrema direita”. A derrota de ambos após a Segunda Guerra tornou essa classificação bastante útil à Esquerda, que alardearam que a Rússia socialista derrotara a extrema-direita nazifascista, ignorando que tanto Inglaterra quanto Estados Unidos representavam o maior exemplo de capitalismo que se poderia buscar.
Com o tempo, passou-se a admitir que “esquerda” seria a ideologia baseada no Socialismo com respeito ao indivíduo, onde o Estado se responsabilizaria por uma melhor distribuição da renda. Altos impostos seriam cobrados dos ricos para subsidiar os programas sociais voltados aos mais pobres.
Já a “extrema-esquerda” defende a implantação de um socialismo radical, às custas da perda da liberdade individual. Nenhum cidadão poderá ter muito mais do que outro. A propriedade privada deixa de existir e passa a pertencer ao Estado, que a administra e cede a quem a utiliza. O Estado determina a renda de cada um, impedindo o enriquecimento (embora muitos dirigentes políticos de regimes de extrema-esquerda tenham vivido como reis…)
A “direita” é a ideologia que é baseada no Capitalismo. Todos são livres para enriquecer. O aumento de arrecadação de impostos se deve ao maior volume de dinheiro movimentado pelo rico e não a uma maior taxação sobre ele. O Estado auxilia os mais pobres, mas não os sustenta a menos que sejam incapazes de trabalhar devido a doenças ou idade.
A “extrema-direita” é uma radicalização dessa visão, EXATAMENTE como a “extrema-esquerda”. Não se aceita que o Estado penalize o setor produtivo com taxas para distribuir a quem não produz. Os impostos são utilizados para serviços públicos como recolhimento de lixo, iluminação, pavimentação. Os pobres, se forem auxiliados, o serão por entidades filantrópicas privadas, mas não pelo Estado às custas de aumento de impostos. Porém, o mais importante é justamente que, como na extrema-esquerda, as liberdades são sacrificadas em favor de um projeto político.
Uma característica comum às “extremas” é a violência e a defesa da implantação de um regime (seja de esquerda ou de direita) pelo uso da força, independente do voto popular. Ambas as ideologias acreditam que a maioria do povo não sabe escolher corretamente e que cabe a uma minoria implantar o que é melhor para todos. Isso distingue as “extremas” das ideologias moderadas de direita ou esquerda.
Como coube à esquerda a designação se uma corrente era de direita ou se era de esquerda, todo radicalismo mal visto pela esquerda foi jogado na conta da direita.
Então, como o nazismo perseguiu os judeus, todo movimento anti-semita passou a ser considerado de extrema-direita, independente das posições desse movimento em relação a economia ou administração política. Esqueceu-se providencialmente que Stalin igualmente perseguiu judeus na Rússia comunista.
Movimentos de cunho exclusivamente religioso que se opõem aos direitos dos homossexuais ou ao aborto são denominados de movimentos de direita ou extrema-direita. Aliás, os movimentos de direitos dos homossexuais foram anexados à esquerda, independente se esses gays eram ricos, burgueses ou proletários. Nem os líderes gays é muito menos os líderes da esquerda se atentaram para as perseguições contra os homossexuais em Cuba, China ou na União Soviética.
A mistura entre a defesa dos direitos civis dos negros e outras minorias étnicas e a ideologia de esquerda foi outra “obra de arte” da engenharia psicológica. O que fazemos com nossos impostos aparentemente não tem nada a ver com o fato de respeitarmos os negros ou não. Karl Marx e Che Guevara eram racistas, mas isso é esquecido pelas lideranças de ambos os movimentos. Não é raro vermos que grupos supremacistas brancos serem designados de “extrema-direita” sendo que não se sabe a ideologia econômica desses grupos, se é que eles a têm. Um desses grupos foi o responsável pelo atentado a bomba no edifício do FBI em Oklahoma. Um atentado contra um governo tipicamente capitalista…
Os defensores dos direitos dos animais foram a mais nova aquisição da esquerda. O que tem a ver a proteção dos animais com a economia de um país é difícil de compreender. Ainda mais quando sabemos que a China comunista condenou à morte os cães domésticos por serem considerados inúteis e consumidores dos alimentos que poderiam ser utilizados por cidadãos famintos. Um bom regime de esquerda deve considerar decadência burguesa ter cães e gatos em casa, tratados como filhos, enquanto tantas crianças morrem de fome. Outro feito da China maoista foi fazer uma campanha para que todos os chineses saíssem matando pardais por serem considerados os culpados de perdas de safras, o que causou um desequilíbrio ecológico, multiplicação de insetos que, estes sim, destruíram todas as plantações. Isso é um fato histórico, assim como é um fato histórico que a União Soviética condenou o Mar de Aral a ser extinto (o que praticamente já ocorreu) ao fazer desvios mal planejados no curso dos rios que o formavam. Ou seja, Comunismo e defesa do meio ambiente não são sinônimos.
Após essa introdução, vamos ao assunto principal. Nos últimos tempos tenho visto um “mantra” novo sendo repetido a esmo pelos simpatizantes da esquerda. Trata-se do termo “extrema-direita”. Todo jornalista, político, filósofo, jornal, revista que se posicione mais a direita (sendo que alguns nem o fazem realmente, podendo ser mais considerados de “centro”) é taxado de “extrema-direita” como se uma palavra viesse presa à outra!
Não é raro ler ou ouvir alguém acusando a revista Veja de ser “de extrema-direita”. Quem faz isso só pode ter duas justificativas. Ou não sabe o que é “extrema-direita” ou age de má fé.
Uma revista de “extrema-direita” (e existem revistas assim nos EUA e na Europa) pregaria a tomada do poder pela força, a eliminação física de opositores e a implantação de suas idéias de forma impositiva. Duvido que alguém tenha lido isso na Veja, num artigo de Reinaldo Azevedo ou Felipe Moura Brasil…
Curiosamente, temos várias pessoas, movimentos e publicações no Brasil que, sendo de esquerda, defendem a tomada do poder pela força, a eliminação física de opositores e a implantação de suas idéias de forma impositiva. Isso é mostrado abertamente sem restrições. Porém ninguém as acusa de serem de “extrema-esquerda”. São somente de “esquerda”. Parece que a violência passou a ser parte integrante da ideologia esquerdista enquanto que qualquer pensamento de direita, mesmo que legalista e democrático, é considerado “extremo”.
Como consequência dessa tendência, temos também o termo “fascista” sendo atribuído a qualquer pessoa que não goste de partidos de esquerda, que não aprove os Black Blocs, que ache um absurdo depredar patrimônio privado ou público como forma de protesto. Estranho ver que essas atitudes eram típicas do fascismo e do nazismo. Gramsci, um ideólogo de esquerda italiano, ensinou que as consciências poderiam ser cooptadas se fossem sendo induzidas aos poucos. O próprio Lenin orientou que os militantes de esquerda deveriam acusar seus opositores de fazer aquilo que ele faziam como forma de enganar a opinião pública. Teve bons aprendizes no Brasil…
Por isso, recomendo aos leitores que pensem bem quando lerem que tal coisa é de “extrema-direita” e se pergunte se esse termo foi cunhado adequadamente ou só exprime a tremenda dificuldade da esquerda de conviver com a diversidade de pensamentos.