Fãs de Bolsonaro se aliam à Esquerda para destruir o MBL
Como parte da Direita prefere atacar a Direita e deixar a Esquerda em paz.
O deputado Jair Bolsonaro tem suas qualidades, assim como seus defeitos. Dentro da Direita brasileira, muitas pessoas reconhecem ambas as coisas, porém para algumas, denominadas “bolsominions”, a simples menção de algum erro de Bolsonaro ou a discordância de alguma de suas posições já transforma o crítico num esquerdista ou num socialista fabiano.
Ignorando que, numa eventual vitória nas urnas em 2018, Bolsonaro irá necessitar de apoio de parte da classe política para se manter no poder e conseguir governar, esses seguidores do deputado não pensam duas vezes antes de atacar qualquer outra pessoa que, na suas mentes, possa ameaçar a candidatura do “mito”.
Embora o próprio Jair Bolsonaro não tenha esse tipo de comportamento, não podemos dizer o mesmo de alguns de seus filhos. Assim foi que o também deputado Eduardo Bolsonaro, numa postagem confusa, misturou o nome do livro de Lucas Berlanza “Guia bibliográfico da Nova Direita”, com uma foto do publicitário Alexandre Borges ao lado do prefeito de São Paulo, João Doria, para conclamar os seguidores do pai a fazer uma verdadeira caça às bruxas contra qualquer pessoa que ousasse admirar Doria ou até mesmo aparecer ao lado dele. Borges, uma das vozes mais lúcidas da Direita brasileira, havia trabalhado na campanha de Flávio Bolsonaro à prefeitura do Rio e nunca poderia ser chamado de simpatizante de tucanos ou socialista fabiano, mas foi isso que aconteceu. Numa fúria persecutória, os bolsominions passaram a atacar Alexandre Borges e quem quer que fosse defendê-lo.
Justiça seja feita. Jair Messias em pessoa nunca entrou nesse tipo de picuinha. Porém, também nunca deu declarações que pudessem esfriar os ânimos exaltados. Na época, o próprio Olavo de Carvalho chegou a postar que se arrependia de ter, um dia, ensinado o que era Socialismo Fabiano para seus alunos ao ver como esse termo estava sendo utilizado, sem nenhum critério, para atacar a todos.
O surgimento do MBL
Após as manifestações de 2013, vários grupos surgiram defendendo desde princípios liberais ou libertários até conservadores. Essa diversidade de visões, longe de ser ruim, desloca a Janela de Overton em direção à Direita. Dentre esses grupos, o que mais se organizou e conseguiu visibilidade foi o MBL (Movimento Brasil Livre).
Independente de se concordar com tudo ou parte do que o MBL faz ou defende, não há como negar a importância desse movimento na organização das manifestações de 2015 em diante. Essa importância é tão clara que a Esquerda elegeu o MBL como “o inimigo a ser batido”, divulgando uma série de mentiras a respeito do grupo e seus integrantes e o chamando de “extrema-direita”. Por outro lado, os bolsominions, irritados com críticas feitas por membros do MBL a Bolsonaro, elegeram o MBL como sendo “esquerdistas” que visavam roubar votos do único candidato que eles respeitam: Bolsonaro.
O MBL nunca teve vergonha de mudar seus apoios. Quando a questão era escolher entre Doria e Haddad, o grupo não teve dúvidas em apoiar o empresário. Porém, quando Doria começou a tomar decisões claramente contrárias a tudo que ele defendeu anteriormente, o MBL o criticou e, finalmente, rompeu o seu apoio ao prefeito. Essa mudança de posicionamento mostra uma maturidade política, uma vez que as alianças e apoios devem ser sempre reavaliadas.
Enquanto isso, seguidores de Bolsonaro fazem questão de ignorar a atuação do vereador Fernando Holiday, que defende diversos pontos idênticos aos defendidos por Bolsonaro. Aliás, ele vendo as posições do MBL em questões relativas à moral e ao marxismo cultural, como no caso da performance com o homem nu ao lado da menina. Nesse sentido, seria até possível ver esse grupo apoiando Bolsonaro num eventual governo.
