Permitam-me começar contando uma história do passado. Antônio Carlos Magalhães era o presidente do Senado e o seu desafeto político, o senador Luiz Estevão, estava sendo acusado e o Senado precisava votar se cassava seu mandato ou não, para que pudesse responder sem imunidade. ACM queria que ele fosse cassado, mas a votação era secreta. Então ele ordenou que violassem o placar de votação para que ele recebesse a lista dos senadores e saber quem votou pela cassação ou não e, assim, saber se seus aliados tinham sido fiéis a ele.
Como isso foi descoberto? Um dia, após a cassação de Estevão, a senadora Heloísa Helena, na época no PT, famosa por seus discursos inflamados, beirando o histrionismo, contra a corrupção da classe política estava na tribuna, fazendo seu discurso, quando ACM comentou na mesa “essa aí votou para não cassar o Luiz Estevão”. Esse comentário fez com desconfiassem da violação do sigilo do voto, já que Heloísa Helena era de uma ala oposta à de Luiz Estevão e ninguém esperaria que o protegesse.
A violação se confirmou e ACM teve que renunciar ao seu mandato para não ser cassado. Porém uma coisa ficou no ar: e aquele comentário dele? A verdade é que políticos como Heloisa sempre se beneficiaram da revolta da população seja contra o poder executivo ou legislativo. Para ela, cassar Luiz Estevão seria um ato de correção do Senado e isso não lhe daria nenhum voto a mais. Agora, se ele fosse mantido senador, o povo ficaria revoltado e ela ganharia dividendos políticos provavelmente citando essa proteção do Senado como a prova de que “as oligarquias e os poderosos se protegem”.
Às vezes é assim. Nem sempre um político ganha se aquilo que ele diz defender realmente ocorre. Jean Wyllys terá mais votos se a homofobia diminuir ou aumentar na sociedade brasileira?
E o que tem isso com o momento atual? Tem que todo mundo que tem acompanhado os últimos 2 anos já notou que existe um grupo, que não é a maioria, de apoiadores de Jair Messias Bolsonaro que não parece agir para a eleição do deputado. Qualquer aproximação de outros grupos dentro da Direita é rechaçada pos esse grupinho que não aceita que Bolsonaro se misture.
Mas é muito difícil para Bolsonaro chegar à Presidência sem ampliar sua base de apoio. Um dos efeitos desse isolamento político é o tempo ridículo que restou de propaganda política gratuita. Esse tempo ínfimo fez com que Bolsonaro repensasse sua estratégia de não participar de debates e entrevistas, que agora são as únicas formas dos eleitores o ouvirem falar por mais de alguns segundos. Acabou sendo bom para ele, visto que tanto a má qualidade dos seus concorrentes, quanto a má fé dos jornalistas fizeram com que ele acabasse tendo bons e até ótimos desempenhos nessas participações.
Agora, por que esse grupo de isolacionistas parecem sabotar a candidatura de Bolsonaro, atacando eventuais aliados e usando de extrema agressividade contra outros direitistas que poderiam vir a votar nele, ainda que num segundo turno?
Minha teoria (conspiratória ou não) é que esses isolacionistas estão fazendo o mesmo que Heloisa Helena: torcendo para que a coisa não dê certo; Bolsonaro não ser eleito; seus eleitores ficarem furiosos e, quando chegarem às próximas eleições, votarem maciçamente nos “apoiadores” do Capitão que, assim, darão seus primeiros passos na política. Muito mais garantido você ser eleito do que contar com um eventual cargo caso Bolsonaro se eleja.
O que talvez eles não contassem é com o bom desempenho de Bolsonaro nos debates e entrevistas, além da péssima qualidade dos outros candidatos. Ou seja, estão correndo o risco de terem que se contentar com algum cargo de assessor, sempre com a possibilidade de serem dispensados caso não agradem.
Não tenho como provar minha teoria. Ela só se comprovará caso Bolsonaro não seja eleito e, nas eleições de 2020 e 2022, essas mesmas pessoas que correm hoje para furar qualquer barco que se aproxime do seu mito, apareçam concorrendo a algum cargo.