Há 2 anos estive no 2º Congresso Nacional do MBL e foi uma experiência maravilhosa. Assisti a palestras muito boas e que abriram minha visão da política nacional e mundial. Este ano, após um amadurecimento do MBL a ponto de voltar atrás e apoiar Jair Messias Bolsonaro já no primeiro turno, considerei que era hora de voltar a assistir a um congresso para ver que temas seriam abordados.
Esse último congresso teve mais o sabor de uma vitória após uma luta desigual, onde o MBL lutou não somente contra a Esquerda, mas também contra parte da Direita brasileira, que insistiu em dirigir suas baterias não contra o inimigo comum, mas contra outras vertentes da Direita (sempre com aquela alegação de que “não seriam verdadeira Direita porque não pensam exatamente como nós).
O sucesso estrondoso dos candidatos do MBL nos diversos estados, deu ao movimento uma sinalização de que eles estão no caminho certo. Se somente Bolsonaro tivesse sido eleito, mesmo que com o apoio do MBL, mas seus candidatos não, essa vitória soaria como um recuo ou até uma derrota.
Tudo isso estou dizendo para justificar que esse congresso não foi tão bom como o segundo. Se, naquela época, o importante era alimentar os jovens do MBL com informações que os capacitasse, hoje o que temos é um cenário de mudanças e o que precisou ser mais discutido foi que tipo de mudanças serão essenciais e o que podemos esperar do novo Governo.
Organização: algo a melhorar
Então, vamos às minhas impressões negativas.
Primeiro, o local. É incrível que um evento realizado no World Trade Center de São Paulo, tenha sido tão desorganizado. O 2º congresso foi no CREA-SP, num auditório bem menor, mas absurdamente mais confortável do que o desse congresso. Poltronas com braços, com uma “mesinha” que podia ser puxada para colocar objetos e uma tomada para carregar celulares e notebooks em frente a cada poltrona. Já no WTC o que tivemos foram cadeiras soltas e apertadas. No CREA existia um palco elevado, enquanto o palco do WTC era extremamente baixo e, muitas vezes, não víamos os palestrantes quando estavam sentados. O evento começou atrasado e atrasou o final da parte da manhã. Com isso fomos todos almoçar na praça de alimentação do shopping D&D que pertence ao complexo, porém as lojas não estavam preparadas para o volume (disseram 1500 pessoas, mas achei que tinha mais) de pessoas e todos atrasaram para voltar para as palestras da tarde. Curiosamente, o início das palestras da tarde não atrasou e muitas pessoas perderam o começo ou boa parte do painel que contava com Janaína Paschoal. Compreendo que o CREA não teria condições de abrigar esse volume de pessoas que foi 3 ou 4 vezes maior, mas o MBL precisa escolher um local melhor. Aliás, me pareceu que o MBL ainda organiza seus próprios eventos. Está na hora de contratar uma empresa especializada e deixá-la cuidar do que sabe.
O congresso foi aberto pelo Renan Santos, que melhorou demais como orador. Embora tenha um timbre de voz que me irrita, ele teve uma evolução muito grande na oratória. Falou abertamente sobre os desafios e, inclusive, deixou claro que ainda não se sabe qual o futuro do MBL. Se irá se tornar um partido ou um grupo que poderá participar da política por mais de um partido. Por falar em evolução, eu fiquei impressionado em ver a maturidade que o Kim Kataguiri adquiriu em somente 2 anos. Ele, hoje, fala com uma segurança e correção de posições que surpreende pela pouca idade. E olha que eu não simpatizava com ele no começo…
Palestras e painéis
Mas vamos às palestras. Na verdade, tivemos uma mudança do formato em relação ao 2º Congresso. Naquele, tínhamos uma maioria de palestras simples, com abertura para perguntas no final. Nesse, o que predominou foram painéis onde 3 ou 4 convidados dividiam o palco falando do mesmo assunto, poucos minutos cada, com abertura para perguntas entre eles e, depois, para o público no final. Sinceramente, preferia do jeito antigo.
Tivemos uma falta, pois Rodrigo Constantino, que deveria integrar o painel sobre Imprensa, não conseguiu vir dos EUA. Foi substituído por Francisco Razzo, que era para ser somente o mediador e teve que falar no lugar de Rodrigo e não parecia estar muito à vontade na tarefa de última hora. Nesse painel ocorreu a única treta (que, inclusive, me envolveu) durante a participação do editor Carlos Andreazza, mas isso será assunto para outro artigo separado. Danilo Gentili, sempre me surpreendendo, prova que está mais conectado com a realidade que muito jornalista e analista político que se acha a última cereja do bolo.
O painel sobre Os Desafios do Congresso Nacional, com os deputados Paulo Martins, Sóstenes Cavalcante e Jerônimo Goergen, e senadores Luis Carlos Heinze Senador e Eduardo Girão mediado pelo Fernando Holiday (que estava meio apagado nesse congresso) foi um pouco morno porque foi integrado por políticos que sempre tomam muito cuidado com o que irão falar. Só o Paulo Martins que sempre fala o que pensa, sem se preocupar com votos.
Janaína Paschoal é um fenômeno. Participou de um painel com Guilherme Fiuza e Kim Kataguiri, que também foram ótimos. Ela é de uma didática, clareza, simplicidade e, mais importante, profundidade absurdas. Eu seria capaz de assisti-la falar por dias. Só não concordo com o posicionamento dela, contrário a processos por difamação e calúnia. Ela acha que é muito esforço e dinheiro dispendidos à toa. Eu concordo com Olavo. Quem for chamado de fascista tem que processar o acusador, visto que isso é crime previsto por lei. Miguel Nagib, do Escola sem Partido, fez isso e ganhou.
A palestra internacional foi muito interessante, falando sobre um assunto que muita gente desconhece (eu pelo menos) e abrindo nossos olhos para a influência do Pós-modernismo nos grupos de esquerda.
Para variar, a programação estava muito atrasada e o próximo painel sobre Agronegócios foi mais curto, porque Paulo Guedes tinha chegado e não tinha muito tempo disponível. Paulo Guedes falou tudo que os integrantes do MBL desejavam. Defendeu o liberalismo econômico, criticou o excesso de Estado e prometeu privatizações. Foi nesse momento que chega o Congresso uma visita inesperada: Salim Mattar, o recém indicado Secretário Geral de Desestatização. Mattar foi uma grata surpresa. Fala muito bem, de forma a passar sinceridade e entusiasmo.
No encerramento, Renan Santos fez um desabafo sobre o quanto o MBL sofreu de ataques, inclusive de bolsonaristas por defender seus ideais sem se preocupar com o senso comum. Foi uma fala que parecia estar entalada na garganta dele. Durante o correr do congresso os organizadores procuraram não entrar em atrito com os conservadores (sim, tinha muito eleitor de Bolsonaro lá que nem era liberal) evitando críticas ao Presidente eleito ou a seus apoiadores mais fanáticos, porém já no final, Renan se sentiu mais à vontade para lembrar dos ataques que o MBL sofreu quando foi à Brasília apoiar a reforma trabalhista e da Previdência, sendo chamado de vendido a Temer. Foi um encerramento muito emotivo e com razão.