Um dos sinais de degeneração de uma sociedade é o costume de se demonizar as suas pessoas de sucesso. Um dos sinais de recuperação dessa mesma sociedade é a volta da valorização dessas mesmas pessoas. O resultado das eleições em São Paulo parecem indicar essa tendência para o Brasil.
Durante as últimas décadas temos visto diversos políticos se vangloriando de sua origem pobre, de seus hábitos simples (mesmo que escondendo um estilo de vida caro às custas de dinheiro ilícito) e de sua pouca escolaridade. De repente, o desprezo por uma educação formal, mesmo quando suas condições econômicas já assim permitissem, se tornou uma garantia de que o político governaria para os pobres e ignorantes. Isso não deixou de ser uma verdade, visto que eles governaram para tirar seus parentes pobres e ignorantes da miséria. Não há necessidade de citar nomes. Todos sabem quem são e o que fizeram.
A óbvia contradição entre a exigência de concurso público para um almoxarife e a total inexistência de teste de capacidade para se governar uma cidade, um estado ou o país, parece nunca ter incomodado o brasileiro. Administrar um país parece ser algo fácil perto de gerenciar uma lojinha na cabeça das pessoas. As consequências foram óbvias. Toda a estabilidade econômica obtida anteriormente foi destruída ao longo de 13 anos de administração, incialmente de um presidente que se orgulhava de não gostar de ler e, posteriormente, de uma presidente que já havia falido uma loja de R$ 1,99.
Porém, aquela “Lua de Mel” da população brasileira com a glamourização da pobreza de espírito começou a acabar quando o desemprego começou a bater às portas dos eleitores do PT de baixa renda. Estes, logo compreenderam que não é possível tirar leite de pedras. Que nenhum administrador público pode ser bom, se não for capaz. Que os votos não dão capacidade ao eleito. Aos poucos, a população mais pobre foi enxergando o que havia feito, ao colocar incompetentes que acabaram com a economia, e abandonando o PT. Compreenderam que seus empregos sumiram por culpa de Lula e Dilma. A prova disso é que, atualmente, só defende o PT quem ainda mantém seus cargos públicos, seus empregos bem remunerados ou verbas da Lei Rouanet.
Nas décadas passadas, qualquer político que se apresentasse como próspero, bem nascido ou com cultura acima da média, seria desprezado pela população e perderia a eleição. Por um raciocínio torto, as pessoas tendiam a achar que o bom político era aquele vindo das classes baixas, com pouca cultura. Foi em cima desse fetiche que Lula cresceu. Políticos vindos de famílias tradicionais e riquíssimas como Eduardo Matarazzo Suplicy, tinham que agir como se tivessem nascido nas comunidades. Suplicy enganou muitos dessa forma e ainda engana. Sua total falta de experiência fora dos corredores do Shopping Iguatemi fica patente quando, toda vez que vai a algum evento popular, tem sua carteira roubada. Suplicy ainda acredita no bom selvagem.
A coisa chegou a um tal ponto que a candidata do NOVO à prefeitura do Rio de Janeiro, Carmen Migueles, chegou ao cúmulo de se dizer “de esquerda” por se preocupar com o bem estar dos mais carentes, como se fosse incompatível ser de direita e sensível às necessidades do povo ao mesmo tempo. Isso mostra como a visão da Esquerda como detentora do monopólio das virtudes é forte até em membros da Direita.
A luz no final do túnel surgiu após essas eleições para prefeitura de São Paulo. Ao tentar ser exposto como rico, bem nascido e empresário de sucesso, João Dória não optou por fazer a pantomima de Suplicy, fingindo uma simplicidade que não era sua. Assumiu publicamente sua condição de rico, de gestor competente, de bem formado. Não escondeu seus planos de privatizar uma série de equipamentos públicos que consomem dinheiro dos impostos e não devolvem nada à população mais pobre. O resultado? A população adorou. Isso mesmo! Acostumado a passar décadas ouvindo políticos mentindo sobre suas vidas simples, enquanto bebiam vinhos caríssimos e viajavam de jatinho, o paulistano simplesmente se surpreendeu ao ouvir um político admitir a verdade.
De nada adiantou Luiza Erundina tentar demonizá-lo afirmando que ele morava numa mansão, Dória admitiu isso e ainda citou de cabeça que pagava uma fortuna de IPTU. Essa sinceridade conquistou a todas as pessoas mais simples. Dória venceu Haddad em todos os distritos eleitorais exceto Pinheiros, bairro de classe média alta cheio de pessoas descoladas que acham que a solução para o trânsito de Sampa é fazer o pedreiro que mora em Guaianazes vir de bicicleta até o centro da cidade todos os dias.
Esperamos que, a partir de hoje, os políticos de direita assumam publicamente sua condição de defensores da privatização, da redução das benesses a poucos pagas com os impostos de muitos. Que ostentem com orgulho sua formação, sua origem e seus sucessos financeiros. Só assim, a população poderá começar a reconhecer isso como algo bom e não como um defeito de um político.