Durante as manifestações do meio do ano de 2013, ocorreu algo muito estranho. As manifestações começaram após o anúncio de um aumento da passagem de ônibus, da ordem de 20 centavos. O início dessas manifestações me pareceu ter sido insuflado artificialmente, já que eu me lembro de ver várias matérias na imprensa afirmando que esse aumento iria levar a uma despesa adicional de mais de R$ 200,00 para o pobre trabalhador. Era incrível ver amigos compartilhando essa “informação”, indignados, sendo que nenhum parou para fazer uma simples conta: 200 reais divididos por 20 centavos é igual a mil. Mil dividido por 22 dias (o número habitual de dias de trabalho num mês) é igual a 45,5. Ou seja, o trabalhador teria que pegar, por dia, 23 conduções para ir e 23 conduções para voltar para casa para que esse valor divulgado estivesse certo…
Os protestos começaram na cidade de São Paulo, convocados pelo tal Movimento Passe Livre, que defende que alguém pague por suas passagens, desde que não seja eles. Como, obviamente, nenhum ônibus, trem ou metrô anda de graça, eles querem que o Estado pague pela sua condução, porque isso seria um “direito do cidadão”. Não vou entrar na questão se é um direito realmente, porque o assunto será outro.
Após uma manifestação pequena na segunda-feira, na terça ocorreu um incidente. A Folha de S. Paulo mostrou fotos de um policial militar sozinho e aterrorizado sendo perseguido por alguns manifestantes, agredido e quase linchado. Os jornalistas presentes deixaram claro que o PM não havia feito nada de errado, exceto representar algo que algumas pessoas odeiam: a lei.
Essas fotos foram vistas por todos os PMs do estado e, na manifestação de quarta-feira, foi a vez dos policiais perderem as estribeiras, com agressões realmente abusivas aos manifestantes. Ninguém da imprensa relacionou uma coisa a outra, demonizando a Polícia Militar e o governo do Estado de São Paulo. Resultado? Na quinta-feira, as ruas não só da cidade de São Paulo, como de diversas capitais, estavam repletas com um número maior do que qualquer dia anterior. O resto é história. A cada dia, mais pessoas se juntavam em manifestações que mais pareciam ter um enredo: começavam calmas, com famílias, cantoria, bandeiras do Brasil e terminavam em quebra-quebra praticado por pessoas mascaradas. Pelo que a imprensa afirmava, esses mascarados apareciam por geração espontânea, pois insistia-se que os black blocs não tinham nada a ver com os manifestantes ou seus organizadores. Aparentemente, esses jornalistas nunca assistiram algum filme de super-herói para compreender que basta vestir uma fantasia que a pessoa comum pode agir sem ser reconhecida, no caso dos super-heróis para o bem, no caso dos black blocs para o mal e depredação…
Para meu espanto, vi diversos amigos meus postando fotos e até vídeos nessas manifestações. Uns eram a favor do socialismo, até mesmo imposto à força, enquanto outros eram empresários cansados de serem explorados pelo Governo. Na época escrevi diversos pequenos textos comentando isso. Que eu nunca iria a uma manifestação em que eu não soubesse exatamente o que se estava pedindo. Costumava-se dizer que “não era só pelos 20 centavos”. Então era pelo que?? O empresário, cansado de pagar impostos ia a uma manifestação onde se exigia transporte gratuito, que só poderia ser retirado de mais impostos. Colegas médicos foram lá exigir uma saúde de melhor qualidade. Como não se definia exatamente o que se queria, o que eles ganharam de presente? O Programa Mais Médicos, que já estava sendo preparado desde janeiro, mas que Dilma aproveitou as manifestações para apresentar como “resposta” ao pedido popular. Se você vai protestar e não sabe o que está pedindo, dá nisso. Ganha o que não queria…
A própria imprensa e a classe política pareciam não conseguir compreender como um simples aumento de passagem poderia ter levado a esse movimento absurdamente grande. Eu também não compreendia, até que ouvi um especialista, numa entrevista na TV, apresentar uma teoria que eu abracei e, hoje, defendo.
Ele disse que, nos últimos 11 anos de governo petista, a população não havia visto uma oposição verdadeira. Ninguém surgiu para apontar as medidas governamentais, mesmo que populares, e criticá-las. Isso não tinha precedente na história política do Brasil. Até em meio à implantação do Plano Real, com todos os resultandos positivos, o PT continuava a criticar o plano e tentar sabotá-lo. Mas o maior partido de oposição ao governo petista, o PSDB, com sua característica “bundamolice” (termo criado, se não me engado, por Olavo de Carvalho), parecia ter medo de se opor e ter maus resultados nas urnas. Com isso, o povo insatisfeito, não via nos políticos uma voz que o representasse. Diante disso, cada um resolveu se representar e gritar contra as coisas que ele não gostava e a favor do que achava certo, mesmo que ao lado de pessoas que pediam exatamente o contrário.
