O Ideal de Masculinidade, o Animus Junguiano, pode ser descrito como a expectativa que um homem seja forte, resiliente, racional, no controle, corajoso e honrado. Este ideal está, sem dúvida, em nossa herança cultural. E creio que um forte caso pode ser feito de que este é um dos Universais Humanos, ou seja, características que aparecem em quase todas as culturas e que, assim, podem derivar da própria Natureza Humana. Note que este ideal de Masculinidade é definido de forma independente de um possível Ideal de Feminilidade. Este outro ideal pode ser idêntico, estar em oposição ou simplesmente ser diferente. Um homem não se define de forma particular em seu relacionamento com o Feminino, mas com o mundo como um todo. Podemos falar de um possível Ideal de Feminilidade outro dia. Hoje quero falar do Ideal de Masculinidade.
O que me parece abundantemente claro é que não há nada errado neste ideal. Força é poder de realização. Resiliência é a capacidade de lidar com problemas e superar obstáculos. Ir à Lua e passar o inverno nas Ardenas em combate contra os Nazistas exige este tipo de pessoa. Dificilmente grandes realizações aguardam quem não é forte e resiliente.
Ser racional e no controle também são boas coisas. A repressão de emoções fortes ou a capacidade de fazer escolhas frias mesmo diante de fortes conflitos emocionais pode impedir que conflitos escalem e gerar soluções que sejam adequadas aos problemas.
A coragem, tanto física quanto moral é sem dúvida, um pré-requisito de qualquer sistema moral. Se o indivíduo consegue distinguir entre o certo e o errado, mas não age de acordo, por temer as consequências, então o que obtemos é um pusilânime e não um agente moral.
Um indivíduo honrado é aquele que é digno de confiança e respeito. Vou entrar um pouco mais no detalhe nesta característica. Em Teoria dos Jogos, com frequência, a solução mais prudente para cada indivíduo não é a que maximiza o resultado para este mesmo indivíduo ou para o grupo. Do dilema do prisioneiro, por exemplo, denunciar o parceiro é sempre a melhor estratégia, não importa o que o parceiro decida fazer. Mas a estratégia de nenhum dos dois denunciar o outro é a que gera melhor resultados globais, beneficiando ambos. Uma grande solução é introduzir um sistema de reputação no jogo. Estratégias adversariais são usadas com jogadores com reputação negativa e estratégias de cooperação são usadas com jogadores com reputação positiva. Estes resultados são transportáveis para a sociedade. Uma sociedade saudável, que seja mais que uma mera competição de indivíduos, precisa que a reputação seja um fator relevante e também que boa parte de seus membros se preocupe em ter boa reputação. Isto é obtido com a existência de homens honrados.
Não estou, evidentemente, dizendo que mulheres não possam ser fortes, resilientes, racionais, no controle, corajosas e honradas. Nem mesmo afirmo que estas características não têm participação importante no Ideal Feminino (embora pessoalmente ache que este Ideal prioriza outras coisas). Somente afirmo que, dentre uma grande quantidade de qualidades disponíveis para a humanidade, estas são usualmente listadas prioritariamente como aquelas que os homens devem perseguir, enquanto homens. E afirmo que isto é uma boa coisa. Precisamos de homens que obedeçam ao Ideal Masculino.
Observo, de passagem, que este Ideal é relativamente independente de sexualidade. Creio que Alexandre o Grande, que parece ter sido, pelo menos, bissexual, parece obedecer este ideal. Não é a homossexualidade em si, mas uma subcultura gay contemporânea, que gera um Jean Willys, e não um Alexandre, que parece gerar incompatibilidades com este Ideal Masculino.
Ora, em uma das inversões de valores que caracteriza a desprezível ideologia reformista que damos o nome, atualmente, de Esquerda, este Ideal Masculino é rebatizado como Masculinidade Toxica e colocado com raiz de todos os males, responsável por guerras e problemas sociais. Este tipo de coisa não merece muita reflexão. É melhor usar o deboche e simplesmente expor o ridículo da posição. O “argumento” típico usado pelos Esquerdopatas é mais ou menos assim: tem homem que se coloca como machão e bate em mulher, logo masculinidade é algo ruim. Qualquer um que se convença com algo tão rasteiramente errado não merece muita atenção.
O que eu quero expor, e isso pode ajudar a não cair em esparrelas dos reformistas sociais, são duas coisas: (1) a questão da formação de um homem segundo o Ideal Masculino e (2) aspectos possivelmente negativos deste ideal.
