Antes de mais nada, um esclarecimento. Considero-me conservador, embora não concorde integralmente com toda a pauta conservadora brasileira atual. Mesmo assim, não me considero um eleitor de Bolsonaro, ou melhor, de Jair Messias, já que votei e elegi Eduardo Bolsonaro para Deputado Federal. Ainda tenho sérias dúvidas a respeito da candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência. Insisto que ele precisa sair do PP, um partido de corruptos e que apoiou o PT esses anos todos. Eleger um Presidente pelo PP é pedir para que o partido faça mais conchavos com o PT e nada mude. Se Bolsonaro mudar para um partido de oposição, como o PSC, DEM ou NOVO, já é um bom caminho. Além disso, não sabemos quem seriam os nomes chaves na condução da administração pública numa eventual vitória de Bolsonaro. Quem seria seu Ministro da Fazenda? Seu presidente do Banco Central? Seu Ministro da Justiça? Essas coisas são importantes para se saber o que esperar de um Governo. Por isso, sinto-me totalmente à vontade para comentar a entrevista de Bolsonaro à Luciana Gimenez, ontem à noite. Não sou anti-Bolsonaro, nem Bolsominion…
Abertura
Luciana iniciou o programa chamando uma matéria que visava “apresentar” Bolsonaro ao público, como se isso fosse necessário. Na verdade, a matéria se mostrou extremamente tendenciosa, abusando de estratégias jornalísticas para induzir as pessoas que assistiam. Por exemplo:
Luciana começa dizendo que “queria entender essa personalidade grande de Bolsonaro” e chamou sua matéria. Ora, minha filha, você está diante do cara! Por que não procura entender a partir do que ele disser? Pra fazer isso assistindo um vídeo, você poderia ter encomendado para sua produção e assistido em casa. Isso sem contar essa expressão esquisita, “personalidade grande”, que induz as pessoas a pensar em ego inflado.
“Bolsonaro está na mira da oposição” foi um dos absurdos citados. Obviamente falavam da oposição ao próprio Bolsonaro, mas o desavisado que ouve isso (e quem assiste Luciana Gimenez já é um desavisado por natureza) pode até pensar que Bolsonaro é criticado pela oposição ao Governo Dilma.
Não irei entrar em detalhes da edição tendenciosíssima das imagens, privilegiando discursos inflamados e cheios de palavrões do deputado, mas ressaltar o momento em que afirmam que ele é contra a criminalização da homofobia e mostram a famosa cena do rapaz agredindo o outro com uma lâmpada fluorescente. Obviamente que ser contra a criminalização da homofobia não é ser a favor de agressões como essa. A lei que pretende criminalizar a homofobia pretende punir a expressão de ideias.
Embora fosse um programa sobre Bolsonaro e os trechos da matéria só mostrassem frases isoladas dele, deram espaço para uma deputada Marinor Brito acusá-lo de ser “tão criminoso quanto qualquer corrupto” simplesmente por pensar de forma diferente dela. Essa senhora chega ao cúmulo de compará-lo a um pedófilo! Aqui fica uma crítica a ele. Esse tipo de acusação não pode passar impune e deve ser tratada com o maior rigor por ele, exatamente como seus inimigos o fazem. Se ele pode ser processado por dizer que Maria do Rosário não merece ser estuprada, essa deputada tem que ser processada por uma acusação absurda dessas.
Ao dizer que ele “tem milhares de fãs que compactuam ele” (enquanto mostram a página do Facebook com 2 milhões de curtidas), a redação procurou induzir uma rejeição por parte do público. Há muito tempo que o termo “compactuar” não é usado de forma positiva. Ninguém compactua com coisa boa, podem reparar. Quem compactua sempre o faz com algo ruim. A simples escolha desse termo já visou denegrir o deputado.
Nessa chamada, embora citassem várias personalidades que tanto o apoiavam como o criticavam, a única pessoa que apareceu falando foi justamente Jean Wyllys, numa frase aparentemente conciliatória, dizendo que se Bolsonaro não tivesse dito certa frase sobre gays ele, Wyllys, o acolheria. Bobagem! Todos sabemos que Jean ataca indiscriminadamente qualquer pessoa que pense diferente dele, mesmo que a pessoa seja gay ou simpatizante.