Porém a origem esquerdista dessas manifestações ficou clara quando em 2014, um ano eleitoral, ninguém mais protestou. A crise já se anunciava e nada de manifestações. O Movimento Passe Livre estava mais interessado que Dilma fosse reeleita do que em pedir o tal passe livre. Aqueles poucos que foram às manifestações de 2013 para pedir mudanças típicas de uma agenda liberal, como redução de impostos, não tinham o conhecimento (ou a força de vontade) para iniciar movimentos de protestos.
Após as eleições de 2014, seguindo o Livro de Jó, “tudo que mais temíamos, ocorreu”. Dilma nem esperou as urnas eletrônicas esfriarem para tomar as medidas que, repetidamente na campanha eleitoral, acusou Aécio de pretender fazer. Embora a Esquerda tenha se decepcionado, não podia sair às ruas protestando contra um governo que eles mesmos haviam apoiado com tanto fervor. Já as pessoas que foram contra Dilma, se sentiram traídas duplamente pois, além da medidas impopulares, ainda tinham que lidar com a presidente falando bobagens em seus discursos. Foi nesse ambiente que surgiu o MBL, o Movimento Brasil Livre, um grupo de jovens com propostas liberais (o termo neoliberal é uma invenção esquerdista, com conotação negativa, para designar todos que eles não gostam) que, juntamente com outros grupos como Revoltados Online; Vem pra Rua; MBL e MBR, resolveu convocar protestos ainda em 2014. Os primeiros, reuniram umas poucas pessoas debaixo do MASP (Museu de Arte de SP), mas em 15 de março de 2015, uma manifestação surpreendeu a todos, inclusive eles. Nunca esquecerei os jornalistas petistas da GloboNews gaguejando diante das cenas de avenidas totalmente tomadas por manifestantes. Embora parte da imprensa, particularmente a Folha de S. Paulo tenha tentado manipular os números de manifestantes, as imagens gritavam a verdade.
Mas aquilo que parecia ser um grande começo, foi perdendo força. As manifestações posteriores foram todas menores que a de 15/03/2014. A única grande vitória posterior, foi a criação do boneco do pixuleco, que transformou a imagem do ex-presidente Lula tanto no Brasil como no exterior. Mas, em termos de público, a coisa foi esfriando. E por que isso ocorreu? Ninguém sabe ao certo. Afinal, a popularidade de Dilma só caiu nesse período; a inflação e o desemprego aumentaram; os escândalos de corrupção só aumentaram e praticamente todos estão insatisfeitos.
O que direi é uma opinião MINHA. Que fique bem claro que respeito o MBL e acho que eles devem seguir o caminho que acharem correto e sou totalmente contra os ataques que grupos conservadores, dentre outros, estão praticando contra o movimento e seus integrantes, particularmente o Kim Kataguiri. Nosso foco é atacar a Esquerda e não ficar de picuinha uns com os outros. Cada um que siga a agenda que achar mais produtiva. Porém, o que acho que ocorreu foi o seguinte: lembram que falei que os protestos de 2013 foram fruto da perda da confiança do povo numa oposição eficiente? O MBL justamente se aproximou desse oposição, com reuniões com FHC, fotos com Eduardo Cunha, etc. Ninguém queria isso!! As pessoas queriam um movimento independente dos políticos, que pressionasse medidas através de protestos maciços. Alguém tem dúvidas de que as últimas decisões do STF, que deram um fôlego para o governo Dilma, teriam sido diferentes, se o prédio do STF estivesse rodeado de uma massa de centenas de milhares de pessoas? Mas os dirigentes do MBL optaram por pedir apoio dos políticos da “oposição bunda mole”.
Pior do que isso, o movimento se afastou dos poucos políticos que realmente representam uma oposição verdadeira ao governo petista. Assim é que não vemos os dirigentes do MBL com Jair Bolsonaro ou seus filhos, com Onyx Lorenzoni, Ronaldo Caiado, Marcel van Hattem ou Marco Feliciano. Muito pelo contrário, eles parecem não querer “se sujar” com nomes tidos como conservadores ou radicais. Não é à toa que esses políticos que citei são aclamados aonde vão e não vemos esse tipo de reação com nenhum outro político, inclusive do PSDB.
Não escrevo isso para fazer o MBL mudar de posição. Longe de mim querer me meter nas estratégias de um grupo que já levou mais de 2 milhões de pessoas à rua. Só registro aqui a minha opiniao sobre a sequência de fracassos das manifestações posteriores, inclusive a de 13/12, que foi utilizada pela Esquerda para tripudiar sobre aqueles que são contra o Governo federal.
Agora, com essa cisão entre liberais e consevadores, a Direita ainda está mais fragilizada. Perder uma disputa, pela força do oponente não é uma coisa ruim. Mas perder devido à nossa fraqueza, é triste.