Como ideologicamente passar da Esquerda para a Direita
É comum se falar de Esquerda e Direita, no Brasil, como se fossem etnias diferentes. Você é esquerdista e morrerá esquerdista. Nenhuma chance de, um dia, vir a se tornar direitista. Aliás esses, os direitistas, nascem em famílias abastadas onde a intolerância religiosa só não é maior do que o racismo e o ódio aos pobres. Como alguém, nascido de uma simples família de operários poderia vir, um dia, a me tornar direitista? Nem pensar!
Mas, estereótipos à parte, quero fazer um exercício aqui, voltado mais àqueles que se denominam de esquerda. Você se lembra quando foi que começou a se interessar por política e foi se posicionando mais à esquerda?
Talvez sua posição favorável à esquerda tenha surgido após ver como a classe trabalhadora ganhava mal, ou como os preços de produtos e serviços são tão proibitivos para esses trabalhadores, ou talvez pelos péssimos serviços públicos de saúde e educação prestados a eles. Seu gosto pelas ideias de esquerda pode ter sido precedido por uma revolta contra o Governo.
Por algum motivo, e desconfio que algum professor seu esteja por trás disso, você associou o Governo aos ricos e poderosos, portanto se revoltou contra eles também. E não está errado nisso. Mas quem são esses ricos e poderosos? Aí é que seu professor mentiu para você…
Na verdade, o nome certo da sua revolta contra o Governo é revolta contra o Estado. É o Estado que cria inúmeros tributos e taxas que fazem o salário de um trabalhador se reduzir a menos da metade do que seu patrão gasta. Se um empresário tem R$ 2.200,00 disponíveis para despender com um empregado, isso significa que esse empregado receberá somente R$ 1.000,00 de salário. O restante será gasto com taxas e tributos, sendo que nem todos irão reverter para o empregado no final.
Também é o Estado que faz com que os preços dos produtos e serviços se tornem inacessíveis ao pobre. Todo mundo já ouviu falar que é necessário usar protetor solar para evitar câncer de pele, não é? O Governo chega a fazer campanhas sobre isso. Mas você vai comprar um protetor solar e quase cai de costas com o preço e culpa essas indústrias farmacêuticas gananciosas que querem lucrar com a saúde do povo não é? Pois saiba que 50% do valor de um protetor solar são impostos. Ele custaria simplesmente a metade do preço se o Governo não cobrasse impostos sobre a tentativa de não morrer de câncer de pele dos cidadãos que sustentam esse mesmo Governo.
Ninguém está dizendo que não deveria haver impostos sobre produtos, mas 50%?? E sobre um item que envolve saúde? O argumento para os altos impostos sobre cigarro e bebidas é o desestímulo ao consumo. E o argumento para os altos impostos sobre remédios, seria o mesmo?
E, ao contrário do que você pensa ou seu professor te disse, os ricos e poderosos não são os empresários e industriais, ou pelo menos não são todos. O sistema político brasileiro, que muitos chamam de capitalista não tem, na verdade, nada de capitalista, mas protecionista. Ele sempre funcionou assim: o Estado, na figura dos seus três poderes, torna a vida dos empresários e industriais um inferno a menos que eles sejam “amigos”. Essa amizade pode representar apoio político, propina ou simplesmente amizade mesmo.
A história do Barão de Mauá é um exemplo. De nada adiantou ele ser um pioneiro, competente, visionário. Incomodou o Governo, incomodou os amigos do Governo, foi destruído. Isso se manteve em TODOS os governos, inclusive os petistas com seus Eike Batista, suas Friboi e Odebretch. O que muda, e às vezes nem isso, são os empresários beneficiados, sempre uma minoria, enquanto a maioria pena pagando altos impostos, altos juros de financiamento e tendo toda sorte de regras e normas burocráticas a cumprir. Aquele dono de indústria que você vê e acha que é um “tubarão” pode não ter uma noite de sono tranquilo há anos por culpa do Governo.
Então, se você pretende ser honesto e justo, precisa saber diferenciar o “rico empresário que conseguiu crescer a despeito de todas as dificuldades” do “rico empresário que conseguiu uma mamata junto ao Governo e enriqueceu do nada”. Colocar ambos num mesmo balaio, é injusto. E já vimos que o empresário sério nem sempre pode pagar mais aos seus empregados porque o Estado criou dificuldades para isso.
E os péssimos serviços prestados pelo Estado? Uma das coisas mais difíceis para um esquerdista aceitar é que QUALQUER atividade que o Governo faça, seria feita melhor e com custo menor se fosse feita pela iniciativa privada. “Ah, isso é uma conversa! Veja esses preços!” Calma! Lembre-se que o Estado torna a vida das empresas um inferno colaborando para um aumento dos custos dos seus produtos e serviços. Numa situação ideal, o Estado se retira daquele setor da produção e também para de atrapalhar o setor com regulamentações absurdas e taxações.
Uma empresa privada quer clientes. Se tiver concorrência, ela irá tentar ou reduzir o preço ou melhorar a qualidade dos serviços ou produtos. Isso quando não faz ambos. Os mais jovens não se lembram quando as telecomunicações eram um monopólio estatal. Existia somente uma empresa de telefonia e era do Estado. Para se ter uma linha de telefone fixo você esperava uns três anos numa fila, mas só quando a empresa abria um “plano de expansão”, caso contrário nem isso. O preço de uma linha telefonia girava em torno de 5 mil dólares, que você pagava em suaves prestações por anos. Ah, e se você morasse na periferia da cidade, sua linha saia mais cara devido a distância. Portanto, os pobres eram prejudicados.
Quando se decidiu privatizar a telefonia, diversas empresas entraram em disputa. O que essas empresas queriam? Lucrar com a venda de linhas? Claro que não! Elas queriam um número imenso de clientes, todos fazendo ligações. Com isso o preço da linha despenca. Hoje, com qualquer 80 reais você tem, em uma semana, uma linha instalada na sua casa. O mesmo ocorreu com a telefonia móvel.
“Ah, mas o Governo se livrou dessas estatais a preço de banana.” Vamos analisar alguns dados. Os funcionários dessas estatais ganhavam bem, muitas vezes acima do mercado e ainda tinham estabilidade no emprego. Ao contrário de um funcionário de empresa privada, que sabe que pode ser demitido se não trabalhar direito, esses funcionários sabiam que não precisavam trabalhar bem. Isso levava a um inchamento do quadro, ou seja, mais funcionários do que seria realmente necessário. A folha de pagamento inchada e com altos salários levava a empresa a dar pouco lucro ou prejuízo ao Governo. Se dava prejuízo, até dar de presente essa empresa ainda seria mais vantajoso ao Governo do que mantê-la. Isso sem contar que, quando a empresa foi saneada, com a demissão do excesso de funcionários, ela passou a dar lucro e esse lucro rendeu impostos ao Governo. De uma fonte de despesas, a empresa se transforma numa fonte de receita. Viu como compensou??
Outras situações que podem ter te feito se revoltar contra o “Governo opressor”, como atuação das polícias, fiscalização corrupta, etc podem ser, na verdade, muito mais fruto do excesso de interferência do Estado na vida dos seus cidadãos do que “coisa do capitalismo opressor”. Procure conhecer um pouco mais sobre as ideias liberais (e pare de usar esse termo “neoliberal” que é invenção da Esquerda) e você verá que, talvez, você se identifique muito mais com elas do que com o socialismo. E dá pra ser liberal sem gostar de tucanos ou votar neles.