E se os relacionamentos fossem regulados pelo Estado?

Em um universo paralelo, não muito distante, havia um grande problema de injustiça dentro dos lares. As tarefas domésticas não eram divididas de forma igualitária… As mulheres sempre acabavam ficando com a maior parte da tarefas.

Na hora de escolher um homem para casar, as mulheres nunca adotavam como requisito o fato do homem ser disposto a realizar tarefas domésticas, ou não. Para elas, esse era um critério irrelevante na hora de escolher seu futuro marido. Porém, ao se ver em um casamento com uma divisão de tarefas injusta, geralmente a mulher não atribuía a culpa à sua má escolha, mas sim à sociedade e às leis.

Mas havia um Estado com um governo justo e solidário, que se dispôs a erradicar esse problema!

Seus legisladores então criaram uma lei que obrigava os maridos a dividirem as tarefas de forma equitativa.

Problema resolvido, oras! Claro que sim!

Será? Como fiscalizar isso?

Ao se sentir injustiçada na divisão de tarefas, a mulher poderia fazer um Boletim de Ocorrência, e assim o marido seria devidamente inquirido, processado e punido.

Mas ainda havia um problema: muitos achavam injusto o fato da palavra da mulher servir como prova.

Era uma queixa injusta, afinal, mulher nunca mente… Mas mesmo assim, o assunto foi pauta de muito debate e demandava uma solução.

Mas o Estado é perfeito e nunca pode deixar um problema sem solução. Não se aflijam!

Foi dado então, um grande passo em direção da justiça social matrimonial!

Foi criada a ANARRA (Agência Nacional Reguladora de Relacionamentos Amorosos) uma agência reguladora estatal justa e solidária cuja função seria regular os relacionamentos, impedindo quaisquer tipos de injustiças matrimoniais.

Para que pudesse cumprir com suas funções e resolver o impasse, a ANARRA precisava ter poder total de fiscalização sobre a vida dos casais. Foi feito então um decreto determinando que a ANARRA poderia instalar câmeras em todos os cômodos da residência de um casal, caso isso fosse requisitado por um cônjuge que se sentisse injustiçado.

Mas isso gerou mais um impasse: muitos militantes de movimentos sociais ficaram indignados com o fato da instalação câmera depender de uma requisição de um dos cônjuges. É claro que muitas esposas seriam coagidas por seus maridos, a não requisitarem a instalação das câmeras…

O Estado não poderia deixar essa questão sem uma solução eficaz. Foi feito então um novo decreto, determinando que a ANARRA deveria instalar câmeras em todas as residências.

Assim, finalmente a fiscalização da justiça social matrimonial poderia ser exercida de forma plena, por agentes do governo especialistas em relacionamentos, dotados de um verdadeiro senso de justiça.

Afinal, os cidadãos comuns não estão qualificados para decidir sobre os impasses em suas relações interpessoais de forma justa, pois lhes falta informação. Nada mais correto, então, do que deixar esses assuntos para serem resolvidos por agentes públicos especialistas, que realmente entendem do assunto e tem seu conhecimento atestado por uma aprovação em um concurso, não é mesmo?

Enfim, todos os casais foram regulamentados e “felizes” para sempre!

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