Existe, hoje, um momento de tensão política e muitas controvérsias. No meio disso, vários grupos querem ascender e dominar os movimentos e as narrativas, só que apenas alguns deles são realmente competentes nisso.
Como de costume, os que são competentes se destacam pelo seu sucesso, e os incompetentes, na incapacidade de assumir para si mesmos suas fraquezas e seus erros, se limitam a criticar quem tem competência. Esta é a forma tradicional de ação de movimentos políticos fracassados, e a direita brasileira, infelizmente, tem disso.
Surgiu nos últimos dias um monte de gente atacando Janaína Paschoal, e não são ataques vindos da esquerda, como normalmente acontece. São, ao contrário, ataques vindos de uma direita que se diz a “verdadeira direita”, algo como um grupo de seres iluminados que detém todas as verdades e até o monopólio da opinião política.
Para embasar as críticas contra a doutora Janaína, essas criaturas desonestas e precárias utilizaram um único vídeo no qual a jurista aparece dizendo, em tom de brincadeira e totalmente descontraída, que é “de esquerda”. Com isso, os representantes da “verdadeira direita” piraram, porque estavam loucos para atacar Janaína há um tempão e não tinham nada que justificasse os ataques. Na cabeça deles, isso aí é o suficiente.
Tudo bem, dá para entender tanto ímpeto em assassinar reputações. Estas figuras aprenderam a fazer política com gurus de internet e fraudes intelectuais que nunca, em momento algum de suas vidas, se arriscaram por qualquer coisa. São gurus que ora dizem uma coisa, ora dizem outra completamente oposta, apenas para confundir seus seguidores e levá-los a pensar que são mágicos.
Estes tipos de gurus intelectuais da política contemporânea são, em geral, muito parecidos com charlatães que prometem leitura das mãos e previsão do futuro em borras de café. Mas, vamos analisar se a “denúncia” realmente pode ou deve ser levada a sério.
O primeiro ponto é a “prova” que foi apresentada, o vídeo informal no qual Janaína aparece descontraída, fazendo uma brincadeira. Esta prova é circunstancial, no máximo. Não é uma declaração oficial e nem dá para saber se ela estava falando realmente sério – não dá para saber, também, se a posição mudou ou não após a gravação do vídeo. Afinal, Jair Bolsonaro votou em Lula e Ciro Gomes no passado, não quer dizer que ele votaria novamente.
Um amigo também lembrou de um detalhe importantíssimo da equação, algo que essa “verdadeira direita” saberia se fosse menos obtusa: posição política não é como a ideologia de gênero. Isso significa que mais importante do que o que a pessoa diz sobre si mesma é o que ela efetivamente faz.
As posições claramente defendidas por Janaína Paschoal, tais como um menor inchaço da máquina pública, contrariar aumentos de impostos, lutar contra o uso aparelhado do Estado, ser contrária a doutrinação ideológica nas escolas, além de ser declaradamente cristã, são coisas que em geral nenhuma esquerda defende. Assim, mesmo que ela se dissesse “de esquerda”, isso poderia ser facilmente explicado por um mau entendimento dos termos políticos, uma vez que ela é uma advogada criminalista e não uma cientista política ou filósofa.
Ademais, em um país no qual a direita dormiu por décadas e resolveu levantar há uns poucos anos, em que há doutrinação explícita nas universidades e escolas dominadas pela extrema-esquerda, quem realmente pode se dar ao luxo de dizer que não foi nenhum pouco influenciado por ideias marxistas? Certamente, não são muitos. E os poucos que podem dizer isso são sortudos por serem uma rara exceção.
Janaína, durante todas as suas falas no congresso, criticou os governos petistas por ações tipicamente de esquerda, como a boa relação mantida com as ditaduras bolivarianas. Michel Temer, que obviamente não é nenhum santo, também tem entendido que o caminho é ir contra isso, não por acaso José Serra tem surpreendido como chanceler ao vetar a presidência de Maduro no Mercosul. Isso já é mil vezes mais do que tudo o que já foi conquistado até hoje pela “verdadeira direita”, que em verdade mesmo nunca conquistou coisa alguma.
A jurista também mostrou bastante firmeza ao tratar o PSDB como uma oposição frouxa, fazendo duras críticas aos fabianos em rede nacional e sem nenhum medo de represálias, mesmo estando ao lado de Hélio Bicudo. Já vi muitos desses “verdadeiros direitistas” falarem fininho do lado de tucanos menos relevantes. Há um certo guru dessa “verdadeira direita” que não ousa enfrentar nulidades como Guilherme Afif Domingos (PSD) ou mesmo que fica rasgando seda para gente do porte de um Ciro Gomes, gente que nem oferece qualquer risco.
Outra coisa importante de ser lembrada é que PMDB e PSDB não são signatários do Foro de São Paulo, por isso é insana a teoria apresentada de que Janaína Paschoal seria “um agente do Foro” a serviço da esquerda. É, aliás, uma tese tão esdrúxula quanto a do Pacto de Princeton, que nunca aconteceu de verdade.
Há, ainda, as declarações feitas por Janaína Paschoal em seu Twitter. Estas imagens falam por si mesmas.
Mesmo assim, digamos que eu esteja a fim de considerar como verídica a hipótese de uma “Janaína golpista da extrema-esquerda”, tal como foi apresentada pelos representantes da “verdadeira direita”. Neste caso, questiono: Se tudo isso aconteceu de baixo do nariz dessa direita que a ataca, de quem é a responsabilidade?
Eu mesmo respondo: É responsabilidade desses gurus e “líderes” incompetentes que não têm a capacidade de gerar ou aproveitar demandas políticas. Se a esquerda realmente conseguiu usar o impeachment para se salvar, isso quer dizer que a culpa é justamente da ausência dessa “verdadeira direita”, que nada fez para impedir.
Sim, amigo da “verdadeira direita”. Se você não consegue dar vasão aos seus próprios interesses políticos, se não é capaz de criar demanda para os seus planos e se é incompetente demais para fazer suas ideias fluírem, a culpa é inteiramente sua. Não é culpa do MBL, nem do Caiado, nem do Vem Pra Rua. É só culpa sua.