Compareci ao segundo dia do Congresso do Movimento Brasil Livre (MBL) ocorrido nesse final de semana. Como não estava com muita vontade de ir, fui somente no dia em que os palestrantes mais me atraíram. O que posso dizer é que saí de lá arrependido de não ter ido nos dois dias.
É o segundo ano do evento e, se a questão da organização ainda tenha muito que melhorar, a escolha dos palestrantes, o formato e os temas foram irrepreensíveis.
Chegamos a um belo prédio da Avenida Angélica, num auditório extremamente confortável (até tomada para carregar celulares, tablets e notebooks cada assento possuía!) e que estava quase cheio. Destaco que a imensa maioria dos participantes era formada por jovens, divididos em três visuais básicos: os jovens vestidos de forma tradicional; os hipsters e aqueles com aspecto se hippie. Não deixa de ser interessante ver como jovens que pelo visual você juraria serem de esquerda, agora também são de direita. Um ponto positivo foi o grande número de negros entre os participantes, talvez fruto do efeito Fernando Holiday criando exemplo de negro de direita.
As palestras foram divididas em blocos com dois ou três palestrantes com temas correlatos. Isso permitiu formatos bastante interessantes de apresentações. Logo a primeira palestra já foi uma grata surpresa. Sigo Stephen Kanitz há tempos no Facebook e sempre o leio falando de economia, administração e, às vezes, política. Foi ele que, uma semana antes da eleição americana, postou que Hillary nunca havia estado na frente nas pesquisas. Com seu conhecimento de economia, Kanitz sabe interpretar dados e gráficos e sua leitura das pesquisas apontou para o resultado verdadeiro, cobrindo de vergonha quem é pago para fazer isso. Mas Kanitz não falou de nenhum desses assuntos. Numa palestra bem humorada ele explicou como surgiu o conceito de família na sociedade e por que esse conceito era importante para o capitalismo.
Logo a seguir, Filipe Barros explicou, de forma bem didática, como a destruição da família serve à Esquerda e por que os liberais também precisam defendê-la. Tela azul na minha cabeça. Quem achava que um evento do MBL seria só sobre economia, liberalismo e que defenderia uma liberdade irrestrita, como muitos conservadores pensam, se deparou com duas palestras em defesa da família que, além de mudar a imagem do evento, deve ter mudado a cabeça de muito liberal ali.
O bloco seguinte trouxe dois deputados federais: Darcísio Perondi (PMDB), relator da PEC do teto de gastos, e Paulo Eduardo Martins (PSDB). Perondi foi muito simpático embora tenha se alongado demais, o que levou a organização a fazer uma mudança. O Prefeito eleito de São Paulo, João Dória Jr. havia chegado para sua palestra e, devido a questões de tempo, ele falou após Perondi. Dono de um verbo fácil, impecável e seguro, Dória conquistou a todos, sendo aplaudido de pé. Sua defesa do capitalismo, das privatizações e da luta contra o PT já eram conhecidas, mas ele se mostrou extremamente habilidoso na parte de perguntas. Ao ser perguntado se não era um contrassenso escolher Soninha Francine para sua equipe, Dória defendeu as boas intenções dela e garantiu que ela estaria sendo preparada para fazer um ótimo trabalho e se comprometeu a ser questionado novamente em um ano. Mas deixou bem claro que a responsabilidade era dele. Que um eventual mau desempenho de Soninha seria culpa dele.
Após a palestra de Dória, Paulo Eduardo Martins fez uma exposição curta, porém poderosa, mostrando como o imposto sindical criava uma situação de injustiça no Brasil. Cada partido, hoje, recebe um valor muito menor do que os sindicatos recebem via imposto sindical. Com isso, o partido que tiver apoio dos sindicatos tem uma verba absurdamente maior que os outros. Por isso o deputado apresentou projeto de lei extinguindo o imposto sindical.
