Desde que Collor usou um fato escandaloso do passado de Lula, no segundo turno das eleições de 1989, e conseguiu ser eleito, as campanhas eleitorais sofreram uma mudança radical no Brasil. Até então, a vida privada de um político podia até ser comentada em conversas, mas nunca utilizada em campanhas oficiais.
Porém, fatos lamentáveis do passado político de um candidato sempre foram usados como munição para ataques. Esses fatos podem envolver corrupção, decisões administrativas ou mesmo frases infelizes. Muitas vezes, a mídia exagera na reação a uma frase, devido a seus interesses políticos em apoiar outro candidato ou simplesmente prejudicar algum que não seja simpático a ela.
Um exemplo clássico é a frase “estupra, mas não mata”, dita por Paulo Maluf. Maluf disse essa frase, ao defender uma pena mais rígida, se não me engano a pena de morte, para estupradores que, além do estupro em si, matavam suas vítimas. Alguém, em sã consciência, consegue pensar que um político que propõe matar estupradores assassinos seja um apologistas do estupro? Claro que não! Porém, ao argumentar qual o objetivo de sua proposta, evitar que a vítima fosse assassinada após o estupro, ele complementou “estupra, mas não mata”. Foi o que bastou para que a Esquerda, ajudada pela mídia, transformasse essa frase numa apologia do estupro.
Anos se passaram e, novamente, vemos a mesma distorção de palavras, quando o “você não merece ser estuprada” sendo transformado em apologia do estupro. Por isso, hoje em dia, o político que não souber lutar a guerra política está condenado a ser trucidado por uma mídia que está longe de ser isenta ou inocente.
Essa é uma das críticas que faço a Jair Bolsonaro. Ele tem um estilo que agrada a alguns, porém desagrada a muitos. Se Bolsonaro não neutralizar o trabalho de desconstrução que a mídia faz, seu número de simpatizantes até pode aumentar até 2018, mas o número de pessoas que o rejeitam irá aumentar muito mais. A cada ponto que Bolsonaro subir das pesquisas, mais a mídia irá apelar para golpes baixos contra ele. Mas quem alimenta a mídia?
O triste é constatar que o próprio Bolsonaro fornece boa parte da munição contra si mesmo. Isso mesmo! Apesar das muitas mentiras e distorções divulgadas contra Bolsonaro, não há como negar que algumas das acusações são baseadas em declarações e atitudes dele mesmo.
Um político pode amadurecer e mudar de opinião? Claro que sim! E espero que a maioria deles o faça. Uma das coisas ridículas na maioria dos políticos de esquerda é vê-los utilizando o mesmo discurso da época da política estudantil, mesmo após se tornarem políticos ricos e pertencentes a uma elite sócio-econômica. Não vejo grande problema em Bolsonaro ter feito declarações realmente homofóbicas no passado, desde que ele deixe bem claro, hoje, que sua opinião mudou. Não é o que tenho visto. Bolsonaro é filmado abraçando gays, lésbicas e travestis com a mesma aparência daquele político que, em época de eleição, é filmado comendo um pastel engordurado e tomando um café doce e frio num boteco. Alguém com mais de 5 anos de idade acredita que esse político está gostando? Será que Bolsonaro está gostando desse carinho demonstrado pelos gays?
Tudo isso me passou pela cabeça ao descobrir um site especializado em atacar Jair Messias Bolsonaro. O pior do site é que ele é muito bem feito, incluindo em cada ataque, foto de uma ou mais notícia da grande mídia com a declaração ou atitude de Bolsonaro. Parodiando Nelson Rodrigues, podemos dizer que o passado de Bolsonaro o condena. Durante décadas, ele aparentemente não viu problemas em falar exatamente o que pensava, sem medir consequências. Isso lhe garantiu votações expressivas para o Congresso. Mas, ao mudar seu foco para a Presidência, ainda mais numa época onde os direitos das minorias se tornaram uma quase unanimidade, suas posições precisaram ser atenuadas e até modificadas. Porém o passado continua lá. Vejamos alguns exemplos.