Paralelamente a isso, alguns analistas políticos da internet eram alvo de ataques se, por algum motivo, não aplaudiam qualquer atitude de Jair Bolsonaro. Um desses analistas escrevia sob o pseudônimo de Luciano Ayan. Devido ao tipo de trabalho que fazia no seu dia-a-dia, Luciano optou por escrever sob pseudônimo. Isso é muito diferente de escrever sob anonimato. Tanto que Luciano chegou a lançar um livro, “Liberdade ou morte”, por uma editora profissional, coisa impossível de se fazer sob anonimato. No passado, a imprensa teve Stanislau Ponte Preta (Sérgio Porto) e o Barão de Itararé (Apparício Torelly), ambos pseudônimos utilizados nos seus artigos. Até o Imperador Dom Pedro I escrevia no jornal O Analista sob o pseudônimo de “O Verificador”, onde fazia críticas aos portugueses que moravam no Brasil.
Devido a críticas de Luciano a certas posições de Olavo de Carvalho, este também se irritou com o aparente “anonimato” de Luciano, chegando a tentar descobrir sua real identidade, não conseguindo esse objetivo entretanto. Na época, alguns olavetes (que não são todos os alunos/admiradores de Olavo, mas um grupo que parece trabalhar para espalhar má fama para o filósofo) tentaram descobrir a identidade de Luciano, também sem sucesso.
Luciano era responsável pelo site e página do Facebook, Ceticismo Político, que defendia justamente que as pessoas não deveriam confiar cegamente nos políticos como os bolsominions fazem. Isso atraiu ainda mais o ódio sobre o analista político.
Os bolsominions dão munição à Esquerda
Esse equilíbrio instável foi quebrado por uma pessoa: um seguidor tanto de Olavo quanto Bolsonaro, chamado Rafael Libardi. Sabe-se lá como, ele conseguiu descobrir o verdadeiro nome de Luciano Ayan, Carlos Augusto Afonso. Essas informações, assim como uma foto que Libardi obteve de Carlos Afonso, foram divulgadas e compartilhadas por diversos olavetes e bolsomions. Isso, enquanto o PSOL ganhava mais e mais espaço na mídia e esta começasse a defender Lula de forma descarada. Nada disso pareceu incomodar aos seguidores de Bolsonaro. Todos os problemas do Brasil eram causados por Luciano Ayan e MBL.
Coincidentemente, a mídia esquerdista utilizou os MESMOS dados divulgados por Libardi num ataque indireto ao MBL, utilizando o site Ceticismo Político como alvo primário e o MBL como alvo secundário. Assim, os mesmíssimos dados divulgados por Libardi, inclusive a foto, começaram a aparecer no UOL e Globo. Para atacar o MBL, utilizaram uma “pesquisa da USP” inexistente (já desmentida pela própria USP) que afirmava que o MBL seria o principal divulgador de Fake News. Adicionaram a isso uma postagem de Luciano Ayan no Ceticismo Político que, citando a jornalista Mônica Bergamo, relatava, sem corroborar, a declaração da Desembargadora Marília Castro Neves sobre Marielle ter sido morta por vingança do crime organizado. A postagem, trata as declarações de Marília como se fossem uma ironia e usa o termo “quebra de narrativa”, principalmente ao mencionar o fato de que foi levantada a hipótese de que Marielle talvez não tivesse sido vítima de um crime político. Ou seja, eram fatos, acompanhados de uma análise. A desembargadora realmente fez as declarações que fez, portanto não era Fake News.
Mesmo assim, o Jornal O Globo entrou em contato para questionar o MBL (que havia republicado o post original). O jornalista foi informado que a fonte da notícia era Mônica Bergamo e, mesmo assim, publicou matéria acusando o Ceticismo Político de espalhar Fake News.
Praticando o que há de mais baixo em termos de jornalismo, O Globo, UOL e vários outros meios tradicionais, espalharam a mentira de que o site Ceticismo Político teria divulgado fake news (ignorando Mônica Bergamo) e o ligaram ao MBL com a informação divulgada por Libardi de que Carlos Afonso seria sócio de uma dos diretores do MBL em uma empresa (o que obviamente não o liga ao MBL, mas a uma pessoa somente).