De volta ao palco
Terminada a materiazinha tendenciosa, voltamos aos estúdios e, justiça seja feita, Bolsonaro inicia já muito bem, partindo pro ataque, ao sugerir a leitura do livro do ex-presidente do Uruguai, Mujica, que afirma que Dilma toma decisões de Estado consultando as inteligências cubana e venezuelana, acusação muito séria, ainda mais vinda de um amigo esquerdista. Luciana se limita a fazer um comentário inespecífico, “Nossa! O negócio tá piorando”, que não sabemos se está se referindo ao Governo ou às críticas de Bolsonaro.
Mudando de assunto, Luciana cita o ataque que Bolsonaro sofreu de ativistas que jogaram purpurina nele. Aqui fica claro como a mídia não gostou da reação dele. Todos queriam que o deputado ficasse furioso e fizesse um escândalo. Luciana cita que ele ficou “sem reação na hora” e chamou uma matéria que descaradamente justifica a agressão dizendo que toda ação (e mostra uma declaração dele) gera uma reação (e mostra a agressão). Imagine se fôssemos partir para agredir e jogar coisas nos outros somente porque essas pessoas falaram algo que não gostamos! A matéria ainda induz o espectador a achar que Bolsonaro foi covarde ao dizer que ele “não reagiu”. Todos sabemos o que ocorreria se ele reagisse…
E, pela segunda vez, Bolsonaro acerta em cheio ao corrigir o que foi dito na matéria ao dizer que não foi uma ação dele que levou a uma reação dos ativistas. Muito boa intervenção dele!!
Nesse ponto, Luciana Gimenez agiu ou com má fé ou desconhecimento, ao afirmar que o tal “kit gay” não foi aprovado e que o protesto de Bolsonaro seria “a volta dos que não foram”. Na verdade, esses kits já estavam sendo fabricados quando Bolsonaro revelou algumas partes e foi Dilma que vetou sua distribuição ao ver que o conteúdo faria com que ela perdesse o apoio da bancada evangélica logo no começo do seu primeiro mandato.
Foi aí que Bolsonaro se atrapalhou e, ao invés de responder a ela que tanto havia sido aprovado que já estava sendo fabricado, passou a falar da ideologia de gênero, ao que Luciana, numa agressividade absurda cobra que estavam falando da cartilha. Bolsonaro precisa urgentemente aprender a lidar com intervenções no meio de seu raciocínio. Ela repetiu várias vezes que a cartilha “não foi” aprovada. Bastava Bolsonaro responder “Não foi porque tornamos público seu conteúdo, pois já estava até sendo fabricada” e pronto! Calava a boca da mulher.
Em 8:48 ele chega a tentar deixar claro que isso não era um projeto de lei para ser aprovado ou não. Que já estava sendo comemorado o seu lançamento sem que o público soubesse o seu conteúdo. Assim que a direção viu que Luciana não conseguia fazer Bolsonaro mudar de assunto, entra uma fulana que, dentro do duplo padrão moral da mídia, condenou que Bolsonaro tenha demitido um funcionário gay por ele ter assediado outro funcionário. Sabemos se fosse um homem assediando uma funcionária, pediriam a cabeça dele, mas como era um gay, acham exagero a demissão. Vendo a besteira que a outra estava fazendo, Luciana interveio e disse que estava certo demitir. Aplausos da plateia…
Participação de Smith Hays
Nesse ponto, nosso articulista Smith Hays foi apresentado, não sem antes Luciana fazer uma piadinha dizendo que ele seria o único amigo gay de Bolsonaro, por isso ele o trouxe. Deu pra ouvir o Smith dizendo que não seria o único.
Aliás, muito boa a participação do Smith! Quando confrontado com a questão de como ele poderia ser amigo de alguém que disse que ser gay era falta de palmada na infância, Smith afirmou que o importante era discutir ideias para o país e não discutir sexualidade, um conceito que muitos discordam, achando que o gay não paga impostos, não sofre com a inflação ou desemprego. Acham que o gay deve se importar durante 100% do seu tempo com a sua sexualidade.
