Há poucos dias tornou-se conhecido o teor do depoimento, digamos final, de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa que leva o seu sobrenome, e que ficou conhecida com a alcunha de A Delação do Fim do Mundo. Particularmente não gosto de títulos melodramáticos como este, mas tenho que dar o braço a torcer que este fora bem escolhido. Bem escolhido porque após a palavra “mundo” deve ficar subentendido a palavra “político” e o mundo político nunca mais será o mesmo após ambos os partidos de maior visibilidade desde a redemocratização – PSDB e PT (sem citar o PMDB, PP, PCdoB, PSOL e etc que também estão arrolados na denúncia) – estarem com as suas figuras centrais envolvidas até o pescoço em lamaçais de corrupção.
Muitos dirão: “Mas veja a corrupção do PT é pior porque uma vez que eles tiveram a máquina estatal nas mãos por tanto tempo eles foram os senhores responsáveis pela quebradeira em que se encontra o Brasil atualmente!“. Sim caro cidadão tal constatação não deixa de ter o seu fundo de verdade e citando o maior “santo” do PT que disse uma vez: “Não tinha pena do banqueiro quando este era roubado e sim quando pobre roubava outro pobre”, ou seja, pensamentos como o exemplificado acima evocam o “Grau Lula de Ladroísse” em que um crime se torna menos grave de acordo com quem seja o criminoso e quem seja o assaltante. Não podemos nos rebaixar a isso! Erros graves de imiscuidade entre os partidos políticos e empresários corromperam e apodreceram nossa democracia de dentro para fora de um modo suprapartidário então só nos cabe perguntar, caso não tenhamos políticos de estimação, o que será da política nacional agora?!?
A corrida eleitoral para presidência da República de 2018 já começou a muito tempo e após esta delação tudo tornou-se mais incerto ainda. Incerto porque certos figurões caíram em desgraça com o simples citar de seus nomes nos esquemas de doações de Caixa 2 da Odebrecht, ou seja, será difícil convencer o eleitorado de que somente os partidos da antiga governança – PT, PMDB e PP – que formavam a “santa trindade da propina do Petrolão”, tiveram recebimento de proventos ilegais da empreiteira em questão. Então nesse lamaçal de propinas, dinheiro de chantagens, subornos e “simples” (atenção para as aspas) doações de campanha não-contabilizadas, vulgo Caixa 2, estão todas juntas e misturadas.
Parece difícil de dizer e de digerir tal informação que eu agora vou enunciar, mas quem “ganhou” com esta Delação do Fim do Mundo foi o Partido dos Trabalhadores! COMO ASSIM?!? Calma. Ganhou no sentido que seus militantes reforçam a falsa retórica de que:
“Viu? Todos os partidos são iguais! O seu não é melhor do que o meu (num típico joguete de Fla-Flu). Então se é pra votar em candidato sujo prefiro votar nos da Esquerda!“
Sabemos que não é assim, que o buraco é mais embaixo, mas sabemos eu e você caro leitor deste artigo cuja instrução o permite compreender um texto mais complexo como este, mas novamente a política deve levar em conta o quê que o povão, as massas, estão pensando dessa chuva de denúncias que esta Delação trouxe a tona e a grande mídia, principalmente a televisiva, não consegue dissecar com clareza no curto espaço dos seus telejornais. Então o que eu vejo é que se outrora o PT estava no fundo do poço como a síntese de tudo que de pior existe em termos de roubalheira no mundo político agora em vez deles tentarem limpar um pouco a sua barra para angariar alguns degraus para cima não; ele prefere trazer seus amigos e inimigos para junto de si e igualar todos na mesma podridão em que se encontra. E digo meus caros, junto as classes mais baixas, esse discursozinho barato tá colando, infelizmente.