O cartunista Zappa resumiu bem o problema. “Em minha opinião, o que se tenta chamar de ‘as Fake News’ (assim como a tentativa de combatê-las) nada mais é do que o esforço dos meios tradicionais de comunicação em parceria com a classe política e grandes conglomerados comerciais em MONOPOLIZAR A MENTIRA que os carregou inteiros abastecidos de poder político, discursivo e financeiro até hoje.
É como se uma mentira (ou a relativização de um fato às conveniências do patrocinador) só pudesse ser repetida por quem tem a ‘credibilidade’ de um bom cenário (de mentira) inserido sobre um fundo verde, ancorado por textos formais, lidos roboticamente por ordens que vêm de um engravatado de cima.
As ‘fake news’ são traduzidas pelo ódio à desconfiança dos atentos, pelo medo da voz de quem passa a ser ouvido e pelo desespero dos mentirosos em perder o posto de ‘donos da verdade’.”
O real motivo
Há poucos meses, diversos membros do MBL divulgaram que pretendiam concorrer a cargos públicos nas próximas eleições. Curiosamente, as mesmas pessoas que adoram um deputado que está na política há quase 30 anos, criticaram esses integrantes do MBL por quererem “se tornar um partido político”. Alguém em sã consciência tem dúvidas de como seria bom se, para cada parlamentar do PSOL tivéssemos um do MBL para contrabalançar?
Os objetivos da Esquerda em tentar criminalizar o MBL iniciando com a criminalização das atividades de Luciano Ayan (chamado de “perfil falso” somente por usar pseudônimo) e retirada por parte do Facebook da página Ceticismo Político são claros. Se essa mentira de que o MBL é o grande divulgador de fake news colar, a página do MBL também poderá ser cancelada justamente nas vésperas das eleições, o que nitidamente atrapalharia as pretensões de eleger alguns representantes.
E os bolsominions são tão tacanhos que comemoraram a suspensão da página Ceticismo Político inclusive espalhando a mentira de que ela teria afirmado que Marielle teria ligações com o crime organizado. Tive a infelicidade de ver bolsominions e algumas páginas compartilhando a “notícia” de que Carlos Afonso teria sido autor de fake news, proveniente dos mesmos meios de comunicação que costuma mentir sobre Bolsonaro, distorcendo suas declarações. Usar páginas claramente de esquerda como fonte é uma forma de validar essas páginas. Poucos dias depois, duas páginas de apoio a Bolsonaro foram suspensas pelo Facebook e esses mesmos bolsominions estavam chorando e reclamando de censura…
Dois grupos, dois comportamentos
Enquanto os bolsominios e olavetes se deliciavam com os ataques da imprensa oficial ao MBL e Luciano Ayan, Olavo de Carvalho ficou gravemente doente. E o que vimos? Pessoas ligadas ao MBL, críticos do Olavo, críticos de Bolsonaro, todos desejando uma pronta recuperação ao professor, deixando de lado suas diferenças e até admitindo a sua importância no processo pelo qual o país vem passando. O mesmo ocorreu quando Bolsonaro pai foi denunciado por injúria racial por um comentário sobre o peso de um quilombola (afinal, foi injúria racial ou gordofobia?) e Eduardo Bolsonaro foi também denunciado pela PGR que acolheu uma denúncia de uma mentirosa compulsiva psiquiatricamente diagnosticada. Carlos Afonso, o ex-Luciano Ayan, saiu em defesa tanto de Jair Messias quanto Eduardo, assim como vários integrantes do MBL.
É isso que esses seguidores fanáticos de Bolsonaro e Olavo precisam aprender! Não é destruindo grupos que podem não estar tão a direita quanto eles, mas que não são nenhum PSTU, PSOL ou PT, que eles deslocarão a Janela de Overton para o seu lado, muito pelo contrário. Hoje, temos 2 Bolsonaros respondendo a denúncias no STF e a senadora Gleisi Hoffman conclamou os países islâmicos a defenderem Lula sem que nada tenha ocorrido contra ela. O MBL está questionando essa atitude de Gleisi. Mas se a Direita não tivesse dado munição à imprensa esquerdista para esse ataque ao MBL, com certeza o questionamento teria mais impacto.
Não há necessidade de nenhum dos lados amar o outro, mas respeitar e não tentar a destruição de um grupo que pode vir a ser até um aliado no futuro.