Fábio Porchat é um daqueles mistérios tão típicos da mídia brasileira. Começou com pequenos papéis na TV aberta ou em programinhas da TV fechada, evoluiu para um canal de YouTube com esquetes manjadíssimos e, de repente, explode e passa a figurar em praticamente todas as propagandas de TV, com exceções ainda de absorventes higiênicos e fraldas geriátricas. Por fim, é contratado a peso de ouro por uma emissora de TV para ter um programa praticamente diário.
Talvez não seja coincidência que esse súbito sucesso tenha ocorrido após o humorista ter começado a acompanhar seu colega Gregório Duvidier em opiniões políticas mais à esquerda. Nem seria coincidência que a emissora que o contratou seja a mesma que abriga o jorna-petista Paulo Henrique Amorim, recentemente condenado por injúria racial.
Após uma maciça divulgação da estreia do seu programa, onde só faltou que Porchat aparecesse em meio ao Rio Jordão na novela Terra Prometida, o verborrágico estreou com invejáveis 9,2 pontos no Ibope, algo digno de se comemorar.
Mas, já no segundo dia de se programa, essa audiência já havia caído para 3 pontos a menos. Porém, esse dia foi marcado por outro ponto baixo.
Ao receber como convidado o deputado federal e comediante Tiririca, Porchat “inovou” com um quadro que já conhecemos há décadas com nomes diferentes, como “Para quem você tira o chapéu” ou coisas similares. Num telão, mostrava-se a foto de uma celebridade e Tiririca tinha que rotular a pessoa como “menino lindo” ou “abestado”.
Tudo corria bem, até que a foto de Jair Bolsonaro foi mostrada no telão e Tiririca o rotulou como “menino lindo”. Foi o bastante para Porchat ter um chilique e parar o quadro, não sossegando enquanto Tiririca não recuasse e mudasse seu voto, constrangido com a reação de seu anfitrião.
Esse incidente, logo no segundo dia do programa, já mostrou quais os rumos que Porchat pretende seguir: entrevistar amiguinhos, fazendo mil elogios e constranger desafetos, aproveitando para fazer proselitismo político.
Com isso, bastou uma semana para que a audiência de seu programa caísse a metade da estreia. Com 4 pontos, Porchat caiu para o terceiro lugar no horário, sendo que a Record visava, com sua contratação, consolidar a vice-liderança, com cerca de 7 pontos.
A situação de Porchat é delicada. O público que assiste a esse tipo de programa pode ser dividido em três grupos: os de tendência à direita, os de tendência à esquerda e os neutros. O primeiro grupo nunca irá assistir ao seu programa, já que tem Danilo Gentili como alternativa, ainda mais após esse episódio com Tiririca. O segundo grupo até pode se interessar, mas tem Rafinha Bastos e, principalmente, Marcelo Adnet, infinitamente mais talentoso que Porchat, como alternativas. O público neutro tende sempre a preferir a Globo, ou seja, Adnet.
A Record já se preocupa com a possível escassez de entrevistados do programa, embora quem faz uma boa entrevista é o entrevistador e não o entrevistado. O problema é que, com baixas audiências, pode ser que convites sejam recusados.