Embora esse tema já tenha sido abordado, nesse mesmo portal, por outro articulista, resolvi republicar um texto antigo meu, pois tem alguns pontos diferentes do texto já publicado.
Um dos sentimentos mais universais existentes é a inveja. Todo mundo já experimentou esse sentimento. Seja a criança que vê o brinquedo novo do amiguinho, seja a mulher observando outra na praia ou o homem espiando o outro no chuveiro do vestiário, seja o vizinho espionando o carro da casa da frente, o colega de trabalho tentando descobrir o salário de quem trabalha ao lado, todos sentem ou sentiram inveja alguma vez na vida. É o gordo sentindo inveja do magro. O magro sentindo inveja do forte. O forte sentindo inveja do bonito. O bonito sentindo inveja do simpático. O simpático sentindo inveja do inteligente e o inteligente querendo ser um objeto desejável sexualmente ao invés de ser só um banco de dados ambulante.
A inveja tem, como quase tudo na vida, duas faces. De um lado, ela pode ser positiva e estimular a pessoa a atingir um ponto melhor do que aquele em que ela está. Se a sua inveja da casa do vizinho te faz procurar um emprego melhor, se dedicar e comprar uma casa tão boa quanto a dele, a inveja foi positiva para você. Se o melhor salário do seu colega te fez fazer uma pós-graduação, ser promovido e ganhar tanto ou mais do que ele, foi uma “santa inveja”.
Mas nem sempre a inveja é produtiva. Aliás, geralmente ela é muito destrutiva. Quando você comenta que o seu vizinho, para ter um carro assim, “deve estar roubando”, isso é uma inveja destrutiva. Quando a mulher comenta que a gostosa “tem silicone” ou “é burra”, essa é uma inveja que não leva a nada. Quando o homem comenta sobre o bonitão que ele “deve ser viado”, está dando vazão a uma inveja destrutiva e inútil.
Sabemos que ter inveja não é bom nem bonito. Quando sentimos isso nos envergonhamos. Talvez por isso que alguns de nós tentem sublimar este sentimento transformando em algo positivo. Vamos estudar ou trabalhar mais porque não nos sentimos bem tendo inveja. Fazemos regime, musculação, cirurgias plásticas porque sentir inveja dos magros, fortes e bonitos nos incomoda.
Tudo isso é aceitável, até mesmo ter uma inveja inútil e se sentir culpado por isso é positivo, por sabermos que é uma falha nossa. Reconhecer o erro é o primeiro passo para corrigi-lo. O problema está quando transformamos a inveja disfarçando-a em um sentimento nobre, admirável, elevado. Infelizmente é isso que vemos de uma forma crescente nos últimos tempos.
Alguém já disse que o Socialismo é a transformação da inveja em ideologia política. Incomodado com o fato de algumas pessoas possuírem mais do que nós, pregamos que elas não podem ter o que conquistaram, mas que esse “excesso” é imoral e deve ser dividido entre os que nada têm e não fizeram para ter.
Ao transformar essa inveja em uma “preocupação social” ou até mesmo em “caridade cristã”, o invejoso se sente livre para continuar, cada vez mais, sentindo inveja. Aquele peso na consciência desaparece. Agora ele nem precisa fazer algo para atingir o nível de quem ele inveja, nem tentar sufocar esse sentimento. Sua inveja agora tem um ar de elevação espiritual, de abnegação em favor dos mais fracos. Para defender esses necessitados ele não hesitará em destruir aqueles que mais possuem, no fundo o seu objetivo primário. Após destruir quem está bem, se der e tiver tempo, pensará em quem está mal…
Apesar de muitos regimes socialistas oficiais terem acabado, o conceito socialista, tanto político, quanto econômico e, principalmente, ideológico, se espalhou por diversos países ditos capitalistas. Deixou o campo da economia e da política e penetrou na área dos costumes e da sociedade. Está nos filmes, novelas, livros, peças, letras de músicas e até nas artes plásticas.