Mas claro nem tudo está perdido e a esperança de uma contrapartida forte contra os nomes que virão das hostes esquerdistas atualmente se polarizam entre o atual deputado federal (pelo RJ) Jair Messias Bolsonaro (atualmente sem partido), que já se declarou candidato ao pleito do próximo ano, e o atual prefeito de São Paulo João Agripino da Costa Doria Junior, mais conhecido por João Doria Jr. (PSDB), que tem seu nome ventilado nas alas direitistas, mas que até o momento nega qualquer pretensão de lançar-se candidato a presidente. Bem o que faz estes dois nomes diferentes dos demais? Como estamos falando em lista de políticos corruptos delatados o simples fato de nenhum dos dois constarem desta e de nenhuma outra delação já conta um quintilhão de pontos! Ou seja numa das frases mais emblemáticas de Bolsonaro o mesmo diz que os esquerdistas chamam-o de tudo (pejorativamente claro), mas de uma coisa não podem chama-lo, e isso doe muito neles, que é de corrupto! Dória também não está nesse rol, mas a vantagem de Bolsonaro nesse item é inegavelmente maior, visto que ele já tem 27 anos ininterruptos como parlamentar então a sua chance de ter sido “corrompido pelo sistema” era claro inegavelmente maior, mas o Capitão do Exercito se mantém no caminho da retidão honrosamente. Já Doria, é visto como um outsider, ou seja, um ser de fora do mundo da política que veio não para fazer carreira (e roubar), mas sim para contribuir para a sociedade e melhorar a vida do cidadão; esta imagem é fortíssima e o levou até a uma comparação com o recém eleito presidente americano Donald Trump, ele também um outsider e milionário como o Doria, embora ambos pareçam ter visões de mundo e comportamentos nada similares, a carapuça de outsider da política caiu como uma luva para ambos em tempos que os políticos tradicionais estão desacreditados aqui e lá fora.
Os dois políticos citados (outros poderão se juntar a eles daqui para lá), ambos, tem seus méritos e seus deméritos, mas isso não é assunto para este artigo; o que queremos enfocar é que a atual política dita tradicional acabou, e figurões do passado como o senador Aécio Neves e o ex-presidente Lula foram pulverizados no turbilhão de denúncias e mesmo que um ou ambos escapem de todas as acusações que são feitas a eles isso demandará tempo e até o próximo pleito eleitoral, ano que vem, o estrago em suas possíveis candidaturas já está feito.
E deixando-se a corrida presidencial um pouco de lado e os demais políticos com cargos no Senado e na Câmara Federal que estão atolados em denúncias como ficam!? Ah esses serão varridos da vida política com certeza! Ledo engano. Articula-se com demasia rapidez, numa articulação conjunta entre Câmara e Senado, entre Esquerda, Centro e Direita, uma proposta de Reforma Política que muito interessa a banda podre do Congresso que é o famigerado Voto em Lista Fechada. Com o ilusório slogan de “fortalecimento das legendas partidárias” o que se verá é que a depuração dessas figuras podres será cada vez mais difícil, uma vez que os caciques dos partidos colocarão os nomes de parlamentares sujos (mas não inelegíveis) no topo das tais listas e o cidadão querendo eleger algum candidato dito “limpo” acabará tendo que votar na lista que ele pertence e levando todo um pacote de políticos podres junto… Ah e sem a garantia de que aquele político que você queria eleger será ao menos eleito, pois se a posição dele na tal Lista Fechada for muito baixa o partido pode não ter votos suficientes para que ele se eleja.
Então caro leitor abra bem os olhos porque se está difícil barrar a Lava Jato como desastradamente já foi cogitado e tentado o jeito mancomunado por alguns é forçar a sua eleição ou reeleição afim de manter o foro privilegiado e ser julgado pelo lento e não tão rigoroso STF.
A Delação do Fim do Mundo veio para sacudir a política nacional afim de não deixar pedra sobre pedra, mas o que a experiência nos mostra é que os ratos da política nacional são seres experts em sobreviver a qualquer desastre e se multiplicam numa velocidade impressionante; então se por hora estão silenciosos, temam, pois na surdina estão tramando algo para dar-lhes mais sobrevida. Que a política nacional saia dessa renovada para melhor e não apenas mascarada com ares de mudança.