Moralismo e Controle Social

Assim que foi lançada, a rede social Facebook mostrou que tinha algumas características distintas da rede da moda anterior, o Orkut. Uma dessas diferenças foi a total intolerância a imagens que envolvessem nudez.

Essa característica foi, na época, muito louvada por algumas pessoas, que viam nessa restrição uma maior segurança em relação as nossas criancinhas (porque ninguém pensa nas nossas criancinhas) que poderiam ficar expostas a uma deletéria bunda ou a um agressivo peito feminino.

Há alguns anos tornou-se motivo de piada o caso de uma foto de uma mulher numa banheira com um dos braços dobrados pois essa foto fora removida porque o Facebook confundiu o seu cotovelo com o mamilo.

O que ninguém parece ter pensado naquela época é que, para uma rede social, seria extremamente fácil permitir esse tipo de foto, desde que sinalizada como “conteúdo adulto” e que cada usuário escolhesse por si só se gostaria de ver conteúdo adulto ou não. Essa ação, aparentemente moralista, parecia ser extremamente positiva e ninguém sabia que o criador da rede tinha posições políticas de esquerda ou que a rede pretendesse espelhar esse posicionamento político um dia.

Porém, nos últimos dois anos e, mais especificamente no último ano, o Facebook tem mostrado um maior controle sobre o que as pessoas podem postar e também o nível de visibilidade de uma postagem. Foi então que muitas daquelas pessoas que louvaram o comportamento moralista do Facebook, a grande maioria ou de direita ou cristã, viram suas postagens serem removidas e seus perfis pessoais suspensos temporariamente ou até definitivamente, somente por expressarem opiniões diferentes daquelas defendidas pelo criador da rede.

O mais grotesco de tudo é que páginas que defendem ideias claramente criminosas que vão desde sexo com crianças até o uso de drogas além de expressões de ódio aos cristãos, particularmente os católicos, quando denunciadas, recebem a resposta que “não viola as regras da comunidade”.

O que estava sendo feito, com essa regra “anti-mamilo” era um simples teste. As pessoas aceitariam uma rede que interferisse na sua liberdade ou isso seria motivo de protestos e abandono da rede? A resposta veio imediatamente. As pessoas aceitaram como gado indo para o abate. A partir daí, o controle foi aumentando.

Recentemente, um amigo teve seu acesso suspenso por 30 dias por postar uma imagem cômica, que já tem uns 3 anos. Nessa imagem, o mapa do Brasil tem o nome dos estados substituído por alguma visão preconceituosa daquele estado. Por exemplo, o estado do Amazonas aparece como “Floresta”; o estado do Rio de Janeiro como “favelas”, Santa Catarina como “4º Reich”, etc. Sabemos que a imagem tem cerca de três anos porque o estado de São Paulo tem a frase “não tomam banho”, o que é uma piada em relação à grande seca ocorrida naquela época. Lembro de ter visto essa imagem há três anos isso não gerou nenhuma polêmica na época. Piada é assim mesmo! Tem que partir de estereótipos e generalizações. Pois, três anos depois, a mesma piada se tornou intolerável para o Facebook.

O que os conservadores parecem não ter compreendido no início da rede social é que ninguém tem o direito de dizer que moral as outras pessoas devem seguir. Que ninguém pode dizer se você deve ou não querer ver uma foto de uma pessoa nua. Que ninguém deve ter o poder de definir que Davi de Michelangelo é arte e uma foto de um homem nu é pornografia.

Quando transferirmos esse poder em uma área específica para alguém, estamos validando que esse alguém ou outra pessoa tenha poder em outras áreas mais adiante. Qual a diferença entre remover uma imagem contendo nudez na página de um fotógrafo profissional e remover uma postagem de um escritor de direita? Se eu posso dizer que imagens você pode ver eu também posso definir que textos você poderá ler.

Se os conservadores querem manter seu direito de defender seus pontos de vista, devem defender o direito de outras pessoas, seja de que ideologia for, possam expor tanto a suas opiniões como as imagens que acharem adequadas. A rede social é que deve criar mecanismos, o que várias outras redes já fizeram, para evitar que uma pessoa que não queira ver certo tipo de imagem possa escolher isso ativamente sem que ninguém o faça por ela.

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