O site tem várias “acusações”, que não são verdadeiras acusações. Por exemplo, Bolsonaro foi autor de um projeto de lei proibindo que a demarcação de áreas indígenas fosse feita em região de fronteira. Isso ocorreu logo após Collor criar a absurda reserva ianomami (já escrevi sobre os podres dessa reserva). O motivo é simples: as áreas de reserva indígena não podem ser ocupadas pelo exército, ou seja, uma área de fronteira do país fica totalmente desprotegida. Essa acusação contra Bolsonaro só depõe a seu favor.
O site mente descaradamente ao mostrar um recorte de jornal de 1988, quando Bolsonaro anunciou sua primeira candidatura. Entre suas ideias estava permitir a ligadura de trompas nos hospitais públicos em quem quisesse fazer. O site escreve que Bolsonaro defendia a ligadura de trompas compulsória. Desonestidade define…
Bolsonaro entrou com uma ação de inconstitucionalidade contra um projeto de criação de cotas para negros, indígenas, alunos de rede pública e portadores de deficiência. Por essas ações que Bolsonaro conquistou a admiração de muitos. Por ir contra o politicamente correto. Como sou contra cotas, embora ache que as empresas devam ser estimuladas (não obrigadas) a contratar deficientes.
A briga com Maria do Rosário nem merece ser discutida. Ela deveria ter sido processada por quebra do decoro parlamentar por ter acusado Bolsonaro de ser um estuprador. A culpa foi dele, por não ter tomado medidas imediatas contra ela. Deu oportunidade para que a ofensora se fizesse de vítima.
Em 1989, Bolsonaro apoiou Collor para a Presidência. Isso é mostrado no site como algo negativo. Só quem viveu na época sabe que Collor contava com um apoio imenso. Ser a favor dele não é nenhum demérito, a meu ver.
Outras partes do site apresentam políticos declarando que teriam sido ameaçados por Bolsonaro ou recebido ligações ameaçadoras que acreditavam ser a mando dele. Nada disso foi comprovado, inclusive um político do PDT (partido tradicional de esquerda) que o acusava, hoje é ministro do TCU.
Em 1994, um político do PMDB não eleito acusou Bolsonaro de ter usado verba do seu gabinete para se reeleger. O site reproduz essa notícia e já a dá como verdadeira, mas a própria notícia afirmava que, se isso fosse verdade, Bolsonaro perderia o mandato. Ele perdeu? Não. Então…
Também em 1994, Bolsonaro defendeu que o Congresso deveria ser fechado por absolver vários políticos corruptos indiciados por uma CPI. Isso é mostrado como uma prova do golpismo dele. Curiosamente, hoje, a Esquerda é que traz um discurso parecido, após o Congresso afastar Dilma.
Outra acusação recheada de viés ideológico foi quando Bolsonaro afirmou que o golpe militar na Guatemala seria justificável se realmente havia corrupção desenfreada e se todos os políticos houvessem se locupletado. Ou seja, não importa os reais motivos do golpe naquele país, os argumentos de Bolsonaro estão corretos e essa é também uma das funções das forças armadas no Brasil. Isso é previsto na Constituição. Acusá-lo de golpismo ou de ser antidemocrático é uma desonestidade.
Algumas acusações, mesmo que venham a ser verdadeiras, não me incomodam. Em dois recortes de jornal, há acusações de Bolsonaro ser um dos 52 deputados federais a empregar parentes no seu gabinete. Uma delas, mostra uma lista de parlamentares com parentes empregados na Câmara. Coisa curiosa é que, para muitos outros parlamentares, a reportagem coloca o grau de parentesco e vemos que o empregado tem o mesmo sobrenome do político. No caso de Bolsonaro, duas pessoas com sobrenomes iguais entre si, porém totalmente diferentes do sobrenome dele, são listadas e o grau de parentesco é colocado como “não informado”. Tive a pachorra de fazer uma busca pelo nome deles é, além daquela matéria de jornal, editais de concurso, não achei absolutamente NADA sobre elas. Ninguém nunca mais tocou nos nomes desse casal, algo muito raro quando algo escuso ocorre.