Quem é pai, ou educador, sabe que a formação de uma criança passa frequentemente por práticas estereotipadas e simplificações. Como treinar um menino para controlar suas emoções? É aí que entra o famoso “Homem não chora!”. É obvio que, para qualquer adulto, homem chora sim. Homens choram até em certas cenas no cinema (embora as vezes neguem). Participar do ideal masculino não é negar suas emoções, mas saber quando se entregar a elas e quando controlá-las. Mas não dá para dizer isso a um moleque de 5 anos que está berrando porque ralou o joelho. Um “homem não chora!” dito firmemente pelo pai dá justamente ao garoto a possibilidade de assumir o controle de sua emoção. Na verdade, o “engole o choro” da minha mãe tem efeito similar. Além disso, na emulação do pai, que de forma explícita e proposital demonstra, sempre que pode, para o garoto um comportamento forte, resiliente, racional, no controle, corajoso e honrado, o garoto também aprende estes valores.
Se me permitem contar uma estória pessoal. Quando meu filho ainda era bem novo eu tive uma queda no patim de gelo e quebrei feio o rádio e cúbito. Ele ficou muito aflito. Em determinado momento percebi que a dor era tanta que eu estava suando frio e poderia desmaiar e me preocupei com ele. Controlei a dor e disse: “Talvez eu acabe desmaiando. Isto é normal em caso de dor intensa. Preciso que você se acalme mesmo que isso aconteça”. Não desmaiei, mas a calma aparente que demonstrei gerou um impacto nele. Eu estava com dor pacas e queria mais fechar os olhos e ficar falando palavrão. Nesta situação é completamente desculpável você se entregar e deixar alguém cuidar de você. Mas “homem que é homem” tem que se controlar para mostrar ao filho o que “homem que é homem” faz. Porque justamente, estar na presença de uma criança impressionável é uma das situações em que os homens são treinados para se controlarem e serem fortes. E este treinamento passa por exageros, simplificações e um certo teatro.
Quero agora pensar um pouco se este ideal tem um lado negativo. A resposta é: não exatamente. Kant disse que “neste mundo, e até mesmo fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem qualificação, exceto uma só coisa: uma boa vontade”. A boa vontade de Kant deve ser entendida, não em seu sentido comum de solicitude ou ter uma disposição favorável em relação a algo, mas em termos filosóficos. Ela significa que alguém toma decisões conscientes que guiam suas ações e estas decisões são guiadas pela ética. Ora, é defensível dizer que um homem honrado e corajoso, que se preocupa com o bem de duas decisões e tem força e resiliência de agir conforme estas decisões é precisamente um homem com a vontade boa. O ideal masculino seria, então, bom sem qualificação.
O que pode ser ruim são distorções do ideal ou na formação das pessoas que tentam buscar o ideal. Por exemplo, em vez de um homem honrado que cumpre sua palavra e que se preocupa em criar uma boa reputação podemos ter a degradação de ter em um homem que se preocupe só com a reputação, de forma independente dela ser merecida ou não. E, claro, em vez de força e resiliência, que usa violência apenas quando esta é adequada, o homem pode identificar violência com masculinidade. Estas distorções são perversas e são reconhecidas como tais. Desde que me entendo por gente ouço que homem que bate na mulher não é macho, mas covarde. Perceba que um homem que perde o controle e ataca uma pessoa mais fraca está agindo de forma contrária ao Ideal de Masculinidade, em que força é dosada pelo controle.
Precisamos de mais homens que atendam ao Ideal Masculino. Precisamos olhar para a geração dos soldados que passaram o inverno nas Ardenas, cercados de alemães, e com pouco suprimentos e nos perguntarmos como pudemos criar a geração “snowflake”. Precisamos nos questionar como a autoimagem dos americanos, que se viam emulando John Wayne, degradou até eles passarem a se ver como Homer Simpsons. Precisamos entender como nossos pais passaram por dificuldades reais na vida, montando uma família e se responsabilizando por ela, e seus filhos passaram a não ter estrutura emocional para resistir a primeira crise no casamento ou no trabalho. A causa raiz de todas estas questões passa pelos valores degradantes e desestruturantes da Esquerda. E a solução necessariamente passa pela retomada dos pontos de sustentação da sociedade, inclusive o Ideal Masculino.