Aparentemente fortalecido pela participação de Smith, Bolsonaro volta à boa atuação do início do programa, contra-atacando Luciana quando ela disse que ele falava muito sobre sexo, deixando claro que quem faz a pauta é ela.
Nesse momento a discussão passou para quais projetos Bolsonaro já havia aprovado. Não sei por que ele não aproveitou para falar do voto impresso. Seria um ótimo momento para alertar as pessoas do risco das urnas eletrônicas.
Redução da maioridade penal
O programa então entrou na questão da redução da maioridade penal, com uma matéria que me pareceu bastante favorável à proposta, visto que só mostrou crimes absurdos cometidos por menores. Na volta aos estúdios, Bolsonaro espertamente comentou que, nos EUA, o um caso mostrado pegaria prisão perpétua, ao que Luciana discordou dizendo que, com 12 anos, não pegaria perpétua e ficaram os dois num impasse. Bolsonaro PRECISA ter mais embasamento ou, na pior das hipóteses, ser mais safo e devolver na mesma moeda. No final, ele se saiu bem ao lembrar que cada estado americano tinha seu próprio código penal e calou a boca da Luciana.
Curiosamente, nesse assunto, tanto Luciana quanto a loira que comentava se mostraram muito mais afinadas com as ideias de Bolsonaro e descobrimos que um colega delas da Rede TV foi assassinado por um menor a dois dias de se tornar maior. A impressão que tive foi que a direção do programa ficou incomodada com o modo como ambas estavam começando a concordar com ele e mandou que a loira falasse sobre mulher ganhar menos que o homem. Ele se justificou e muito bem, mas elas já deviam ter recebido ordens para simular uma indignação e o fizeram quando ele disse “tem muita mulher competente também”. Faltou o bate-pronto dele por exemplo perguntando “Por que? Vocês acham que todas as mulheres são competentes? Só os homens é que podem ser incompetentes?” e virar a mesa.
A essa altura, já estávamos na metade do programa e a loira teve que admitir que estava recebendo muitas mensagens de apoio ao deputado. Luciana, provavelmente avisada da boa audiência, abaixou a guarda e passou a tratá-lo com mais educação. Falaram de machismo, casamento, segurança e porte de armas.
Sexualização infantil
Mas como sexo é que dá polêmica, voltaram à questão da sexualização precoce e mostraram o vídeo onde o deputado mostra um livro voltado para crianças sobre sexo. Nesse sentido, o programa fez um ótimo trabalho, pois quem não conhecia pode ver o trabalho de Bolsonaro ao desmascarar esse tipo de ensino. Ocorreu um impasse pois Luciana insistia que o tal livro não faz parte do material escolar. Faltou a Bolsonaro explicar a ela o que é um livro paradidático, ou seja, não faz parte do material escolar, mas é usado como apoio.
Finalmente, aos 47 minutos, Bolsonaro explicou o lance do kit gay e afirmou que o Governo já havia gasto uma fortuna na fabricação dele, apesar de Luciana ficar repetindo “não foi aprovado”.
Por fim, ele fez uma ótima propaganda de sua honestidade, citando testemunhos de que ele seria um dos poucos políticos sem rabo preso, tanto que as duas ficaram sem ter o que falar.
Considerações finais
Discordo de muitas pessoas, que andam criticando Luciana por interromper Bolsonaro, Smith e outros. Ela não fez absolutamente nada diferente de uma Marília Gabriela ou de um Jô Soares. Aliás, a única personalidade não jornalista que vi fazer ótimas entrevistas, com respeito pelos entrevistados e conhecimento do trabalho deles, foi Bruna Lombardi, há alguns anos, quando ela tinha um Talk Show. O restante é tudo assim mesmo: quer aparecer mais que o entrevistado, quer impor suas ideias e se irrita quando o entrevistado não responde aquilo que ela estava esperando.