Vivemos em uma das maiores polarizações políticas da história do nosso país. O sentido ideológico que cada ser humano homogenizou a si, satisfazendo assim vazios de uma alma perdida num percurso histórico é uma demonstração metafísica de todo um conceito de batalhas de ideias que incham os mais nobres corações e salivam as bocas dos mais sujos.
Ela veste azul, ele vermelho, ela é Churchill e ele Che Guevara.
Há condições de amor? Há condições de diálogo? Ou pelo menos monólogos pacíficos que não abrem possibilidades para as vaias dos espectadores odiosos?
E quem é que se apaixona por política? Não damos a mínima nem por ela ter deixado de se arrumar no primeiro encontro, quanto mais por ela ter votado no PT, chamado o impeachment de golpe e ter militado pela CUT sem nunca ter trabalhado. A paixão é isso, não sente cheiro e é apartidária.
E se ele apoia Bolsonaro e ela Jean Wyllys, e no lugar das cusparadas, há beijos intercalados com olhares perdidos no rosto do outro, que se intensifique, ninguém ali no meio de um abraço votará a favor da PEC-171/93 ou irá propor projetos bizarros sobre a transsexualidade. Quando se tem um o pescoço do outro na maior pureza do momento, não há decapitações que possam vir a acontecer.
O amor é uma batalha por natureza própria.
E aquele teu amigo feministo que usa coque? O cara sabe a escalação completa da seleção de 82. Fala de forma única do futebol do Rivellino. Conhece o Puskás, o Kocsis, o Cruyff, o Vavá, o Didi… Sabe do tetra, do penta, da libertadores de 99, do mundial de 2000, 2005. Pra que demônios hão de falar sobre política? Sentem-se num bar, peçam aquela ampola semelhante a uma perna de pedreiro e conversem como se fossem dois velhos da Mooca que, demonstram em cada tom o amor pelo Juventus. Um dia só, uma cerveja só — ou duas, três, ou quatro… Acendam um cigarro e vivam como se ao redor não existisse política. Só o amor entre dois grandes amigos, a cerveja, o cigarro e o futebol.
As nossas avós eram apaixonadas pelos olhos do Médici, muitas faziam relações com os olhos do Chico Buarque, o namoradinho do Brasil na ditadura. Nossos pais aplaudiam a segurança que havia no período militar, mas muitos não desperdiçavam a chance de tragar aquela verdinha num festival de Rock Progressivo. Há tempos de amor numa família? Deve haver.
E se aquela garota bonita levanta o braço com o punho fechado louvando a “revolução”, pegue a outra mão, ela está abaixada, pronta para o entrelaçar dos dedos. Caminhem num domingo pela Av. Paulista, que foi fechada pelo Haddad e vão ter um jantar romântico onde a iniciativa privada reina absoluta por causa dos seus clientes burgueses.
Só uma tarde sem politicagem, sem análises econômicas. Só uma noite sem defesas ideológicas. Só um dia. Na segunda tudo volta ao normal. Mas que dure mesmo apenas um dia. Na segunda eu quero estar falando mal da militância feminista, da Dilma e de toda a esquerda.