BREXIT e o início do fim da União Européia?

Quinta-feira, dia 23/06/2016, os britânicos foram às urnas para tomarem a decisão mais importante para o futuro deles, e da União Europeia, neste novo século, aliás, neste novo milênio, que foi a saída do Reino Unido (composto por Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte) do bloco de países que formam a União Europeia.

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Os quatro países que formam o Reino Unido (em laranja) e suas respectivas capitais (quadrados vermelhos) – Créditos da imagem: viagemreinounido.wordpress.com

O BREXIT, que é uma composição das palavras “BRITAIN + EXIT”, que em tradução literal seria algo como “SAÍDA BRITÂNICA”, teve seu êxito com uma pequena margem sobre os que defendiam a permanência do Reino Unido no bloco europeu, 51,9% dos britânicos optaram pela ruptura, contra 48,1%; em números absolutos 17.410.742 votos a favor da saída enquanto os que defendiam a permanência somaram 16.141.241, com uma participação maciça de 74% do eleitorado.

A mídia como um todo quer fazer o público entender que a saída do Reino Unido foi uma decisão xenofóbica, ou seja, os britânicos quiseram sair por terem “aversão a imigrantes”; o 1º ponto é que, a questão da imigração, principalmente de refugiados da guerra síria e de países árabes do modo que vinha sendo concebido pela ONU em parceria com a União Europeia (UE) preocupa grande parte dos britânicos e de outros países do bloco europeu também, por impor, de cima pra baixo, uma “cota” de imigrantes que cada país deveria abrigar obrigatoriamente; ora se olharmos o mapa das ditas “ondas migratórias” veremos que, geograficamente falando, as ilhas britânicas ficam bem longe das portas de entrada do continente europeu que adentram principalmente pela Itália e Grécia, ou seja, o Reino Unido perderia a sua natural vantagem estratégica geográfica de isolamento “pagando o pato” porque outros países não conseguem controlar suas fronteiras e não conseguem absorver tantos imigrantes. Veja bem em nenhum momento o Reino Unido e os defensores do BREXIT falaram que haverá um “fechamento de portas” para a imigração, mas os imigrantes, incluindo os que entrarem com pedido de asilo, por serem refugiados, terão que se submeter ao crivo das leis britânicas (que sempre existiram) e não a imposição da UE. O 2º ponto é a questão do terrorismo, já é sabido de todos, que no meio de centenas de, digamos, “verdadeiros refugiados”, ou seja, de cidadãos que fogem de seus países por guerras e/ou perseguições religiosas há um ou dois terroristas infiltrados e não, eles não cruzaram as fronteiras europeias munidos de explosivos no corpo ou de armas em punho, não, claro que não, eles vão estropiados, esfarrapados e até machucados para passarem despercebidos, verdadeiros “lobos em pele de cordeiro”; e assim conseguirão sua nova nacionalidade, na Alemanha, França ou Inglaterra (os três destinos mais desejados pelos imigrantes), trabalharão, construirão uma vida, quiçá até uma reputação ilibada, até o dia em que receberem “o chamado” (do ÍSIS, da Al-Qaeda ou qualquer outro grupo terrorista) e prepararem calmamente um novo massacre contra cidadão inocentes na terra que tão bem o acolheu.

Cavalo-de-Tróia

Mas existe outro motivo para manter tamanho apoio ao Brexit? Sim, aquele que move o mundo capitalista, ou seja, o motivo econômico. Veja bem a União Europeia é um conglomerado de 27 países (já contando com o Reino Unido fora) em que há disparidades absurdas entre seus membros e não estamos nos atendo a questão cultural, claro que não, mesmo porque se fosse esse um parâmetro a Grécia, berço da civilização ocidental, seria uma potência e não! Ela é uma âncora que puxa todo o bloco europeu para baixo e não só ela, Portugal e Espanha não vivem situação econômica das melhores também e vivem sendo “resgatados” de crises mais severas com apoio financeiro da UE. É disto também que os britânicos desejam fugir e com razão. Ora eles são a 2ª economia mais importante do bloco (atrás apenas da alemã) e a 5ª maior do mundo (EUA, China, Japão e Alemanha a frente respectivamente) e veem correções de impostos, por exemplo, serem ditadas pela Assembleia da União Europeia que, digamos, agrada 80% dos países membros, mas que, se não prejudica, também não surte efeito benéfico algum na economia local britânica.

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No gráfico os 28 países integrantes da União Européia e suas respectivas datas de adesão ao bloco europeu. E agora com o Reino Unido fora do bloco. Fonte da imagem: http://www.m1420.gov-madeira.pt/

É dessas amarras que o Reino Unido que ser soltar. Um grupo é bom em dois casos: quando você é um membro fraco dele e tem os “grandalhões” para te proteger ou quando você é forte e tem outros membros tão ou mais fortes que você e há uma real troca de vantagens entre todos; e infelizmente o que acontece na atual União Europeia é que temos dois grandalhões – Alemanha e Reino Unido (representado em sua imensa maioria pela Inglaterra) – que protegem uma imensidão de fracotes a tiracolo. E meus amigos… tem uma hora que cansa!