Eu, particularmente, tenho uma posição bastante distinta sobre o tal “nepotismo” no meio político. Se, um dia, eu fosse eleito, uma pessoa que poderia confiar plenamente e saber que faria um bom trabalho como assessora parlamentar seria minha irmã. Isso é nepotismo? O que seria errado é colocar um parente para NÃO trabalhar, mas recebendo salário, fato comum no meio político. Empregar um parente competente, a meu ver, não é imoral. Lembrando que três filhos de Bolsonaro seguiram a carreira política, ou seja, começar como assessor do próprio pai não parece absurdo.
Outra acusação do site é a reprodução de críticas feitas por Bolsonaro ao então Arcebispo de São Paulo, Don Paulo Evaristo Arns. Quem conhece a vida de Arns sabe que ele sempre defendeu esquerdistas, incluindo terroristas. Não vejo problemas em Bolsonaro criticá-lo. Os mesmo ocorre na crítica seguinte, onde se mostra que Bolsonaro acusou as entidades de defesa dos direitos humanos de só defenderem bandidos. Isso não é opinião só dele, mas de boa parte da população brasileira.
O outro lado…
Mas, para quem acha que esse artigo é uma defesa de Bolsonaro, lamento desapontá-los. Realmente, algumas passagens da vida de Bolsonaro precisam ser melhor explicadas por ele. E isso é urgente. É indispensável que, antes do início da campanha eleitoral de 2018, ele defina se alguns pontos são mentiras da mídia; posições antigas dele, que já não são as suas hoje ou se são a mais pura verdade. Os eleitores têm o direito de saber.
Em 2002, Bolsonaro apoiou o comunista Aldo Rebelo para o Ministério da Defesa, com a alegação de que Rebelo iria valorizar a carreira militar. Isso dá uma impressão muito ruim e corporativista para Bolsonaro. Então, desde que melhore os soldos dos militares, um comunista ligado ao Foro de São Paulo pode comandar nossas forças armadas?
Ainda em 2002, revoltado com FHC, por este ter apoiado o projeto de união civil homossexual, Bolsonaro afirmou que “não vou combater nem discriminar, mas se eu vir dois homens se beijando na rua, eu vou bater”. Entendem por que tantos gays o odeiam? Essa frase precisa ser “atualizada” por ele! Ele mudou realmente de opinião? Receberia um casal gay para um jantar em sua casa? Encararia como natural dois homens (ou duas mulheres) mostrando carinho em público? Desconfio que, mesmo que ele tenha realmente mudado de opinião, não diga isso abertamente justamente por saber que uma boa parte de seu eleitorado pensa, hoje em 2016, do mesmo modo que ele pensava em 2002. Ao não querer perder os votos dos conservadores mais radicais, perde os votos dos mais liberais.
Aliás, FHC nunca foi muito querido por Bolsonaro. Em 1999, o deputado declarou que o então presidente deveria ser fuzilado. Por essa declaração quase sofreu cassação do seu mandato. Antes que alguém diga que essa má vontades dele é por FHC ter sido um presidente de esquerda, lembro que Bolsonaro inicialmente apoiou Lula e relembro do apoio a Aldo Rebelo. Isso, para mim, é como alguém querer a pena de morte para um ladrão de galinhas, mas defender um serial killer.
Voltemos à questão dos gays. Bolsonaro teve a importância de ter denunciado o absurdo “Kit anti-homofobia” que, na verdade, seria um Kit Gay. Como deveria ser um verdadeiro kit anti-homofobia? Uma série de materiais voltados aos alunos heterossexuais, ensinando a importância de respeitarem colegas que sejam efeminados ou que declarem se interessar por pessoas do mesmo sexo. Mostrar grandes nomes da Humanidade que também foram gays ajudaria. Isso realmente evitaria agressões, piadas, bullying, etc. O kit, ao contrário, era voltado aos adolescentes que se sentissem confusos sexualmente, mostrando as “vantagens” de se ser bissexual, ensinando aos adolescentes que quisessem se vestir de mulher, que os professores eram obrigados a chamá-los pelo nome feminino, etc. Ou seja, o material não só não reduziria os atritos, mas poderia aumentá-los.
