SUPRAPARTIDARISMO: nasce uma nova tendência política?

Estas eleições municipais viram, senão o nascimento, mas o fortalecimento de uma nova tendência no cenário político nacional que são os grupos suprapartidários. Por grupos suprapartidários entendamos como um grupo de políticos que compactuam com os mesmos ideais independente de quais legendas políticas eles estejam filiados.

Como representantes mais destacados temos o MBL – Movimento Brasil Livre – que participou ativamente dos movimentos de rua para o impeachment da agora ex-presidente Dilma Rousseff; temos o RAPS – Rede de Ação Política pela Sustentabilidade – uma espécie de dissidência do Partido REDE; temos a Bancada Ativista – que esta restrita a ações para a Câmara de vereadores de São Paulo; temos a UNE – União Nacional dos Estudantes – que embora não reivindique nenhum candidato para si teve vários líderes e ex-líderes tentando candidaturas Brasil afora e temos também o VPR – Vem Pra Rua – que também participou ativamente dos protestos pela deposição de Dilma e não lançou candidatos oficiais, mas muitos dos seus integrantes lançaram-se utilizando-se da pecha de serem membros do VPR.

Todos eles tem em comum o fato de não serem partidos políticos e sim movimentos cívicos, ou seja, organismos suprapartidários que agregaram candidatos tanto a vereadores como a prefeitos que comungam das mesmas ideias que o grupo, mas que tem legendas diversas. É óbvio que temos, grupos suprapartidários, mais a direita no espectro político como o MBL e o VPR, outros mais à esquerda como a Bancada Ativista e a UNE e àqueles que se declaram ao centro (com uma tendência à esquerda claro) como o RAPS.

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1 – Fernando Holiday – um dos líderes do MBL e eleito vereador pelo DEM em São Paulo 2 – Sâmia Bonfim – uma das líderes do “Fora Temer” e membro do grupo Bancada Ativista eleita vereadora pelo PSOL em São Paulo 3 – Janaína Lima – uma das líderes do VPR e membro também do RAPS foi eleita a 1ª vereadora pelo Partido NOVO em São Paulo 4 – Gustavo Petta – ex-líder da UNE foi eleito vereador pelo PCdoB em Campinas

O interessante é analisarmos não os candidatos em si, mas o que este movimento suprapartidário vem a ser e qual a importância dele, tanto para o futuro do país como para o futuro das legendas políticas.

Durante as manifestações pró e contra o impeachment da Dilma vimos que, de ambos os lados das trincheiras, havia um sentimento de descrédito a “tudo isso que estava aí”, sendo o representante mais palpável disso os partidos políticos que não demonstravam a representatividade que a sociedade exigia deles, onde para ficarmos em dois exemplos mais representativos o PSDB não era tão direitista como a turma da Direita gostaria e o PT não era tão esquerdista como a turma da Esquerda gostaria que ele fosse. E nessa crise de representatividade uma parte da sociedade debandou para o apartidarismo, desligando-se da política como um todo, e outra parte aderiu aos movimentos suprapartidários, que acreditam em ideais acima dos partidos.

A política brasileira tem movimento semelhante apenas no Congresso Nacional, onde nas suas duas casas, Câmara e Senado, temos o que chamamos de “bancadas”; a Bancada Religiosa, a Bancada Ruralista, a Bancada da Bala e etc. Tais bancadas são compostas por parlamentares que independente da legenda da qual são representantes possuem afinidades com outros parlamentares de outras legendas em assuntos comuns; tomemos o agronegócio como exemplo, se algum deputado federal ou senador lança uma proposta de lei (PL) que vá em desagravo aos interesses do agronegócio aí os parlamentares da Bancada Ruralista se unem a despeito da vocação dos seus partidos e votam em bloco para derrubar/mudar tal PL.

Agora enquanto a interação das Bancadas era mais interpessoal e os seus membros convivem no mesmo habitat; os membros eleitos pelos grupos suprapartidários, sejam vereadores ou prefeitos, geralmente são de cidades e até Estados diferentes no Brasil e não interagirão entre si a não ser em contatos virtuais ou encontros fortuitos marcados pela direção dos movimentos. Resta saber se eles ao longo dos seus mandatos manterão as diretrizes dos grupos que os ajudaram a se eleger ou votarão/governarão de acordo com as suas legendas de base ou pior de acordo com os seus interesses pessoais; e como agirão quando tiverem que decidir em seguir uma regra do grupo suprapartidário ou seguir uma indicação do partido ao qual pertencem? E aqueles candidatos que “pertencem” a mais de um tipo de grupo suprapartidário, o que acontecerá quando estes divergirem entre si?

Este é um experimento novo em curso no Brasil, que está apenas engatinhando e que gera mais dúvidas do que certezas, mas cabe a nós acompanhar, o desempenho desses políticos e dessa  nova forma organizacional da política que se vier a somar que seja bem-vinda, mas que se vier a descambar para velhas práticas políticas nefastas, que seja então logo varrida para a lixeira da história.

 

 

 

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