Trump, 100 dias em trinta e poucos – Uma avaliação objetiva (mas opinada)

Tenho notado, inclusive de pessoas que respeito muito, uma avaliação do governo de Donald Trump que não me parece baseada em fatos, mas em emoção. Eu não gosto da pessoa do Trump. Em um mundo ideal, outra pessoa seria presidente dos USA, mas, e isto é vital, Hilary Clinton também não seria. Minha aversão por Hilary, e por tudo que ela representa, é compartilhada por muitos Democratas americanos. Trump ganhou a eleição contra uma pessoa corrupta e sem caráter e não contra uma pessoa muito melhor do que ele.

Em seus primeiros dias de governo (apesar da foto, não foram 100) existem coisas que Trump fez e outras, obviamente, que ele não fez. Talvez não tenha feito ainda. Quando foi uma promessa de campanha podemos especular racionalmente. Mas qualquer análise séria deveria evitar ilações baseadas em coisas como “este é o tipo de coisa que um homem como Trump faria”. Acho ridículo argumentos que, por exemplo, comparam Trump com Hitler e projetam o governo Trump com base nas ações de Hitler.

Vou tentar fazer uma análise baseada em fatos. Obviamente vou colocar minha opinião e vou fazer isto logo de cara, separando o que critico e o que apoio no governo Trump. Análises diferentes podem ser feitas, basedas nos mesmos fatos, por pessoas ideologicamente distantes de mim. Mas que sejam, por favor, baseadas nos fatos.

O que critico em Trump:

  • Trump é um homem grosseiro. Eu sou um elitista. Um chefe de estado deve, idealmente, representar o melhor do seu povo. Ele deve ser culto, inteligente, virtuoso e possuir uma certa majestade. Se eu tinha vergonha de ter um Lula como presidente, não posso, por coerência, achar bonitinho um Trump na Casa Branca.
  • Trump fala demais. Se você tem quase 100% da imprensa odiando você e pronta para não só distorcer tudo que você fala ou faz, como recorrer a mentiras descaradas, o mínimo que você pode fazer é pensar no que fala. Trump faz o oposto. Ele faz uso do twiter como se estivesse desabafando com amigos. Falar mal de um pais no mesmo dia em que vai encontrar com o chefe de estado deste pais é o fim da picada. Ele nem se preocupa em validar as informações que coloca em suas comunicações. Lamentável!
  • Trump é excessivamente protecionista. Não me entenda mal. Não estou criticando a ideia de “America First”. Esta ideia é apenas bom senso e acho difícil alguém consistentemente criticá-la. O Presidente dos US é eleito para tratar dos interesses do povo americano. Prejudicar os interesses deste povo por motivos ideológicos é desvio de conduta. Gostaria que, em 2006, o Brasil tivesse um presidente com a política “Brasil First”, que não tivesse apoiado o roubo de propriedade da Petrobras pela Bolívia. O problema, não é este. O problema é que sou um liberal clássico que acha que é prejudicial para a economia de um pais que ele tenha políticas protecionistas excessivas. Trump prometeu estas políticas e, aparentemente, ele leva anormalmente a sério o que prometeu em campanha. Mas, e este é um ponto importante, ele ainda não implementou estas políticas. Existem maneiras relativamente benignas de estimular que fábricas de empresas americanas sejam totalmente transferidas para países como a China. Vou esperar pelo que ele realmente fará antes de criticar.

O que apoio nas medidas que Trump tomou:

