Quando se trata de aprender um novo idioma, muito se fala o quanto isso é difícil para os adultos ou pessoas mais velhas. Até existe um certo consenso, que quanto mais velho a gente fica, mais difícil se torna aprender uma língua, mas o que sempre é dito é que devemos estudar desde criança, se quisermos realmente nos tornar fluentes em uma língua. Podemos dizer, que em parte possa até ser verdade essa teoria.
Porém, esse meu texto tenta quebrar essa “ideia” de que adultos nunca vão aprender uma outra língua tão bem quanto uma criança.
Na verdade, é isso mesmo, adultos nunca vão falar tão bem quando uma criança! Nunca vão falar TÃO bem. Porém isso não quer dizer que não vão aprender, que são “naturalmente” incapazes, isso não!
Quando somos crianças, o nosso cérebro está em melhor harmonia com o entendimento de ‘simbolismo auditivo’ que quando somos adultos, e se perde uma grande quantidade desta capacidade a medida que vamos envelhecendo e também quando aprendemos nosso primeiro idioma. Inclusive crianças bilíngues tem o cérebro mais ágil e criativo.
Podemos aprender em qualquer idade
É possível aprender uma segunda língua em qualquer idade. Diz Michael Valenzuela, pesquisador do instituto Neuropsiquiátrico do Hospital Príncipe de Gales, em Sydney, na Austrália. “Aprender um novo idioma exige bastante em termos cognitivos e envolve muito trabalho mental de repetição, o que provoca no cérebro uma torrente de mudanças positivas”.
Existe também uma outra coisa importante: não existem pesquisas que comprovem que adultos são incapazes de aprender uma língua. Existem algumas pesquisas que comprovam apenas que fica mais difícil, já que a neuroplasticidade realmente diminui quando a pessoa envelhece. Há pesquisas também que evidenciam que é extremamente benéfico aprender uma língua depois de adulto, evitando até mesmo males como o Alzheimer, já que falar ou mesmo apenas estudar uma outra língua faz com que as sinapses trabalhem mais.
“A medida que vamos nos especializando em nossa língua materna, estas conexões do cérebro se fortificam e fazem diminuir a nossa sensibilidade para línguas estrangeiras” diz a especialista e cientista Madhuvanthi Kannan.
E também há estudos que apontam que aprender idiomas de forma intensiva ainda faz o cérebro “crescer”. Um estudo sobre isso foi publicado no jornal NeuroImage por pesquisadores da Suécia que afirmam: “partes do nosso cérebro crescem quando nos empenhamos em aprender uma língua estrangeira em um curto espaço de tempo.”, você pode ler mais aqui.
A neurocientista Ellen Bialystock, da Universidade de York, Canadá, passou quase 40 anos aprendendo sobre como o bilinguismo estimula a mente e sugere que falantes de mais idiomas apresentam maior capacidade de concentração e tornam-se mais distantes de demências como a doença de Alzheimer (CRAIK, BIALYSTOK et al., 2010).
Um novo remédio para o cérebro
Outro estudo interessante, o “A NEW REMEDY FOR THE BRAIN”, (“Um novo remédio para o cérebro”), afirma:
- É um preconceito pensar que o idoso é incapaz de aprender, pois pesquisas recentes estão fornecendo respostas que vêm de encontro a este pensamento. As mais recentes descobertas científicas comprovam que o cérebro humano é um órgão com surpreendente plasticidade, dinâmico, crescendo e mudando o tempo todo, porém, para que o processo de aprendizagem seja desencadeado é necessário entender a aprendizagem como um ato contínuo, também se estendendo ao longo de toda a vida do ser humano (LIMA, 2000; VALENTE, 2001).
- Alunos mais velhos têm sistemas cognitivos mais desenvolvidos, são capazes de fazer associações de ordem superior e podem integrar a entrada da nova língua com a sua experiência já substancial de aprendizagem. Eles também contam com memória de longo prazo, em vez da função de memória de curto prazo utilizada por crianças e jovens para a aprendizagem por memorização, por isso, os adultos têm capacidades superiores na aprendizagem de línguas (WALSH,DILLER, 1978).
- A nova realidade científica tem provado que o cérebro é um órgão em crescimento e mudança, por isso, podemos influenciar o funcionamento do mesmo (LIMA, 2001).
Ou seja, as dificuldades em adultos para aprender uma língua são mais evidentes pois utilizam diversas áreas do cérebro para o aprendizado, enquanto que em crianças se usa a mesma região da língua materna.
Porém dominar um segundo idioma vai além de melhorar o currículo e facilitar a comunicação em viagens. Os estudos mais recentes apresentam evidências de que aprender um novo idioma ao longo da vida é um fator que contribui para reserva cognitiva e traz grandes benefícios à memória, sendo um deles o retardamento da perda cognitiva causada pela doença de Alzheimer.
Dicas rápidas para aprender um novo idioma
Escute muita música no idioma que você quer aprender ou está estudando. E mais, cante junto! Isso ajuda a reduzir o sotaque e te faz “mergulhar” na língua.
Não fique apenas na leitura. Tente o equilíbrio entre leitura, ouvir música, ver filmes entre outras atividades no idioma escolhido.
Fale com estrangeiros ou pessoas que falam a língua que você está aprendendo. Sempre bom lembrar isso, e não é difícil encontrar pessoas para praticar, sites como italki, Go Speaky e Duolingo tem tudo para te ajudar nessa tarefa. Lembre-se: A prática leva a perfeição.
Viaje para o país que fale essa língua. Se possível, viaje para um país ou região que fale o idioma que você está aprendendo, será muito importante e não tem forma melhor de fazer imersão em outro idioma e cultura. (Muito melhor que qualquer curso de idioma).
Não pare de praticar. Parece óbvio, mas é bom lembrar. Se você aprender uma língua já adulto, tem que sempre seguir praticando, senão você vai esquecendo.
Aprender uma língua é um passaporte para uma boa qualidade de vida e saúde. É uma forma maravilhosamente rica e interessante de se manter o cérebro em forma e saudável.
BIBLIOGRAFIA
CRAIK, F.I.M.; BIALYSTOK, E.; FREEDMAN, M. Delaying the onset of Alzheimer’s disease: Bilingualism as a form of cognitive reserve. Neurology, 75, 1726-1729, 2010.
LIMA, M.P. Gerontologia Educacional: uma pedagogia específica para o idoso: uma nova concepção da velhice. São Paulo: LTr, 2000.
VALENTE José. Capítulo 1: Aprendizagem continuada ao longo da vida: o exemplo da terceira idade. In: KACHAR, Vitória. Longevidade, um novo desafio para a educação. 1ª ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2001, p.27-44.
WALSH, T. M.; K. C. Diller. “Neurolinguistic Foundations to Methods of Teaching a Second Language.” INTERNATIONAL REVIEW OF APPLIED LINGUISTICS 16 (1978):1-14.