Tendo crescido durante o regime militar, me acostumei a ver a imprensa mostrar uma extrema má vontade com o Governo para todas as suas atividades. Lembro-me das críticas à Transamazônica, a Itaipu, ao Metrô de São Paulo, etc. Aparentemente todas as ações do Governo durante o regime militar eram vistas como “esquemas escusos para desvio de verbas”.
A Nova República
O regime militar acabou e seus presidentes tinham patrimônios menores dos de qualquer professor de sociologia da USP. Os tais “esquemas escusos” ou eram minúsculos ou só existiam na cabeça dos jornalistas.
Ao longo de 3 décadas de regime democrático, o que vi foi o seguinte: os primeiros presidentes continuaram a serem alvos das mesmas críticas persistentes da Imprensa. Sarney, Collor e Itamar foram perseguidos, embora não fossem nem um pouco inocentes.
A eleição de FHC causou um racha dentro da Imprensa. Uma parte dela passou a tratar FHC como uma figura acima de qualquer suspeita, enquanto outra parte continuou seus ataques. Foi nessa época que um escândalo mostrou que diversos jornalistas estavam na folha de pagamento da CUT para, segundo a central, dar destaque aos projetos e interesses da CUT. Porém, a CUT sempre foi um braço do PT, portanto os jornalistas eram pagos para defender as pautas petistas (e atacar as pautas tucanas). Independente desses jornalistas pagos, uma quantidade apreciável de jornalistas sempre comungou com as mesmas ideias do PT.
Com isso, eu vi situações absurdas como um jornal da TV Globo, em pleno período eleitoral, entrevistar um “urbanista” chamado Nabil Bunduki que criticou duramente as obras viárias de Maluf e Pita, influenciando os eleitores contra esses políticos. Poucos dias depois, descobri que Bunduki era candidato a vereador pelo PT, ou seja, a tal entrevista não passava de propaganda eleitoral ilegal.
Essas entrevistas com “especialistas” que, na verdade, são militantes políticos se tornaram uma epidemia, particularmente na GloboNews. Todo entrevistado, se fizermos uma pesquisa por seu nome, é qualquer coisa menos isento.
O Petismo
A eleição de Lula deu início a um dos períodos mais sombrios desses 30 anos. E não estou falando isso pelo viés ideológico de esquerda dos governos petistas e muito menos pelos desvios bilionários de dinheiro público e de propinas. O que falo é algo muito mais profundo. Nesse período tivemos a implantação de um sistema que só existiu na Alemanha nazista, na Itália fascista, na União Soviética e em Cuba. Toda a imprensa, aquela que já defendia FHC e aquela que torcia pelo PT, se juntou em algo que, embora ainda com nome de Imprensa, tinha qualquer outra função menos informar.
Humoristas, acostumados a fazer piadas com Geisel, Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar e FHC, começaram a ser “alertados” que “Dona Marisa não gostou” ou que “o Presidente Lula não gostou” de alguma piada. A classe artística se rendeu totalmente e, junto com ela, os jornalistas fecharam os olhos para qualquer erro dos governos petistas, fossem eles técnicos, estratégicos ou simplesmente corrupção.
E como Bolsonaro foi eleito?
Ainda hoje, muitos se questionam como um candidato de um partido que era nanico; com 7 segundos de tempo no horário eleitoral; que não é um grande comunicador e que ainda terminou a campanha usando uma bolsa de colostomia, pode ter vencido não só todos os políticos e partidos poderosos, mas toda a grande mídia que deixou qualquer isenção – ainda que fingida – de lado e passou a atacar abertamente Bolsonaro.
De forma alguma irei tirar o mérito tanto de Jair Messias quanto da atuação nas mídias sociais de seu filho Carlos Bolsonaro. Provavelmente, um candidato com cara de político tradicional, como Alckmim ou Álvaro Dias, nunca conseguiria o mesmo resultado se levantasse as mesmas bandeiras.
Porém, o que tornou essa vitória ainda mais evidente (e a aprovação de 75%, ainda antes da posse, confirma isso) foi um trabalho intenso e eficiente da… Esquerda!!
