Por Pérsio Menezes
Na década de 80, um personagem da agência de gramscismo chamada Rede Globo preparava o Brasil para aceitar Luiz Inácio como o maior expoente da política nacional. Interpretado por Lima Duarte, Sassá Mutema era um analfabeto inepto que ganha relevância política por ter, em compensação, um bom caráter. O nome da novela era emblemático: “O Salvador da Pátria”. Não existem estudos acadêmicos com o objetivo de mensurar o impacto das mensagens gramscianas da Globo no imaginário popular e, consequentemente, na política nacional, mas é inegável que personagem que fez tanto sucesso ficou registrado no inconsciente nacional e estava funcionando de forma silenciosa quando se deu o processo que transformou Luiz Inácio em uma sumidade incriticável. Durante mais de uma década, Luiz Inácio foi o “Salvador da Pátria”. Surfando nas circunstâncias internacionais que eram altamente favoráveis ao Brasil, praticava toda a sorte de atrocidades sem que nada lhe atingisse. A economia estava relativamente bem (o que a massa burra não sabia é que isso se dava não por causa dele, mas, certamente, apesar dele).
Trinta anos depois, o arquétipo rousseauniano afundou no mar de merda que vazou da gestão petista. A economia está em frangalhos. Uma parte da população se deu conta (ainda que muito tardiamente) dos mecanismos que se ocultavam no verniz de prosperidade que o Brasil viveu na primeira década do século XXI. Luiz Inácio não convence mais a ninguém a não ser para a militância piolhenta que ainda lhe dá ouvidos em troca de um sanduíche de mortadela. Inobstante, a ânsia burra do brasileiro continua em busca do “Salvador da Pátria”. Tendo naufragado o personagem do Bom-selvagem, serve como substituto seu antípoda, o magistrado. Sérgio Moro é o novo bamba da vez. Pouco importa que no processo de julgamento dos criminosos petistas não foi capaz de — por inépcia mental ou por conivência ideológica — reagir ao que de fato estava acontecendo, um gigantesco golpe de Estado, optando por representar tudo como um mero esquema de corrupção para enriquecimento pessoal ilícito.
Assim como foi feito com Luiz Inácio, o brasileiro está disposto a apostar tudo (importante frisar que esse “tudo” inclui os próprios direitos individuais e a própria liberdade) na idoneidade de um ser humano qualquer. Pior! Muitos acham que isso é ser de direita. Meus caros, isso é exatamente o contrário da direita. A ideia mais elementar daquilo que se contrapõe aos regimes totalitários, e que ficou popularmente conhecido com a alcunha de “direita”, é a desconfiança em relação à burocracia estatal. A esquerda acha que o Estado pode e deve reformar a sociedade (seja para fazer surgir a raça pura ariana, como no caso do socialismo nacionalista; seja para fazer surgir a casta proletária idealizada, como no caso do socialismo marxista); a direta, ao contrário, acredita (pelo menos deveria acreditar) que as leis não existem para reformar a sociedade, mas para colocar limites no poder da ação estatal.
A notícia ruim é que fazer as instituições e o Estado de Direito sucumbirem em nome de um avatar iluminado nunca deu certo. A notícia pior ainda é que vai dar errado de novo.