Sob o abrangente nome de “minorias”, diversos grupos começaram a impor suas agendas sobre uma maioria “privilegiada” exigindo, eles mesmos, privilégios que essa maioria nunca realmente teve. Assim, um negro que sofra “injúria racial” sempre terá muito maior acolhimento por parte da Justiça do que um branco que sofra igual ofensa. Os homens japoneses são alvo de piadas desde a chegada do Kassatu Maru, por certas características físicas que não vem ao caso aqui comentar, e nunca soube de nenhum nissei que tenha ido a Justiça contra esse tipo de piada. Nos EUA, ruivos são chamados de “carrot” (cenoura). Mas chame um negro de “chocolate” pra ver o que te acontece lá.
O pretexto da escravidão sempre foi utilizado como argumento para essa defesa dos negros, inclusive por parte de alguns brancos. A população branca “devia” aos negros algo por ter escravizado seus antepassados. Isso independente desse branco ter chegado à América depois do fim da escravidão, ser descendente de um povo que não teve escravos ou até descender de um abolicionista. É um “carma coletivo” que todos os brancos do mundo têm de compartilhar, sabe lá Deus por quantos séculos.
Porém esse processo de “defesa dos direitos das minorias” foi se espalhando para outros grupos, passando aos gays, que insistem que uma agressão ou morte de um deles deve ser punida com mais rigor do que contra um heterossexual, por ser um “crime de ódio”, como se o outro não o fosse. Outros grupos também passaram a exigir direitos e indenizações baseados no fato de “se sentirem discriminados”. Então, o obeso mórbido entala na roleta ou não consegue sentar numa cadeira de avião e, ao invés de parar para pensar que talvez seja hora de começar um regime, até para o seu bem, opta por abrir um boletim de ocorrência.
A princípio, temos a nítida sensação de que essa pessoa está “lutando por seus direitos”, mas se analisarmos com um pouco mais de calma veremos que, por trás de muitos desses casos, embora não todos, o que temos é somente a inveja disfarçada. Uma inveja sublimada em “ativismo”. Aliás, observem como o nome “ativista” muitas vezes esconde alguém que simplesmente está com inveja de outros e não quer admitir isso, preferindo assumir um ar de paladino da justiça.
Vocês conseguem imaginar um protesto de pessoas bonitas contra o preconceito de serem, muitas vezes acusadas de burras? Ou de homens negros contra o estereótipo de serem bem dotados? Ou de orientais por serem sempre considerados CDFs? Todos eles sofrem preconceito, que é um conceito formulado a priori.
Então o problema não é o preconceito? Então o que é? É a sensação de inferioridade que a pessoa sente e que a faz se achar discriminada. O problema está na discriminação? Dentro de certos limites, não. É óbvio que uma política que não permita que negros ou gays entrem num recinto é abjeta e tem que ser combatida com todas as forças em uma sociedade democrática. Mas policiar os pensamentos das pessoas é coisa das piores ditaduras criadas pela ficção científica!
Agora, o pior de tudo. Ao reforçar a separação entre negros e brancos, gays e heteros, bonitos e feios, gordos e magros, a sensação de inveja, ou melhor, de “discriminação” diminui? Claro que não! Agora eu não sou um indivíduo. Eu sou um negro. Eu sou um gay. Sou uma lésbica transexual. Sou uma modelo “plus size”, ou seja, não entro nas roupas comuns, sou um “oprimido”. Quando a sensação ruim que eu chamo de inveja, mas que eles chamam de discriminação vai passar? Nunca. Ela só irá aumentar. A menos que todos se tornem negros, gays e obesos. Mas aí, desconfio que ainda terá aqueles que serão mais negros, mais gays ou mais obesos que o resto.
Acho importante que, ao ver um desses ativistas, nos perguntemos “inveja de quem ele tem?”. Isso ajudará bastante a não cair na armadilha de achar que ele é um ser abnegado, defensor de direitos fundamentais. Se você é um desses citados, tente fazer essa pergunta a você mesmo. Não fuja da resposta. Quem sabe você consiga transformar a inveja sublimada numa inveja consciente e isso já será meio passo para a mudança.