O histórico de perseguição contra os cristãos não é recente. Acontece há mais de dois milênios e se multiplica em praticamente todos os continentes, sobretudo em países islâmicos e Estados comunistas totalitários que desconhecem valores fundamentais, como democracia, tolerância e liberdade. O simples fato de um indivíduo apresentar-se como cristão – aceitando viver de acordo com as escrituras da Bíblia Sagrada e crendo em Jesus como único filho de Deus – já é motivo para sua vida estar em perigo iminente em muitas nações ao redor do mundo. Há casos documentados de torturas, aprisionamentos, humilhações, marginalização e extermínio massivo contra a comunidade cristã, como se verá a seguir.
De acordo com a liturgia cristã, todos nós pertencemos, integramos o Corpo de Deus, porém quando parte deste Corpo é atingida, compartilhamos o sofrimento. A perseguição (seja sintomática ou assintomática) contra os cidadãos cristãos foi encabeçada inicialmente pelo Império Romano, nos quatro primeiros séculos, simplesmente por estes não se adequarem à estrutura organizacional palaciana e aos “costumes” politeístas à época. Destaca-se nesse contexto a figura do imperador Nero, responsável pelo incêndio a Roma onde muitas pessoas foram acometidas, atribuindo em seguida o ato aos cristãos. Logo, vieram outros imperadores como Domiciano, Trajano, Marco Aurélio, Décio, Diocecliano, que se encarregaram de difundir o paganismo, plantar histórias, julgamentos falsos e martirizar cristãos sob todas as formas: eram crucificados, açoitados, jogados às feras e por aí vai. No entanto, quanto mais havia cerceamento, mais o cristianismo se propagava e ganhava adesões, justamente pela decadência do legado greco-romano.
O martírio contra cristãos deu prosseguimento em impérios muçulmanos, sobretudo pelo Otomano, onde estiveram à margem. Merece destaque também a investida coordenada pela Turquia, que resultou no genocídio de mais de 1,5 milhão de armênios no início do século XX. Em governos seculares e comunistas, também houve acosso, inclusive na malfadada Revolução Francesa, gerando o fechamento de igrejas e o homicídio contra autoridades clericais; já em ditaduras de esquerda, a perseguição se deu com mais voracidade na ex-União Soviética, durante os governos de Vladimir Lênin e Josep Stalin, numa guerra contra igrejas, resultando no fechamento destas e na morte de milhares de clérigos e de milhões seguidores da fé cristã em gulags, os famosos campos de concentração à época, uma vez que incorporavam a doutrina marxista que prega que “a religião é o ópio do povo”. Tais arbitrariedades ocorreram no Vietnã e no Leste Europeu, e ainda sucedem na China e na Coreia do Norte.
De acordo com a organização internacional Portas Abertas, atualmente 100 milhões de cristãos são perseguidos no mundo em mais de 60 países. A entidade atua em vários destes países onde há riscos de intimidações, ataques, ameaças e execuções à vida dos cristãos – desprovidos de liberdade de culto para exercer sua crença -, de modo que desenvolve ações humanitárias, como distribuição de alimentos e de mantimentos em regiões longínquas e carentes (na Síria e no Iraque, por exemplo), evangelização da Palavra, capacitação profissional e projetos de educação para fortalecer a Igreja Perseguida, além de alcançar mais pessoas e disseminar os valores cristãos. Inclusive, o Portas Abertas lida com trabalhos missionários, contando com doações de voluntários que se sensibilizam com a causa.
Conforme o Portas Abertas, os 20 países mais perigosos do mundo para os cristãos são: Coreia do Norte, Iraque, Eritreia, Afeganistão, Síria, Paquistão, Somália, Sudão, Irã, Líbia, Iêmen, Nigéria, Maldivas, Arábia Saudita, Uzbequistão, Quênia, Índia, Etiópia, Turcomenistão e Vietnã. Ou seja, países comunistas e islâmicos onde os direitos humanos e as garantias individuais literalmente são vilipendiados e a censura do Estado abate a liberdade de expressão e o direito de ir e vir. Na Coreia do Norte comunista, por exemplo, só se pode fazer culto (obrigatório) à dinastia da família ditatorial Kim. É ilegal seguir o cristianismo em todas as esferas – por ser “ocidental” – sob pena de prisão, trabalho escravo e fuzilamento em campos de concentração por forças repressivas do país mais fechado do planeta. Já em países jihadistas, marcados por grupos terroristas xiitas e sunitas, há tragédias constantes que aniquilam massivamente os cristãos, como a carnificina contra cristãos em março de 2016, no Paquistão, com 65 mortos e mais de 300 feridos; as decapitações executadas pelo Estado Islâmico; o ataque contra um povoado no nordeste da Nigéria, em 2014, pelo Boko Haram, deixando mais de 100 mortos; os 220 mil cristãos assassinados na Síria, após a guerra civil, por causa da fé, segundo relatório; e muitos outros conflitos.
Diante desta realidade que acomete todos os continentes, onde estão os Direitos Humanos do Brasil e a Organização das Nações Unidas para propor ações conjuntas e repudiar estes massacres que se intensificam cada vez mais? Pressupõe-se que a referida Declaração Universal dos Direitos Humanos seja um marco que deva ser empregado com isonomia e sem ideologização à esquerda, não é verdade? Por que a grande mídia não se aprofunda na temática e lança um debate para compreender a problemática e expor o drama que atinge pessoas que só querem mais liberdade de consciência e de crença? Tais instituições, prevê-se, possuem papel social de informar e despertar a reflexão visando sempre ao interesse público, sem representar interesses relativistas. Há mais de 2 bilhões de cristãos no mundo, cujo legado foi e continua sendo indispensável para a construção de uma identidade fundamental para o florescimento da educação, do conhecimento científico e filosófico, da justiça, da cidadania, dos princípios democráticos, da evolução espiritual e, principalmente, da liberdade, como mostra o ensinamento a seguir: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).
“Se não podes entender, crê para que entendas. A fé precede, o intelecto segue” (Santo Agostinho).