Calma que não enlouqueci. Se o leitor procurar se recordar, irá concordar comigo sobre o seguinte: a sociedade brasileira nos anos 90 havia atingido um grau de liberdade até surpreendente para um país latino-americano. Um reality show elegeu, com voto popular, um homossexual assumido como vencedor. Na época, muitas pessoas, até mesmo aquelas que não aprovavam totalmente o estilo de vida dos homossexuais, concordavam que dois homens que construíram uma vida juntos, precisavam ter seus direitos garantidos. Não achavam justo que a família de um dos dois ficasse com os seus bens em caso de falecimento. Quando Cássia Eller faleceu, a opinião pública ficou do lado da sua ex-companheira pela guarda do filho de Cássia.
Essa liberalidade se expandiu para vários setores. Revistas de nudez masculina, inclusive com homens famosos, não só fizeram sucesso, mas eram assunto não mais exclusivamente do meio gay, mas das pessoas em geral. Minha tia frequentava uma cabeleireira que tinha essas revistas na sala de espera.
Isso foi fruto de um trabalho bastante lento, que começou ainda no regime militar e que, a meu ver, não tem nada de mau. Até compreendo que algumas pessoas não aceitem nem mesmo essas mudanças, mas minha posição é diferente. Mas a discussão aqui nem é essa.
Quando perderam a mão
Porém, a partir da virada do milênio, as coisas mudaram de ritmo. Não saberia dizer se a chegada do PT ao poder deu uma sensação de invencibilidade a setores progressistas da sociedade ou se foi somente coincidência, mas aquelas mesmas pessoas que haviam aceitado de boa vontade diversas inovações nos costumes, começaram a ver aquilo passar dos limites.
A mesma dona de casa que, anteriormente, comentava quem era o novo famoso na capa da G Magazine, agora lia que homens vestidos de mulher estavam lutando (e ganhando) na Justiça o direito de utilizar banheiros femininos. O mesmo pai de família que torceu por Jean Wyllys no BBB ou era fã de Cassia Eller, agora ficava sabendo que poderia ser demitido se não chamasse a moça de cabelo curto e que se acha homem pelo pronome masculino.
Os pais “super liberais” que sempre procuraram ensinar seus filhos e não serem preconceituosos, descobrem que seu filho agora é filhx, que um professor o induziu a ir vestido de saia para a escola para protestar contra o patriarcado machista.
Enquanto a mídia só falava de “homens que menstruam”, “mulheres com pênis”, “animais como filhos”, “cotas para todos os tipos de minorias, inclusive as que foram recém criadas”, o Brasil ia sendo dilapidado sem dó e sem nenhuma vigilância por parte da Imprensa. Os tais “esquemas escusos de desvio de verbas” que a Imprensa sempre buscou, finalmente estavam ocorrendo em todo lugar com a omissão da mídia. Paralelamente, a legislação brasileira passou a tratar as pessoas produtivas como bandidos e o bandidos como vítimas.
Até que essas pessoas, que se consideravam liberais e modernas, mas que tiveram seus limites ultrapassados, viram um homem. Uma figura isolada, detestada pela mídia, mas que dizia exatamente o que essas pessoas pensavam, mas temiam dizer em voz alta. Muitos se tornaram seus defensores abertamente, mas um número ainda maior decidiu, em silêncio, que iria votar nele. O resultado já faz parte da História…
E por que isso é bom?
Com a eleição de Bolsonaro, finalmente voltamos a ser um país onde a Imprensa vive de procurar falhas no Governo e denunciá-las. E isso é bom. Mantém o Governo sob observação. Um esquema como o Petrolão nunca ocorreria se a Imprensa tivesse se comportado assim nas administrações petistas.
É claro que ajustes serão necessários. A Imprensa ainda está se dedicando a espalhar fake news contra Bolsonaro, já que até o momento, só o escândalo do chofer pode ser usado. Cada escolha de Bolsonaro para um ministério sofreu críticas que não resistiram a uma análise mais profunda. Ao contrário das escolhas das secretarias de Doria e Eduardo Leite, que foram revoltantes, Bolsonaro surpreendeu até setores da Direita, que não esperavam nomes tão bons.
As primeiras medidas de Bolsonaro na Presidência precisam ser emblemáticas: eliminar o indulto de Natal e liberar a posse de armas darão uma mensagem sobre quem agora está no poder e quem será defendido agora pelo novo Governo. Nenhuma das duas medidas agrada aos progressistas, portanto deve vir chumbo quente aí. Vejamos como será a oposição da Imprensa a partir daí.