Em nossas peladas, rodas de discussão sobre futebol, nos fóruns, nas redes sociais, o assunto é inevitável: Quem é o melhor jogador do mundo: Cristiano Ronaldo ou Messi? Debate que exalta ânimos, que conduz o ser humano ao seu senso de estética, a rivalidade é impulsionada pela maneira como cada um de nós percebe o futebol.
Apenas para se ter uma ideia, apesar de futebol ser o esporte mais popular do planeta desde a década de 50, somente em 2015 o futebol teve um atleta como o mais bem pago do mundo: Cristiano Ronaldo. Mas… advinha quem foi o 2°? Exatamente. Lionel Messi.
Cristiano Ronaldo e Messi são tão bons mas tão bons que é impossível determinar qual dos dois é melhor apenas com base em dados. Diferente de Pelé e Maradona, por exemplo, em que Pelé possui muito mais gols e muito mais títulos que o segundo, escolher entre Cristiano Ronaldo e Messi é uma questão muito mais filosófica do que concreta. É uma questão de percepção.
Para o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), a percepção é obtida por meio da experiência, ou seja, advinda dos fenômenos. Para ele, Fenômeno é tudo aquilo que pode ser percebido por meio dos sentidos (tato, visão, audição, olfato e paladar).
Os fãs de Messi, em geral, percebem o jogador argentino como sendo um talento bruto, natural, especial, como se fosse de outro planeta. Boatos dizem que Messi tem um grau leve de autismo, isso por que aparenta estar sempre em outra dimensão, e justamente isso é exaltado pelos seus fãs e visualizado em seu estilo único de se jogar futebol. Apesar de ser o jogador com maior número de assistências da história do campeonato espanhol, em vários momentos parece que Messi está jogando sozinho, tamanha sua capacidade de dar arrancadas homéricas e driblar meio time adversário em sequência.
Já os fãs de Cristiano Ronaldo, o CR7, via de regra, percebem o jogador português como sendo uma força que avança, imparável, invencível, determinado, destemido. Cristiano Ronaldo é percebido como alguém que diz que vai fazer e faz.
A rivalidade entre eles se inicia justamente por ser difícil dizer em vias concretas quem é o melhor jogador do planeta. Quando falamos vias concretas estamos nos referindo àquilo que não cabe discussão ou opinião, à fonte primária do entendimento e da sabedoria: os fatos. No futebol, os fatos mais relevantes para seus admiradores são títulos, gols marcados e vitórias contra adversários difíceis.
Como jogador participativo, Messi possui 25 títulos profissionais, 4 a mais que Cristiano Ronaldo; no entanto, Cr7 possui 1 título improvável com a seleção portuguesa (Eurocopa 2016) enquanto que Messi nunca conseguiu ganhar nada com a tradicionalíssima seleção Argentina. Inclusive, tendo sindo derrotado em 4 finais.
No quesito gols, Cristiano Ronaldo possui 567, 39 a mais que Messi. No entanto, quando observamos a média de gols, Messi possui um aproveitamento melhor, de aproximadamente 0.80 por jogo, ao passo que Cr7 está com aproveitamento de 0.70.
Em relação a vitórias importantes, Messi é o maior artilheiro da história do el Clasico(clássico entre Real Madrid e Barcelona), enquanto que Cristiano é apenas o 3° maior marcador; no entanto, Messi nunca deu um título ao Barcelona num clássico, enquanto que Cr7 fez o gol do real no título da Copa do Rei de 2011. Além disso, Cristiano Ronaldo é o maior marcador da história do Clássico de Madrid, entre Real e Atlético. Enfim, qualquer opinião baseada exclusivamente nos fatos é inconsistente, ficando comprovado que qualquer preferência por um ou outro é baseada puramente na experiência de se assistir o futebol de ambos.
Muitos comentaristas e profissionais de futebol tentam analisar Cristiano Ronaldo e Messi de uma maneira maniqueísta, ou seja, os colocando em lados opostos e extremos. Dizem, por exemplo, que Messi é o símbolo do talento puro, natural. Já de Cristiano, dizem que é o ícone do futebol força, do futebol puramente físico, laboratorial. Ambas as análises estão equivocadas.
Em recente entrevista do lateral Daniel Alves, da seleção brasileira, ex-companheiro de Messi, ele afirmou: “o que eu mais admiro no Messi é o grau de competitividade que ele tem”. O Special One José Mourinho, em entrevista ao Diário Nacional de Portugal, disse que Cristiano Ronaldo era impressionante por resolver “com uma facilidade incrível os problemas, e às vezes são problemas tácticos complexos e difíceis de resolver mesmo por bons jogadores“. Quem vive de perto a realidade dos dois jogadores sabe que o dualismo de qualidades atribuídos a ambos é equivocado.
O sucesso e a chegada ao topo de ambos, no mesmo período (e que nós temos a sorte de acompanhar), não é fruto de características opostas, muito pelo contrário, eles chegaram lá com a mesma fórmula: muita dedicação, muito talento e muito amor àquilo que eles representam: o futebol.
Pra encerrar, como já estabeleceu Nietzche,“O que se entende por amor é bastante claro: não é apenas dedicação, é dom total de corpo e alma, sem restrição, sem nenhuma atenção para o que quer que seja. É a ausência de condição que faz de seu amor uma profissão de fé, a única que ela tem”.