Em relação à saída dos cubanos do Programa Mais Médicos, a população brasileira se divide em três categorias:
1 – Aqueles que discordam que médicos estrangeiros, sem diploma revalidado, trabalhem no país recebendo somente 30% dos seus salários, com os outros 70% enviados para a ditadura cubana.
2 – Os que defendem fervorosamente o programa por ter sido criado pelo PT, não importam as condições.
3 – E aqueles que, apesar de discordar das mesmas questões citadas no item 1, se preocupam com a falta de médicos nos “grotões” onde nenhum médico brasileiro quer ir.
É para esse terceiro grupo que estou escrevendo esse texto. É natural que tenhamos preocupação com pessoas que poderiam ser afetadas se nós defendermos certas posições.
Pretendo mostrar que o Programa Mais Médicos nunca passou de uma forma de enviar dinheiro dos pagadores de impostos brasileiros para a ditadura cubana. Algumas pessoas chegam a crer que parte desse dinheiro pode até ter voltado para o PT para auxiliar no seu projeto de poder, mas isso eu já não tenho certeza.
Assim que Dilma anunciou a intenção de trazer médicos estrangeiros para ocupar vagas que médicos brasileiros não ocupavam, “coincidentemente” a imprensa se encheu de matérias mostrando cidades que não tinham médicos, geralmente citando salários absolutamente irreais para o Brasil. Lembro de uma matéria de 2014 que mostrava uma cidade onde um hospital procurava um cirurgião com um salário de 35 mil reais e não conseguia.
É preciso ser muito ingênuo para acreditar que um salário de 35 mil seria rejeitado assim. As possibilidades são: nunca existiu essa vaga (alguém duvida que um jornalista favorável ao PT seria capaz disso?); a vaga existe, mas o valor pago não é esse; a vaga existe, mas para uma “equipe cirúrgica” e o valor é para remunerar cirurgião, assistente, anestesista e instrumentadora.
Porém, essas matérias na imprensa pavimentaram a narrativa de que médicos brasileiros seriam elitistas que não gostavam de trabalhar no interior. Obviamente, a matérias foram compartilhadas por todos os sites de esquerda mantidos com verba pública de publicidade, além de que os militantes virtuais comentaram em peso atacando os médicos brasileiros.
Logo em seguida, veio mais uma farsa. O Ministro da Saúde da época, Alexandre Padilha, anunciou que os médicos brasileiros teriam feito inscrição com dados falsos para sabotar o programa. Essa acusação nunca poderia ser provada, mas tem tudo para ser uma armação. Cada médico brasileiro tem um cadastro único junto ao Ministério da Saúde, chamado CNS (Cadastro Nacional de Saúde). Com esse número, o Governo tem acesso ao CPF, RG, registro no Conselho Regional de Medicina, tudo! Bastaria solicitar esse número e todos os dados estariam acessíveis. Será que a opção de solicitar cada número de documento separadamente foi somente incompetência ou friamente calculada para criar mais uma narrativa de “médicos brasileiros sabotando o programa”?
Hoje, o Programa Mais Médicos tem 16.852 profissionais, dos quais metade do total (8.332) são cubanos. Brasileiros constituem 4.525 desses profissionais. O Mais Médicos conta ainda com 3.725 intercambistas de outras nacionalidades. Não é estranho que, somente Cuba, forneça mais profissionais que todos os países que fazem fronteira com o Brasil, muito mais próximos do interior e, portanto, dos tais “rincões”?
As pessoas mais bem intencionadas podem fazer uma pesquisa e encontrarão vários casos de médicos brasileiros que se inscreveram no programa e foram rejeitados. Algumas pessoas podem alegar que esses médicos não queriam ir para o interior, então saibam que o município de Guarulhos, na Grande São Paulo, que é o segundo município mais populoso do estado, tem 28 médicos cubanos. Que médico brasileiro não iria querer atender em Guarulhos por 10 mil reais? Outro dado: a estância balneária do Guarujá, conhecida como “a pérola do Atlântico” tem médico cubano. Guarujá é rincão agora?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza, como parâmetro ideal de atenção à saúde da população, a relação de 1 médico para cada 1.000 habitantes. Para centros com uma rede de serviços bem estruturada, os técnicos defendem a ampliação deste parâmetro. De qualquer forma, a definição desta relação torna-se um importante recurso de mapeamento da distribuição de médicos no país.
