O progresso socioeconômico invejável do Paraguai nos últimos anos
No imaginário popular brasileiro, por analfabetismo funcional, embrutecimento intelectual ou chacota execrável, determinadas camadas sociais sempre associaram todo o Paraguai à entrada da zona comercial de Ciudad del Este (a partir da Ponte da Amizade, fronteira com o cidade paranaense de Foz do Iguaçu), à pirataria de mercadorias ou à comercialização de maconha. Partindo desta premissa tosca, é como se São Paulo fosse restrita à caótica e perigosa Rua 25 de Março ou o Rio de Janeiro fosse associado à favela da Rocinha. Seria prudente se indivíduos de centenas de países fizessem essa analogia, sem nenhum tipo de embasamento científico, objetivo e lógico?
O nosso vizinho Paraguai vai muito além e suas potencialidades impressionam a quem recorre este pequenino país com um olhar aberto para sentir e absorver o que ele tem a oferecer. Inclusive, atualmente mais de 300 mil brasileiros vivem no Paraguai, sendo o segundo maior contingente de brasileiros no planeta que reside em outro país, depois dos Estados Unidos. Com mais de 6 milhões de habitantes e uma área de mais de 400.000 km², este notável país situado no centro-sul da América do Sul se destaca pela miscigenação entre diversos povos e por manter viva sua identidade cultural – um modelo para o mundo – ao fortalecer o idioma guarani, que, junto com o espanhol, é utilizado com intensidade na comunicação entre os paraguaios, sobretudo amparado pela Constituição paraguaia e ensinado nas escolas.
No que concerne ao espectro econômico, o Paraguai é reconhecido pela modernização na agricultura e na pecuária durante as últimas décadas. A soja é um dos principais produtos exportados e cultivados – o país é o quarto maior produtor de soja do mundo. Além disso, o Paraguai é o único país tropical exportador de trigo, o oitavo maior exportador de carne bovina, o maior produtor e exportador mundial de energia elétrica e o segundo país da América Latina com maior retorno de investimento (22%).
Desde que venceu as eleições presidenciais de 2013, o presidente Horacio Cartes, eleito democraticamente por 5 anos pela Associação Nacional Republicana – Partido Colorado, tem como mote de governo o empreendedorismo, a partir de um extenso canteiro de obras, e a atração de investimentos estrangeiros e do capital privado para aquecer a economia do Paraguai, tornando-a cada vez mais livre e competitiva. Em dois anos, o país recebeu investimentos de mais de 600 milhões de dólares e cerca de 80 novos mercados internacionais. Conforme o Índice de Clima Econômico na América Latina, o Paraguai é o país com um dos melhores climas para negócios no continente devido à baixa inflação (em torno de 4%), com mais de 100 pontos. Além disso, somam-se outros fatores que sopram a favor do Paraguai para o fomento desse boom econômico e a geração crescente de empregos: incentivos fiscais, parcerias público-privadas, simplificação tributária, capital humano (mais de 70% da população paraguaia é jovem) e respeito aos contratos. No ano em que o liberal econômico Cartes assumiu a presidência, o Paraguai teve um crescimento de 13% e só recuou por causa do reflexo da instabilidade político-econômica dos países vizinhos, como Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Venezuela, por exemplo, embora continue crescendo acima da média.
Contudo, dados do Ministério de Indústria e Comércio do Paraguai apontam que houve um crescimento industrial de 6,5% no governo Cartes, quando se compara a gestões anteriores. Tal superávit se deve à diminuição da burocracia e ao posicionamento de empresas paraguaias no tocante à abertura de novos mercados, através da competitividade do país em determinados segmentos.
Pensando na mobilidade urbana e na fluidez do trânsito, a frota de ônibus foi completamente renovada, com mais de 500 novos veículos com ar-condicionado circulando por Assunção e adjacências, excluindo paulatinamente as famosas “chatarras” (ônibus coloridos e estreitos obsoletos dos anos 60, 70 e 80). Seguem a todo vapor as obras urbanas de um projeto, encabeçado pelo Ministério de Obras e Comunicações, de ônibus de trânsito rápido (similar ao BRT) na região metropolitana de Assunção, através de um modelo de corredores energeticamente sustentável. O sistema tem previsão para ser inaugurado no final do próximo ano e, segundo estimativas, custou mais de 200 milhões de dólares, a partir de consórcios.
Gradativamente, o Paraguai tem buscado difundir suas belezas naturais (lagos, cachoeiras, morros, rios) e históricas para incrementar o turismo. Em Encarnación, por exemplo, acontece um dos maiores carnavais da América do Sul no mês de fevereiro de cada ano, cuja apresentação de escolas de samba e grupos folclóricos ocorre no sambódromo montado em frente à ‘Costanera’ (uma avenida com mais de 20 km de extensão às margens do Rio Paraná, onde se pode fazer caminhadas, pedalar e apreciar a paisagem do rio e a cidade de Posadas, na Argentina, ao outro lado, através da Ponte Internacional San Roque, que liga ambos os países). De Encarnación, é possível visitar as ruínas das missões jesuíticas (Santísima Trinidad e Jesús de Tavarangué), fundadas no século XVIII, onde os indígenas guaranis eram educados e evangelizados, contando com infraestrutura completa, como igreja, dormitórios, salas de aula, praças, jardim etc. Pelo excelente estado de conservação, a Unesco as declarou Patrimônio da Humanidade, em 1993.
Além disso, há outros atrativos, como o Lago Ypacaraí (homenageado até em canção). Ciudad del Este (terceira maior zona franca de comércio do mundo, que atrai turistas de várias nacionalidades para compras – desde muambas a artigos de luxo em grandes lojas de departamentos e shoppings), por exemplo, conta com parques e um setor pujante de serviços, além do recém-inaugurado Jesuíta Plaza, um dos mais sofisticados shoppings a céu aberto da região, famoso pelas grifes e setores de entretenimento. De lá, pode-se conhecer a história e parte das instalações da represa de Itaipu Binacional gratuitamente. Já a capital, Assunção, é conhecida por seu centro histórico restaurado, que conta com bonita e colorida arquitetura colonial, entre museus, teatros, galerias, mostras de artesanato guarani e edifícios majestosos, como o Palácio López, sede presidencial. Além disso, na cidade há ampla oferta de serviços com shoppings, restaurantes de ponta, pubs, discotecas e bares que exibem a frenética vida noturna assuncena.
Curiosidades
No Paraguai, existe um dos partidos políticos mais antigos da América do Sul: o Partido Colorado. Criado em 1887 pelo general Bernardino Caballero, tinha o objetivo de unificar o país e despertar o patriotismo na consciência dos paraguaios, anos após o massacre da Guerra da Tríplice Aliança, além de ideais conservadores quanto aos costumes. Os colorados governaram o país por muitas décadas, porém este ciclo foi rompido em 2008, quando os paraguaios apostaram em um governo comunista. Fernando Lugo, ex-bispo parceiro ideológico de Hugo Chávez, Fidel Castro e demais caudilhos populistas, conduziu sua gestão combatendo o agronegócio e o setor privado e, em contrapartida, defendia uma “reforma agrária” (leia-se coletivização). Tanto que, tempo depois, o Congresso, em votação transparente e cumprindo o rito constitucional, resolveu oficializar o Impeachment do comunista por mau desempenho de suas funções e abusos de poder, sobretudo no massacre em Curuguaty, conflito rural de disputa de terras em que ao menos 17 pessoas teriam morrido, além da insegurança nas fronteiras de grupos guerrilheiros de esquerda contra a polícia.