Graças a um eficiente trabalho de desinformação, a maioria das pessoas mais jovens, ao ouvir falar de militares, os imagina como pessoas tacanhas, sem cultura e focadas somente na vida militar.
Ignoram que, ao longo de séculos, os militares não só fizeram parte da elite administrativa da sociedade, como também eram parte da elite intelectual. Só para citar um exemplo, o General Golbery do Couto e Silva, que foi Chefe da Casa Civil dos governos Geisel e Figueiredo, era considerado um intelectual, um dos principais teóricos da doutrina de segurança nacional, elaborada nos anos 50 pelos militares brasileiros. Sua biblioteca particular era considerada uma das mais extensas do país.
A Biblioteca do Exército Brasileiro, fundada em 1881 e reorganizada em 1937, não se dedicou somente a editar livros de estratégia e biografias de militares, mas também a temas de interesse geral, inclusive didáticos. Infelizmente, muitos desses títulos encontram-se hoje esgotados. É o caso de um livro que merecia ser reeditado até mesmo por uma outra editora. Refiro-me a “A farsa ianomami”, lançado em 1995.
Seu autor, o coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto, embora gaúcho, passou boa parte da sua vida adulta em Roraima, seja em atividades militares ou, após passar à reserva, como secretário de segurança. Amava a região e seus habitantes, tanto os indígenas quanto os não-indígenas.
O conteúdo do livro é assustador, ainda mais por não ser fruto de alguma paranoia ou teoria da conspiração, mas ser firmemente embasado com referências, autores e provas documentais.
O autor nos mostra de forma irrefutável que nunca houve em toda a história brasileira, desde os primeiros exploradores até Rondon, nenhuma menção a alguma “nação ianomami” e que os índios que, alegadamente, fariam parte dessa “nação” pertencem inclusive a troncos linguísticos distintos, inimigos há séculos. A denominação teria sido inventada por Cláudia Andujar, uma fotógrafa belga, que em 1973, surgiu na mídia protestando contra o “genocídio da nação ianomami”. Embora não tivesse nenhuma credencial de antropóloga, ela conseguiu convencer parte importante da mídia da existência dessa tal nação e lutar para a demarcação de um território imenso a ser habitado somente por alguns poucos milhares de índios. Um verdadeiro latifúndio.
“Ao misturar índios de diferentes grupos na mesma reserva, o Governo federal, ao invés de preservar suas respectivas culturas, condenou-as à extinção. E não havendo mais índios a proteger, ou levam outros índios para lá, ou arranjam outra desculpa para separar Roraima aquele pedaço.”
Mas o autor ainda vai além. Ele inclui um documento de uma entidade estrangeira, a Christian Church World Council, de 1981, onde se define em termos claríssimos que a Amazônia seria importante demais para fixar nas mãos dos países onde ela está, sendo imperioso que essa região fosse inicialmente preservada da ação dos países e, posteriormente, tivesse sua administração transferida para governos europeus ou para a ONU.
Incluindo experiências pessoais, dados técnicos e vários textos extraídos de jornais e revistas da época e analisando a demarcação de uma reserva em área de fronteira (o que contrária à lei) do tamanho do estado de Santa Catarina, o livro não deixa margens para dúvidas. Também são listadas todas as riquezas minerais que existem, “coincidentemente”, na mesma região demarcada como reserva indígena.
Poucos brasileiros sabem que, ao se criar essa reserva no Governo Collor, foi proibida a entrada de brasileiros (brancos ou mestiços) a oeste do paralelo 62, embora “missionários” e outros estrangeiros frequentem regularmente a região. Como estará aquilo lá agora? Até aeroportos foram feitos dentro da reserva. Aliás, essas pistas de pouso foram criadas pelo exército brasileiro em 1958, sob o comando do coronel Menna Barreto, sem que os militares soubessem que seriam posteriormente entregues a “missionários cristãos ” americanos. O autor chegou a visitar essas pistas depois de alguns anos e se espantou com a presença da bandeira americana no lugar da brasileira…
A reserva ianomami representa quase 20% da área de Roraima. E o livro foi escrito antes da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol, que retirou ainda mais um pedaço do território de Roraima do controle do estado.
Num ponto do livro, o coronel Menna Barreto chega a prever a mudança de foco de parte da esquerda para a falsa questão ecológica, muito antes disso se tornar frequente.
“Chegou-se a pensar que o fim do comunismo pudesse acabar com tantos problemas. Mas os agitadores só mudaram a cor da camisa, do vermelho para o verde. Antes combatiam a ditadura, depois defendiam os índios e agora querem salvar a floresta…”
Talvez seja tarde para recuperarmos essa porção de terra. Mas é indispensável que conheçamos o que ocorreu, para não cairmos novamente nesse tipo de golpe com o uso da mídia, como se tem feito na campanha contra a usina de Belo Monte.