  • Imigrante ilegal é, bem, … ilegal. Eu tenho dificuldade de entender a mentalidade de gente que acha que imigrante ilegal não só tem, de alguma forma, o ‘direito’ de permanecer no país, mas também deve receber benefícios sociais. Donald Trump cometeu, o “absurdo” de emitir uma Ordem Executiva definido que as Leis de Imigração sejam aplicadas e autorizando a contratação de 10.000 oficiais de imigração para este efeito. Entendo que, para um brasileiro de esquerda, um presidente que não só cumpre suas promessas de campanha, mas que exige o cumprimento da lei deva ser um horror, mas isto tem todo o meu apoio. Meu único comentário é que tenho sérias dúvidas se o famoso muro será uma medida efetiva contra a imigração ilegal e o tráfico de drogas. Bill Clinton começou a construção das primeiras 325 milhas deste muro. Talvez quando o comprimento total de 1.000 milhas esteja pronto ele se torne mais efetivo, mas eu tenho dúvidas. Acho que, por exemplo, satélites monitorando a fronteira e um uma guarda de fronteira numerosa e bem equipada poderia ser mais efetivo. Mas este é um ponto pragmático e não político.
  • Ninguém tem direito de entrar em outro país, seja para visitar, ou como imigrante. Estas coisas são livremente ofertadas por um país, seja por critérios humanitários, seja por necessidade do próprio país. Nos USA, um estrangeiro com habilidade extraordinária é elegível para um visto prioritário de imigrante EB-1. Imigrantes menos extraordinários, mas com alta capacitação são normalmente bem-vindos nos USA. Além disso um certo nível de imigração ajuda a oxigenar uma cultura. Este nível deve ser definido pelo momento econômico e social do pais. Mesmo imigração humanitária deve ser limitada a capacidade de absorção dos imigrantes no país. E, evidentemente, é uma irresponsabilidade permitir a imigração, ou mesmo a entrada no país de pessoas que possam prejudicar os americanos com suas ações. A Ordem Executiva 13769 estabeleceu limites para refugiados e suspendeu por 120 dias a entrada nos USA de cidadãos de países que, durante a administração Obama, foram classificados como não atendendo Lei de Imigração e Nacionalidade. Esta lista (ressalto que definida por Obama) inclui o Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen. A mesma ordem executiva permite que, dentro de uma análise caso a caso, a proibição de entrada seja revogada. Minha única crítica é que a ordem deveria ter sido emitida com um prazo de, por exemplo, três dias de antecedência, para não afetar ninguém em trânsito. Mas devo ressaltar que não considero este ponto um erro leve. A implementação imediata da Ordem Executiva foi algo desumano.
  • Em uma época em que empreitadas ambiciosas, como a União Europeia, estão em crise, é prudente ser crítico sobre grandes tratados multilaterais. Eu adoro zonas de livre comércio, mas um cheiro de peixe podre saia da Parceria Trans-Pacífica. Para começar, o acordo era um monstro enorme e complicado. Isto nunca é bom sinal. Além disso ele possuía clausulas que foram negociadas em segredo e que são desconhecidas para o povo americano. O segredo faz parte da diplomacia, mas isto, normalmente, não inclui negociações comerciais. Quando Paul Krugman se coloca contra uma política feita por um governo Democrata é bom prestar atenção.
  • O Obamacare foi mal concebido e foi implementado de forma autoritária e incompetente. Ele nunca funcionou corretamente e não demonstrou os benefícios que alegadamente justificaram sua criação. Financeiramente, o programa estava mal das pernas, uma vez que as premissas que permitiriam que ele funcionasse eram, como muitos críticos avisaram, irrealistas. Acabar com ele é antecipar sua autodestruição e abrir caminho para algo melhor. Resta saber o que Trump efetivamente fará.
  • Eu não escondo de ninguém que acho que o histerismo ambientalista passou de todos os limites e deve ser combatido. Em primeiro lugar devem estar os interesses dos seres humanos. Os modelos usados por climatologistas são altamente questionáveis e, mesmo que forem verdadeiros, estes modelos preveem que a implementação total dos acordos ambientais adiaria o suposto desastre climático por apenas alguns anos. O que é certo é que o custo econômico da implementação destas políticas seria imenso. Além disso, o licenciamento ambiental usa políticas tão avessas ao risco que se tornam absurdas. Sei que isto é polêmico e que muitos discordarão de mim, mas acho refrescante que exista uma oposição política aos eco-loucos. Neste aspecto, apoio a revisão da proibição da construção dos pipelines de Dakota Access e Keystone XL, da mesma forma que aplaudi quando Dilma Rousseff atuou pesadamente contra os burocratas que, por motivos meramente ideológicos, e de forma autocrática, prejudicaram tanto Belo Monte.
  • A política de regulação de Trump é minha favorita. A Ordem Executiva 13771 (Redução de Regulamentação e Controle de Custos Regulatórios), por exemplo, define que as Agências de Regulamentação revoguem dois regulamentos existentes para cada novo regulamento, e devem fazê-lo de tal forma que o custo total decorrente dos regulamentos, para as empresas e pessoas nos USA, não aumente. Isto é música para os meus ouvidos.

Em resumo, neste início de governo Trump, nada aconteceu para que eu passasse a gostar dele. No entanto, minha avaliação das ações executivas que ele efetivamente tomou é altamente positiva. Me reservo o direito de julgar futuras ações caso a caso. Mas faço um apelo para que as pessoas com capacidade de pensamento crítico busquem os fatos sobre o governo Trump e filtrem o que a impressa diz. Lembrem-se que esta é a mesma imprensa que previu uma vitória fácil de Hillary. “Trust no one, the truth is out there”.

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