Os novos saqueadores

Durante o processo de evolução da sociedade humana, algumas coisas ocorreram que foram fundamentais para a criação da Civilização como a conhecemos hoje.
Logo após a Idade do Bronze, o homem primitivo foi abandonando a vida nômade e se fixando num só lugar. A agricultura e a criação de animais, tanto para o abate, quanto para a retirada de leite ou de lã, foram fundamentais para isso. Porém, outros fatores também contribuíram. Cada homem começou a se especializar em algo. Se antes, cada família fazia de tudo um pouco, a evolução da sociedade foi mostrando que pessoas diferentes tinham habilidades diferentes.

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Então, alguns se tornaram ótimos tapeceiros, embora péssimos agricultores. Outros aprenderam a retirar o máximo do solo, embora não soubessem criar gado. A especialização contribuiu também para a fixação do homem a um único local. Não era possível ser um bom ferreiro, montando e desmontando tendas a cada parada. Melhor ficar fixo num local, onde todas as ferramentas e condições necessárias para um bom trabalho estivessem sempre à mão.

Porém, mesmo quando a maioria da população já havia se fixado num local para viver, alguns indivíduos se mantiveram resistentes a essa fixação. Uma parte se especializou em algo que exigia deslocamentos frequentes: o comércio. Mercadores adquiriam bens num ponto e os vendiam em outro, onde esses bens era escassos ou inexistentes. Todo o processo de compra, transporte e riscos, resultava no aumento do valor do bem, ou seja, o lucro. Não era de se espantar que a profissão com maior risco fosse a de maior lucro.

Outra parte dos nômades não se fixava por não ter conhecimentos que permitissem a criação de gado sem a constante mudança de local de pastagem. Após esgotar uma região, procuravam por outra.

Porém havia outro grupo que igualmente se recusou a se fixar na terra e por um bom motivo: eles não produziam nada. Eram os salteadores, que saqueavam os povoados e os mercadores. Logo ao sair do Egito, o povo hebreu se deparou com um desses povos, os Amalequitas, que viviam de saques e assaltos aos povos vizinhos.

Se podemos dizer que a fixação do homem à terra foi um sinal de avanço no processo civilizatório, os nômades saqueadores representam uma resistência a esse processo.

Com o passar dos séculos, quase todas as regiões mais civilizadas do planeta foram sendo tomadas pela nova forma de vida, num local fixo, enquanto os saqueadores foram aos poucos sendo perseguidos, combatidos e substituídos por populações fixas.

Porém, se formos analisar uma nova tendência de nossa civilização, podemos ver que estamos voltando ao passado. A cada dia, a sociedade tem criado uma situação em que, aquele cidadão que está num local fixo, pagando taxas e impostos, gerando empregos e riqueza, é demonizado pelo Estado e pela mídia, sendo constantemente extorquido de seus bens para que uma outra parcela da população, que nada ou pouco produz, receba parte da riqueza que aquele cidadão gerou.

E o mais incrível é que a capacidade de gerar riqueza, de criar empregos, de ter sucesso profissional e financeiro foi transformada numa característica negativa, enquanto a incapacidade de se conseguir manter a si e a sua família da forma mais básica imaginável é transformada numa característica positiva. E, dentro dessa nova visão de mundo, é normal se pensar que aquele que teve sucesso – agora chamado de contribuinte – seja taxado para, com aquilo que foi tirado dele, aquele que não teve sucesso consiga ter um padrão de vida o mais próximo do primeiro.

Dispensando a este indivíduo até o esforço de saquear o outro, o Estado mesmo se encarrega de fazer o saque ao contribuinte, sob pena de multas e até prisão, e entregar a ele o produto do saque. E, ao contrário do que se poderia esperar, o indivíduo que mantém o Estado e os indivíduos beneficiados pelo saque, ao contrário de ser louvado por sua capacidade produtiva e por sua contribuição, ainda é constantemente transformado em vilão.

Essa vilanização do contribuinte produtivo acaba levando com que alguns dos indivíduos na outra ponta da sociedade, considerem até justificável se antecipar ao Estado e tomar, eles mesmos, o que “lhes é de direito”, através de saques reais, por meio do roubo, assalto, sequestro, etc.

A civilização antiga se formou, cresceu e se estabilizou quando os saqueadores foram devidamente contidos e punidos pelas leis. O que podemos esperar do futuro da nossa civilização se os novos saqueadores não só não são punidos e contidos, como são estimulados e elogiados?