No Brasil, a relação média observada de 1/622 habitantes está muito abaixo deste parâmetro devido à grande concentração de médicos ativos verificada nas regiões Sudeste (1/455 hab.), Sul (1/615 hab.) e Centro-Oeste (1/640 hab.). Somente as regiões Nordeste e Norte estão próximas deste parâmetro, apresentando relação média de 1/1.063 e de 1/1.345 habitantes, respectivamente.
A primeira vista, a análise indica falta de médicos no interior dos estados de Tocantins, Amapá, Rondônia, Acre, Amazonas e Pará (região Norte); Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia, Alagoas, Ceará, Maranhão, Piauí e Sergipe (região Nordeste) e Goiás, Mato Grosso (Centro-Oeste). Comparando-se, no entanto, estes dados com as relações médias observadas em suas respectivas capitais e com os percentuais de população e de médicos ativos, chega-se à conclusão de que somente possa existir carência de médicos nos estados do Pará, Amapá, Rondônia, Piauí, Acre, Tocantins (região Norte), Maranhão e Piauí (Nordeste). O problema dos demais estados citados acima está relacionado à má distribuição de médicos em seu território.
Então, as pessoas que integram o terceiro grupo, citado no começo do texto, devem estar pensando “mas são essas áreas que foram atendidas e que ficarão carentes agora”. Não é bem assim.
O objetivo real do programa era encontrar um pretexto para enviar bilhões de reais para Cuba. Por isso o valor pago era tão alto, comparado com os salários médicos do SUS. E por isso que não eram as prefeituras que pagavam os salários e sim o Governo Federal, pois eles sabiam que as prefeituras criariam falsas necessidades para substituir seus médicos (pagos pelo município) por médicos do programa. Inúmeros médicos foram dispensados pelas prefeituras, justamente para solicitar médicos do programa.
Na época da implantação do programa, eu trabalhava no SUS do município de São Vicente, litoral de São Paulo. Meu salário era de R$ 1.700,00, com acréscimos (que não contavam para fins de aposentadoria) chegava a R$ 2.500,00. Era esse o salário dos “médicos coxinhas que não querem atender pobre”. E continuei a receber isso, enquanto recebia encaminhamentos totalmente absurdos desses médicos cubanos, que recebiam R$ 10.000,00.
“Ain, por que você não aderiu ao programa então?” Antes de mais nada, o Mais Médicos não contratou especialistas, só clínicos gerais. Pergunte a qualquer pessoa que utiliza o SUS e ela irá te dizer que a grande dificuldade é se obter consultas com especialidades e exames, nem tanto com clínicos. Curiosamente, Cuba não exporta médicos especialistas, só clínicos gerais. Mas, o que qualquer esquerdista defensor da CLT concorda é que não é atrativo para um profissional brasileiro trabalhar 3 anos (a duração original do contrato do Mais Médicos) sem nenhuma garantia trabalhista (férias, 13º, FGTS) e podendo ser dispensado a qualquer momento. Para um cubano, que ganhará muito mais do que em Cuba, com acesso a coisas que não tem, é um ótimo negócio. Para um brasileiro, nem tanto.
Mas a prova máxima de que o Programa Mais Médicos não tem nada a ver com “médicos atendendo nos grotões desprezados pelos brasileiros” está nas figuras anexas. O programa reproduziu EXATAMENTE a desigualdade de distribuição de médicos pelas regiões brasileiras. Tirando o atendimento de comunidades indígenas (que chega ao absurdo de colocar um médico só para uma aldeia com 200 pessoas), que foi um dos cartões de visita do programa, as outras regiões do país continuaram com um número pequeno de médicos, a maioria concentrada nos grandes centros.
Se você ainda não foi convencido, lamento, mas você não pertence à terceira categoria, mas à segunda…