Após o almoço, foi a vez do trio Kim Kataguiri (que chegou atrasado), Bruno Garshagen e Danilo Gentili (que confirmou de última hora e não constava do programa). Danilo foi uma grata surpresa. Sem deixar de pontuar aqui e ali com algum humor, ele falou de forma extremamente simples e séria dos motivos que o levaram a nadar contra a corrente do politicamente correto. Mostrou humildade ao admitir que ainda estava aprendendo sobre política, mas arrematou de forma perfeita ao dizer que não pretende fazer humor de conteúdo exclusivamente político ou proselitista, “senão ficaria chato como o Gregório Duvidier”.
A palestra de Bruno Garshagen foi, como era de se esperar, muito bem feita e correta, embora ele tenha tido uma participação apagada na seção de perguntas e respostas, talvez por uma personalidade mais tímida. Kim Kataguiri falou muito bem, defendendo que os liberais tomem da Esquerda o monopólio das ações que interessam aos jovens. Criticou o hábito dos liberais só falarem de economia, livre mercado, Mises e Hayek, o que espanta os jovens das ideias de direita, enquanto a Esquerda faz festas e eventos divertidos.
Finalmente chegamos à parte mais esperada por mim. De todos os formadores de opinião da Direita, aquele que eu mais admiro e leio atentamente, Alexandre Borges, fez uma palestra juntamente com Flávio Morgenstern. Como se não bastasse o conteúdo extremamente importante, mostrando como a mídia oficial manipula ou, pelo menos, tenta manipular a opinião pública, os dois fizeram a palestra de forma simultânea, algo extremamente difícil de se fazer. Cada slide era explicado por um deles e o seguinte era explicado pelo outro, porém sem perder a unidade. Não sei quanto tempo Alexandre e Flávio ensaiaram aquilo, mas foi impressionante. A palestra, apesar do tema seríssimo, foi bastante descontraída e bem humorada.
O Ministro Mendonça Filho falou sobre os projetos para a educação e rebateu as críticas da Esquerda sobre a PEC do limite dos gastos e a reforma do ensino médio. Foi bastante convincente. Infelizmente, ao final, declarou que não é favorável ao Projeto Escola Sem Partido por acreditar ser de difícil implementação um controle sobre o conteúdo das aulas, embora reconheça que o professor não deve se aproveitar da audiência cativa dos alunos para incutir suas próprias ideias políticas.
Ovacionada de pé, Janaína Paschoal chegou ao palco, onde fez uma exposição extremamente didática e surpreendente. Ela mostrou que alguns pontos das medidas anti-corrupção, embora pareçam positivas, podem vir a levar a uma concentração de poder perigosa e que a não aprovação desse pacote em nada prejudicará a Lava-Jato. Também chamou a atenção para os verdadeiros riscos às investigações contidos nesse projeto contra “abuso de poder” que Renan Calheiros vem defendendo.
Como tudo que é bom tem que ter um ponto negativo, esse ficou por conta do último palestrante do dia, Reinaldo Azevedo. O conteúdo de sua palestra só reforçou as críticas que ele já vinha fazendo a Sérgio Moro, Dalagnol e Ministério Público. Até aí, tudo bem. Já sabíamos que, nos últimos tempos, Reinaldo vinha atacando a Lava-Jato. Aliás, qualquer ação policial contra políticos corruptos parece indigná-lo ao extremo. Porém, o que me incomodou foi o tom agressivo dele. No início da palestra chegou a parecer que a agressividade era direcionada aos participantes do congresso, talvez pela tietagem explícita para com Janaína Paschoal. Como já tem sido comum, nos últimos tempos, Reinaldo entrou em contradição. No início da palestra posou de paladino da legalidade, criticando o que considera excessos da polícia federal e de Sérgio Moro, para depois afirmar que, não prenderia Lula para não criar um mártir. Ou seja, a lei deve ser cumprida à risca, exceto nas situações que desagradem Reinaldo.
Mas o balanço final foi bastante positivo. Torço para que o MBL disponibilize essas palestras pela internet, o que seria de grande auxílio tanto para os liberais, quanto a muito conservador e até a alguns esquerdistas de boa fé.