Muitas pessoas talvez não se lembrem disso, mas em 2013, mais precisamente no mês de junho, “O Gigante Acordou”. Milhões de pessoas tomaram as ruas para protestar contra… Contra… É… Contra o quê mesmo?
Pois é.
Protestaram contra muita coisa naqueles dias. No entanto, tudo começou por causa dos vinte centavos. Apesar do slogan largamente usado na época, “Não é só pelos 20 centavos” não poderia ser mais falso. Tudo começou por conta desses benditos vinte centavos e isso desencadeou um movimento popular sem volta, sem controle, sem rumo e, inicialmente, até mesmo sem pautas. Como Flávio Morgenstern bem explicou em seu livro “Por trás da máscara”, o ponto de partida foi o Movimento Passe Livre e sub partidos da mais extrema esquerda.
A ironia do destino foi que o povo, tão acostumado a ser feito de bobo, diferentemente de todas as outras vezes em que o MPL protestou atrapalhando o trânsito e o já péssimo andamento da cidade, decidiu aderir ao movimento de parar ar ruas para reivindicar algumas coisinhas também. A questão é que o povão mesmo, as pessoas que de verdade trabalham e sustentam a classe política todos os dias, não estavam assim tão preocupadas com o preço da passagem. Para elas, assim como para a esmagadora maioria dos brasileiros, havia outros problemas de muito maior gravidade, como a corrupção, a saúde pública caindo aos pedaços, a segurança pública completamente falida, a lentidão do sistema judiciário, etc.
Foi aí que surgiram diversos protestos paralelos dentro das mesmas passeatas, e os mais diversos e absurdos cartazes apareciam, alguns exigindo o fim das regalias para políticos, outros contra a PEC 37, que a maioria das pessoas nem mesmo sabia o que era, e também isso:
O maior problema para a extrema-esquerda nisso tudo é que a coisa saiu completamente do controle. Se no início os protestos eram controlados pelos grupos deles próprios, direcionados para aquilo que são treinados, depois que a coisa degringolou eles não só eram minoria como eram praticamente irrelevantes. Simplesmente não tiveram como conter a população real, aquela que não está a fim de ser liderada por moleques universitários produtores de colar de miçanga. As manifestações engrossaram e o que tomou conta foram as pessoas sem nenhuma ligação partidária ou ideológica, gente comum que pega ônibus todo dia, que trabalha, que acorda cedo e que não possui, de fato, muito entendimento do mundo político. O MPL se tornou completamente secundário nisso tudo.
Foi justamente no âmago de uma manifestação inicialmente de extrema-esquerda que surgiu, portanto, a bandeira do impeachment de Dilma Rousseff. A princípio uma bandeira tratada com desprezo, mas que ganhou força entre 2013 e 2014 e, com a reeleição de Dilma somada de seu estelionato eleitoral, culminou justamente no movimento Vem Pra Rua, nome que foi escolhido a partir de um slogan utilizado nas manifestações de 2013. Também em 2014, no mês de dezembro, surge o Movimento Brasil Livre, mais conhecido por sua sigla MBL. E a partir disso foi ladeira abaixo para o PT.
Esses movimentos naturalmente não possuem o monopólio sobre o impeachment. A deposição de Dilma é uma reivindicação popular que tomou corpo após os sucessivos erros e crimes desmascarados no segundo mandato da presidente. A população, de modo geral, ficou revoltada logo após a reeleição de Dilma, quando descobriu que a presidente havia fraudado contas para que a bomba estourasse apenas depois de reeleita. Também houve revolta por conta da mentira sobre as taxas de energia elétrica, que tiveram diversos aumentos no ano de 2015. E isso tudo sem falar nas pedaladas fiscais, no na refinaria de Pasadena, entre outras falcatruas que deixaram o povo de saco cheio.
No entanto, é verdadeiro dizer que tudo isso começou em 2013, e devo agradecer especialmente ao Movimento Passe Livre por isso. Eles foram responsáveis indiretos pela maior mobilização popular das últimas décadas, e justamente contra o partido que os sustenta. Parabéns pela coragem, grandes guerreiros!