Enquanto mais de 32 mil alunos são prejudicados e tem seu exame adiado pelas invasões, invasores fazem a prova em outros locais… Incoerência a gente vê por aqui!
Weverton Ramon, de 20 anos, vai abandonar a escola invadida por ele e outros marginais há 19 dias, em Arapiraca (130 km de Maceió), para fazer prova do Enem em outro local, não invadido.
Aluno do terceiro ano do ensino médio da primeira escola invadida na cidade, ele pensa em fazer faculdade de filosofia ou design, em Maceió. Para ele, foi um erro suspender as provas.
“Deveria ter cancelado para todo mundo. Quem tiver mais tempo para estudar, terá vantagem”, defende o meliante, que fará prova no colégio particular Êxito.
Enquanto deixa a escola, dois fiscais informam a quem chega que a escola está invadida, e o Enem está cancelado no local. “Já vieram umas três pessoas buscar informação”, diz uma fiscal.
Na mesma escola, em Arapiraca, Rikelly Maria Silva, 18, também irá fazer Enem neste fim de semana. No segundo ano do ensino médio, ela fará a prova apenas por experiência.
“O MEC poderia ter conversado conosco e feito provas aqui e nas demais escolas ocupadas. Não teve eleição em tantos locais? E em Minas Gerais houve acordo com estudantes, poderiam todos fazer prova hoje, seria mais justo”, conta.
Enem foi adiado em mais de 400 escolas
Por conta das invasões, o MEC (Ministério da Educação) cancelou o Enem em mais de 400 locais de prova. Os “estudantes” protestam contra a PEC que limita os gastos públicos e a medida provisória sobre reforma do ensino médio, ambas essenciais para o país e em votação no Congresso.
Cerca de 270 mil estudantes farão o exame nos dias 3 e 4 de dezembro.
Em Belo Horizonte, Fernanda Baeda, de 18 anos, deixou uma escola invadida para fazer as provas do Enem na PUC (Pontifícia Universidade Católica), localizada no bairro Coração Eucarístico.
Segundo ela, que vai tentar o curso de medicina, as invasões são uma maneira de mostrar a insatisfação dos secundaristas contrários à PEC 241 e à reforma do ensino médio. É a primeira vez que ela se inscreveu para o Enem. Ela demonstra não ter nenhum conhecimento sobre o conteúdo da PEC, mas afirma: “Acredito que estamos fazendo, sim, um protesto válido. É uma forma de mostrar as nossas reivindicações também”.
A “estudante” disse que se reveza em duas invasões feitas por alunos secundaristas na capital de Minas Gerais. “Uma delas é na Escola Estadual Olegário Maciel. A outra, é na Escola Estadual Professor Francisco Brant”, afirmou.
3 e 4 de dezembro
Na escola Manoel Lúcio, cerca de 30 alunos se revezam na “ocupação”. Metade do grupo dorme no local. Com doações da comunidade, do MST e com apoio de professores de esquerda e partidos comunistas, não precisaram tirar dinheiro do bolso para comprar comida. “Todos estão ajudando, inclusive a cozinhar”, conta Daniel Rodrigues, 20 anos, aluno do terceiro ano.
O rapaz também fará Enem, mas apenas na segunda leva de estudantes. “Claro que tenho vantagem por ter mais tempo, não acho justo”, diz ele.
Arapiraca é cidade do Nordeste com mais escolas invadidas: oito locais de prova tiveram suspensão, sendo seus escolas e duas universidades.
Reportagem UOL Educação