Sempre que ouvimos sobre o sucesso ou o fracasso de alguma sonda espacial ouvimos também a informação de que foram gastos milhões de dólares (ou euros, iuanes, ienes e etc…) na referida missão e outra coisa que sempre ouvimos é aquele sujeito “gente boa” dizendo algo do tipo: “Mas que desperdício! Deveriam investir isso tudo para acabar com a fome na África! (ou as doenças, ou a pobreza ou outra mazela qualquer no nosso mundo terreno)”. Mas será mesmo que investir na exploração espacial é desperdício de dinheiro?!?
Nós temos duas vertentes, que não se anulam e sim se complementam, para analisarmos essa questão: a primeira é o “Efeito Fórmula 1” e o segundo é o “Efeito Futuro da Humanidade”.
No Efeito Fórmula 1 a comparação se deve ao “bem” que estas corridas trazem para os carros comuns, ou seja, tudo que é desenvolvido para se fazerem carros de corridas mais rápidos e seguros aos poucos foram trazidos, primeiro aos carros top de linha e mais tardiamente ao grosso dos carros, como os freios ABS e os airbags por exemplo. Com a exploração espacial dá-se o mesmo efeito primeiro desenvolve-se produtos para serem utilizados nas naves, sondas e ou pelos astronautas e depois tais inventos se popularizam como a tomografia computadorizada, o aspirador de pó portátil, filtros de água mais potentes, satélites de telecomunicações e até objetos mais rotineiros como as palmilhas dos tênis e os termômetros auriculares. Enfim um mundo de inovações das macro as microinvenções estão presentes no nosso mundo graças a necessidade que se fez primeiro na exploração espacial e que depois foi trazida ao mundo dos terráqueos por assim dizer.
O “Efeito Futuro da Humanidade” ora já é uma frase auto-explicativa, mas vamos acrescentar alguns dados para corroborar com essa assertiva. Apesar de focarmos muito no hoje ou no futuro próximo temos que ter uma visão de longo alcance de centenas de anos e até mais longe do que isso e outra coisa temos que sair do individualismo ou nacionalismo como queiram para pensar no ser humano como espécie, ou seja, temos que garantir o futuro da sobrevivência da raça humana. Ora vários motivos nos impelirão em busca de um lar alternativo e o principal deles será a escassez de recursos naturais, que nada mais é do que o motivo-mor que levou os primeiros grandes navegadores a desbravarem o Atlântico e depois o Pacífico atrás de novas terras e novos recursos. Os recursos naturais na Terra são limitados e o desenvolvimento tecnológico pujante ao mesmo tempo que nos ajuda a preservar a natureza ele próprio exige mais e mais dela para poder continuar evoluindo e a evolução é um caminho sem volta. Fora a escassez de recursos outros motivos poderão nos impelir cosmos a fora, mas a maioria será derivado deste “motivo-mor”; pois podemos ter uma catástrofe planetária como uma guerra nuclear que torne a Terra inviável a sobrevivência a longo prazo, que nada mais seria que a escassez de ar, água e alimentos; podemos enfrentar mudanças climáticas severas como longos períodos de frio ou seca extremos, novamente escassez; pragas, doenças, meteoros, dentre outros podem ser responsáveis por um futuro êxodo dos humanos da Terra. Mas para isso temos que estar preparados e essa preparação exige esforço e investimentos não amanhã, mas hoje! Para que possamos desenvolvermos naves, combustíveis, sistemas de sobrevivência no espaço cada dia mais rebuscados e que nos possibilitem esse próximo passo na exploração espacial que será a colonização de outros mundos.
Pode parecer coisa de ficção científica, mas não o é, embora o cinema e a literatura já tenham explorado bastante tal filão temos um representante desse gênero que ilustra bem o que estamos discutindo que é o filme Interestelar, onde, resumidamente, os seres humanos tem que abandonar o planeta pela escassez iminente de alimentos.
Outro fator interessante é que com as crises vem as oportunidades. Na última grande crise econômica nos EUA em 2009 – a bolha imobiliária – que se alastrou para o restante do mundo, houve um ajuste natural e necessário das contas públicas americanas e com isso a NASA, que já tinha seu orçamento enxuto, viu o seu caixa arrefecer mais ainda. Com isso abriu-se oportunidades para o motor das economias de livre mercado, que são as empresas privadas, para a exploração espacial, cujos dois principais expoentes são a Space X do visionário e multiempreendedor Eloan Musk e o seu concorrente direto a empresa Virgin Galactic do também bilionário Richard Branson; não vou me delongar tecendo comentários a respeitos dessas duas figuras e sim focar no que a exploração privada traz de diferente ao jogo antes restrito às agências espaciais estatais.
O famoso astrofísico Neil deGrasse Tyson, novo apresentador da série Cosmos que já foi apresentada pelo famoso e finado astrofísico Carl Sagan, fala a respeito dos primórdios da exploração espacial:
“nós estávamos indo para o espaço, porque estávamos em guerra com a União Soviética. Uma vez que a NASA provou que poderia pousar americanos na Lua primeiro, a União Soviética perdeu, e todo o recurso para o espaço desapareceu. Isso, infelizmente, deixa pioneiros espaciais em uma indústria estagnada, fortemente regulamentada e monopolizada pelo governo.”
Não se pode menosprezar aqui o quão importante foi a contribuição do Estado, tanto dos EUA quanto da URSS, nos primórdios da exploração espacial e muito menos negar que as agências espaciais americana, russa, européia, chinesa, indiana e japonesa, só pra ficar nas mais importantes, ainda desempenham e desempenharão papel muito importante nos próximos anos; mas como deGrasse Tyson mesmo afirmou o monopólio estatal tende a regular e a emperrar tudo e a saída, meus caros, é passar a bola para a iniciativa privada que no momento galga seus primeiros passos: já domina magistralmente a arte de enviar satélites ao espaço, já coopera diretamente com a NASA na montagem de robôs e outros dispositivos para a exploração espacial e começa a ambicionar levar até turistas ao espaço! Parece brincadeira de criança, mas por trás temos homens de negócios. Se não há nenhum minério raro ainda descoberto na lua ou em Marte que valha apena explorar os primeiros empresários “do espaço” vão conseguindo ganhar dinheiro com as terceirizações que a NASA faz e com isso ganhando, além de dinheiro, know-how nesta indústria multibilionária e aos poucos vão se aventurando de forma mais livre.
Para David Baker, ex-engenheiro da Nasa, escritor e editor da revista Spaceflight, a aposta na iniciativa privada é o caminho:
“Quando as empresas privadas se consolidarem como algo independente dos governos, teremos resultados surpreendentes”
Por isso caros leitores a exploração espacial pode além de trazer inúmeros benefícios para o nosso cotidiano, pode também aumentar e muito os nosso horizontes e fazer com que lembremos de algo precioso, que todos nós habitamos (por enquanto) o mesmo pontinho azul na imensidão do Universo e ao invés de digladiarmos uns contra os outros em brigas regionalistas/nacionalistas/religiosas devemos nos unir para preservar a vida humana dentro e, quem sabe num futuro não muito distante, fora da Terra também.