Como escrever uma boa redação do Enem sem apelar para chavões feministas
O discurso “machistas não passarão” pode até ser o novo combustível para a terceira onda do movimento feminista.
Em compensação, vimos que o feitiço virou contra o feiticeiro. Pelo menos, em parte do setor educacional. Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2015) divulgados nesta última semana mostraram que, pasmem, muitas mulheres atreladas ao discurso acima é quem correm o risco…
…de não passar!
O motivo é bem simples: muitas candidatas perderam o foco, transformando a dissertação em um palanque ideológico.
Claro que, tecnicamente, não existe um caráter eliminatório na prova do Enem, ao contrário do que ocorre nos vestibulares convencionais. Entretanto, há uma pontuação para a prova objetiva e para a dissertativa (redação) que contam para a nota de corte de alguns processos seletivos (caso da Fuvest). Isso quando a própria nota do Enem já substitui o vestibular de algumas importantes instituições, exemplo da Unifesp.
E aí começam os problemas.
Na dissertação proposta no último Enem, muitas mulheres e simpatizantes do feminismo foram ao apogeu da felicidade quando se depararam com o tema proposto:
“A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”
Por outro lado, muitas pessoas contrárias ao movimento criticaram bastante a escolha do tema feita pelo Ministério da Educação, responsável pela produção do exame. Nem vou entrar nesse mérito, porque acompanho os temas desde 2004 e sei que é de praxe o MEC apostar em temas controversos e mais comentados do ano.
Uma guerra fria e bipolar passou a culminar nas redes sociais após a prova, onde defensoras ortodoxas do tema alegaram que muitos dos “uzómi” (jargão que designa o gênero masculino) teriam suas redações anuladas ou abaixo da média calculada pelo Inep*, uma autarquia do Ministério da Educação. Já que, para elas, todo homem é “um estuprador em potencial”, aparentemente muitos deles realmente teriam “problemas” em dissertar sobre a proposta.
Só não esperavam que algumas dessas feministas iriam apresentar notas muito inferiores à expectativa delas – e da própria média do Inep.
Resultado? Criou-se um “muro das lamentações” infinito (também conhecido como “mimimi”). A mania de perseguição foi tanta que teve algumas com a audácia de dizer que a comissão de corretores era composta por machistas.
O Exame é do Ensino Médio, mas cheguei a pensar que se tratava do Jardim de Infância.
Para ajudar as “amiguinhas” feministas, as quais não me representam, chego ao objetivo principal desse texto: apresento uma lista de CINCO DICAS importantes para escrever uma boa redação no Enem e tirar uma nota acima da média. E o melhor: sem apelar para chavões feministas!
1) Diferença entre TEMA e ASSUNTO
O tema é um RECORTE do assunto. Traduzindo: o assunto é um palavra-chave que possui um significado mais amplo. No caso da última proposta, o assunto pode ser “violência” ou “mulher”. Já o tema é a delimitação desse assunto, geralmente já embutido um ponto de vista.
2) Um ponto de vista PODE SER REFUTADO
É óbvio que o ponto de vista apresentado no tema pode ser DESMENTIDO, contanto que se tenham argumentos para fazê-lo. A regra é simples: a redação é DISSERTATIVA-ARGUMENTATIVA. Sendo assim, um “machista” até pode afirmar que a persistência da violência doméstica diminuiu caso apresente dados oficiais consistentes. Afinal de contas, ele NÃO fugiu do tema.
3) Dissertação argumentativa é MUITO DIFERENTE da opinativa
É nesse ponto que muitas feministas devem ter caído em tentação. Os movimentos sociais de esquerda apelam muito para o emocional, então as jovens candidatas acabam esquecendo que é preciso apresentar os dois lados da moeda quando se fala sobre violência contra a mulher. Algo bem diferente dos TEXTÕES publicados em suas contas no Facebook.
4) “UZÓMI”, “MIGAS” e “MANAS” definitivamente NÃO garantem nota 1000
Aprendam, irmãs: panfletagem ideológica não equivale a fatos. A comissão do MEC quer saber se vocês, com um mínimo de gramática decente, conseguem esboçar episódios e circunstâncias que comprovem o ponto de vista – ou que os refutem, conforme expliquei na dica n° 2. Teve até gente que escreveu “hashtag” sem nenhum contexto. Se lhes faltam essa capacidade de desenvolvimento textual – ou se o lado passional falou mais alto – revejam se vocês não gastaram demais o valioso dinheirinho do “patriarcado”.
5) Repertório bom é sinônimo de MUITA LEITURA e PESQUISA
Não basta ser somente o “ÁS” da gramática se falta domínio sobre um assunto. E domínio requer abandonar sua visão unilateral, conforme expliquei na dica n° 4. Dessa forma, procurem sempre estar bem informadas, com autores cujos pensamentos sejam antagônicos. E o mais importante: saibam separar BEM o joio do trigo.
*(Conforme as últimas estatísticas oficiais divulgadas, a média foi de notas 501-600, que corresponde a 24% do total dos candidatos em 2014. Além disso, 8,5% zeraram a redação e somente 0,004% tiraram nota máxima. São números realmente ASSUSTADORES).
Fontes:
Guia do Estudante
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira