Durante muito tempo, os desenhos animados eram considerados somente uma forma de entretenimento. Durante a Segunda Guerra, o Governo dos EUA constatou o enorme efeito que os desenhos animados tinham sobre a população e “convocou” a maioria dos personagens a fazer parte do esforço de guerra. Assim foi que diversos desenhos passaram a ter a temática da guerra e seus motivos, mostrando os personagens principais lutando contra as tiranias. Hitler e Mussolini eram, frequentemente, mostrados de forma ridícula, porém perigosa, precisando ser detidos.
Os efeitos desses desenhos sobre a população americana, seja no despertar do patriotismo ou no aumento da cooperação com o exército, abriram os olhos de todos para o imenso efeito que um simples desenho poderia ter. A partir daí, muitos desenhos animados passaram a conter mensagens, mais ou menos explícitas, de orientação às crianças, um público que não era o alvo inicial dos desenhos, mas que logo se tornou o público principal.
Através dos desenhos, as crianças eram ensinadas a terem bons comportamentos, defenderem a justiça e o bem comum. Seja de forma metafórica, com princesas boazinhas, ou de forma mais clara, com heróis e super-heróis, as crianças passavam a compreender o que era o certo e o errado.
Nesse cenário, surgiu um desenho animado que sempre correu na contra-mão de todos os outros. O personagem Pica-pau, inicialmente, era uma figura louca e com sinais até de psicopatia. Com a popularidade do desenho, os autores deixaram o Pica-pau mais parecido com uma pessoa normal, porém sempre envolvido em situações onde ele vai contra alguma norma estabelecida ou poder vigente. Pode ser sua senhoria exigente, um policial, um agente de trânsito e até mesmo um bandido. O Pica-pau entrava em conflito por desejar seguir sua própria vontade em contraste com as normas ditadas por essas pessoas.
Um episódio icônico desse comportamento é o das Cataratas do Niágara. Nele, o Pica-pau chega às cataratas e descobre que é proibido descer por elas dentro de um barril. Isso o faz desejar ardentemente fazer isso. Ele passa o episódio inteiro tentando descer as cataratas e um guarda, ao tentar impedi-lo, sempre acaba caindo no barril e descendo, ele mesmo, as cataratas, para a alegria dos turistas.
Entre 2006 e 2015, a Record passou os desenhos do Pica-pau diariamente, repetindo diversas vezes os mesmos episódios. A audiência dos desenhos batia qualquer outro programa da emissora, comprovando que as crianças amavam ver um desenho que fugisse do politicamente correto (que chegou a atingir até Tom&Jerry, que passaram a ser amigos) e mostrasse um personagem mais independente.
Milhões de crianças, adolescentes e até adultos assistiram a esse episódio das cataratas (e vários outros semelhantes) centenas de vezes. De forma inconsciente, isso foi moldando o pensamento desses jovens para aceitarem com mais facilidade as ideias liberais. Como assim?
No episódio, o Pica-pau quer fazer uma loucura, sem dúvida, mas que risco ele representa aos outros? Nenhum. Porém, o Estado, na figura do guarda, se arvora no direito de dizer o que é melhor para o indivíduo e proíbe que ele faça o que quer. De forma mais sutil, constatamos que, no final das contas, o próprio Estado faz a tal loucura (descer as cataratas num barril) várias vezes, porém insiste que o Pica-pau não pode fazer o mesmo.
Cada criança que assistiu a esse episódio (e tantos outros com mensagem semelhante) foi criando em sua mente um horror a regras ditadas por uma autoridade que se julga mais capaz de definir o que queremos ou podemos fazer. Essas crianças são hoje jovens e adultos que, diante da ideia de um Estado mínimo, que não diga o que é saudável para comer, o que devemos fazer para proteger nossos filhos dentro de um carro, o que podemos falar sobre negros, gays, mulheres, etc. se sentem intuitivamente atraídas. Isso explicaria o grande número de jovens que se declaram liberais e até mesmo conservadores, contra a cultura do politicamente correto e do controle do Estado sobre as decisões dos indivíduos.
Se minha teoria estiver correta, os efeitos de 9 anos de Pica-pau sobre os jovens brasileiros levarão a uma explosão de liberais entre as camadas mais jovens da população, de todos os níveis sócio-econômicos. Como acredito que o pensamento liberal pode ser uma porta de entrada (embora não a única) para o pensamento conservador, também deve haver um aumento de jovens conservadores.
Essa perspectiva, extremamente benéfica, comprovaria que é possível quebrar a doutrinação esquerdista das escolas, por meio de outra doutrinação paralela. Isso não torna o projeto Escola Sem Partido dispensável, é claro, mas mostraria que podemos combater a doutrinação em duas frentes: lutando contra a violência psicológica de um professor enfiando suas ideias políticas nas mentes suscetíveis de seus alunos e contrabalançando esse efeito com programas, voltados aos jovens, onde essas ideias são desconstruídas.