Mas não se pode negar que Bolsonaro fez, no passado, diversas declarações bastante desagradáveis em relação aos gays, como dizer, em 2010, que uma pessoa é gay por não ter apanhado o suficiente dos pais. Qualquer pessoa que conheça alguns gays sabe que isso não é verdade. Famílias extremamente rígidas têm filhos gays, como famílias mais liberais têm filhos heterossexuais. Se rigidez de costumes impedisse alguém de ser gay, não existiram gays em países Islâmicos, entre mórmons, amishes ou menonitas.
E hoje? Qual a opinião de Bolsonaro sobre os gays? Quando ele aparece abraçado a um gay, está pensando “Esse aqui não apanhou o suficiente” ou já mudou de opinião? Quando perguntado sobre isso, Bolsonaro responde de uma forma genérica, dizendo que tem gays no seu gabinete ou mostrando gays que apoiam sua campanha. É indispensável que ele diga qual sua opinião atual sobre o fato de alguém ser gay. Pode-se ser contra o casamento gay ou os movimentos LGBT, mas entender e respeitar os homossexuais. Se Bolsonaro não “exorcizar” essas declarações antigas, elas voltarão para assombrá-lo durante a campanha presidencial.
Uma das denúncias mais sérias é de 1987, durante o Governo Sarney, feita pela revista Veja. Numa primeira matéria, a revista revelou que Bolsonaro, na época um capitão do exército e conhecido por defender melhores salários para os militares, havia dito que militares insatisfeitos estariam planejando pequenos atentados, como explodir bombas em várias unidades da Vila Militar e até numa adutora de água. A entrevista foi feita com um acordo de sigilo, mas após a menção de atentados, a repórter abriu mão desse acordo e o denunciou (diga-se de passagem, essa atitude da repórter deu margem para uma grande discussão sobre a ética de se revelar informantes). Na época, que fique bem claro, Bolsonaro ainda era somente conhecido por sua luta em defesa de melhores salários, não sendo alvo de perseguição da imprensa como é hoje.
Bolsonaro e o outro capitão negaram a veracidade da reportagem e a revista publicou uma matéria bem extensa onde citou diversas testemunhas da conversa e mostrou inclusive croquis feitos por Bolsonaro mostrando onde seriam colocadas as bombas. Esse caso é, a meu ver, o mais sério. Bolsonaro foi vítima de uma difamação ou teve um plano terrorista revelado? Curioso lembrar que, embora Bolsonaro sempre defenda o regime militar, durante esse período, um militar que protestasse por um aumento de salário seria preso imediatamente, independente de estar planejando atentados ou não.
Essa última, a meu ver, é a mais séria acusação, visto que Bolsonaro sempre afirmou que os terroristas deveriam ter sido mortos e não anistiados. Recentemente, ele elogiou um Coronel que, alegadamente, teria torturado Dilma (não é o foco desse artigo definir se ele era ou não torturador e se Dilma algum dia foi torturada), mas essa ação de explodir bombas com o intuito de derrubar o Ministro do Exército ou forçar um aumento dos salários dos soldados o igualaria aos terroristas que tanto critica. De todas as acusações, essa é a que mais necessita ser esclarecida, embora todas as que listei na segunda parte do texto serão, inexoravelmente, usadas contra ele na campanha. Então, por que não começar a se explicar já?
Antes que alguém venha me chamar de esquerdista, gostaria de afirmar que procurei ser o mais isento nesse texto, defendendo o deputado onde achei que estavam sendo injustos, mas apontando onde esclarecimentos são necessários. Posso garantir que Folha de S. Paulo e UOL não serão tão bonzinhos assim. Quando quiserem destruir a candidatura de Bolsonaro, apontarão tudo isso como verdades irrefutáveis. Por isso ele tem que se adiantar e começar a neutralizar essas ações ainda agora.