Bem e como ficará o Reino Unido? Tudo leva a crer que bem. Esta é a resposta mais simplória, mas de todo a mais correta. Dizer que ela será assolada por um isolamento terrível e entrará em um amargo período de recessão é tão tolo quanto dizer que ela entrará numa espiral ascendente e terá níveis chineses de crescimento econômico. Como disse o atual Primeiro-Ministro David Cameron, que já disse que entregará o cargo em outubro, “nada mudará no curto prazo”. Mesmo porque o Reino Unido ainda pertence à União Europeia e cabe a Assembleia do bloco deliberar sobre a saída de um de seus membros, que pode levar de 6 meses até 2 anos, para que se conclua todo o processo; mas o entendimento em Bruxelas, sede da UE, é de que se conclua o processo o quanto antes para evitar mais traumas. E a médio e longo prazo então? Bem aí dependendo de como diversos fatores internos e externos ao Reino Unido se comportarem a tendência será de crescimento econômico ou manutenção do atual ritmo; internamente, provavelmente assumirá o também conservador Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, mas que dentro do mesmo partido de Cameron estavam diametralmente opostos, o atual Primeiro Ministro era a favor da continuidade com o bloco europeu (e pela derrota no plebiscito anunciou que renunciaria) e o seu colega de partido era a favor da saída. No âmbito externo EUA (independente do próximo presidente ser Trump ou Hillary) já declarou que continuará mantendo as melhores relações tanto no espectro social, econômico como militar; a China já anunciou que respeita a decisão soberana do Reino Unido e continuará sendo um grande parceiro comercial; o restante do mundo não deverá ignorar um mercado rico como o mercado britânico. E a incógnita será como se portará a União Europeia; fará “birra” e taxará excessivamente os produtos ingleses que adentrarem o bloco e fará boicote quando possível? É possível, mas quase improvável que isso ocorra. O mais provável é que o Reino Unido passe a ser um dos maiores parceiros comerciais da União Europeia com negociações comerciais que gerem benefícios mútuos.

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À esquerda, o ex-prefeito de Londres, Boris Johnson e à direta, o ainda atual Primeiro Ministro inglês, David Cameron; ambos do Partido Conservador. Créditos da foto: mirror.co.uk

E como ficará a União Europeia sem o Reino Unido? Como eu disse mais acima um dos “grandalhões” pulou fora do barco. E não era qualquer grandalhão era o 2º mais forte do grupo! Agora a Alemanha, principalmente, mas também a França e a Itália sentirão o peso de administrar esse “balaio de gatos” que é a reunião de países com situações fiscais/econômicas tão díspares entre si. Mas a bomba mesmo virá se os franceses elegerem a ultranacionalista Marine Le Pen, que está entre os favoritos, nas próximas eleições presidências que ocorrerão ano que vem na França. Le Pen já disse que com o sucesso do Brexit quer lançar plebiscito semelhante para que os franceses decidam pela saída ou não do seu país do bloco europeu. Aí meus amigos caso ocorra um “Francexit” é bye bye, ou se preferir, au revoir União Européia.

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Marine Le Pen escreveu em seu Twitter (em uma transcrição literal): “Vitória da liberdade. Como tenho dito há anos, nós agora devemos ter o mesmo referendo na França e em outros países na UE”

O restante do mundo eu já pincelei dizendo que não sofrerá grandes abalos com o Brexit, mas e o Brasil? Bem o Brasil é um caso a parte e o porquê disso se chama Mercosul esse entrave maior ao nosso comércio exterior (entenda melhor neste outro artigo de minha autoria). O Brasil do atual presidente em exercício Michel Temer e do chanceler de Relações Exteriores José Serra pretende o quanto antes modificar uma cláusula pétrea do Mercosul que emperra os países-membros de fazerem acordos bilaterais à parte do bloco; tal medida já conta com o apoio de Argentina e Paraguai encontrando resistência maior na Venezuela e na Bolívia e com o Uruguai ainda em cima do muro. Bem derrubada tal cláusula será vantajoso para o Brasil negociar diretamente com o Reino Unido e deixar a negociação com a União Europeia ser feita infelizmente via Mercosul como já vem sendo feita a vários anos (ler o mesmo artigo anterior).

Então lembremos um pouco de história… O Reino Unido, na figura principal da Inglaterra, sobreviveu ao fim do Império Britânico, com suas inúmeras colônias e possessões, que lhe garantiam um aporte enorme de mercadorias e eram um “mercado interno ‘literalmente’ cativo” aos seus produtos industrializados; porque não sobreviverá e sairá fortalecido da cisão com a União Europeia?! Claro que sim! A receita britânica dará certo para todos os outros membros da UE? Claro que não! Apenas para os “grandalhões” e se estes debandarem os pequeninos não conseguirão sustentar-se a si mesmos que dirá a um bloco inteiro.

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