Reforma na educação brasileira: necessária, urgente e inevitável

Ouve-se peremptoriamente que a educação é o instrumento para a produtividade e o capital humano de uma nação. É verdade! No entanto, no Brasil ela é relegada a segundo plano. Afinal, um povo educado (da maneira correta) implica num povo com maior senso crítico para inteirar-se sobre o que ocorre ao seu redor, questionar e cobrar soluções em relação a abusos, ilegalidades e arbitrariedades. O Brasil, comprovadamente, possui uma Educação Básica obsoleta, engessada e completamente desestimulante para o aluno, onde a “decoreba”, com o único propósito de ingressar à Academia, deu lugar ao conhecimento e à aprendizagem do conteúdo, de fato.

Após mais de duas décadas de muito falatório e discussão inútil, finalmente o atual governo sinalizou o deferimento de uma Medida Provisória que estabelece um modelo mais flexível na condução do Ensino Médio. O mais difícil será a adaptação por parte das escolas, porém só o fato de dar os primeiros passos para impor essas mudanças já representa uma esperança para a melhor segurança e compromisso dos estudantes com as aulas. No atual modelo, os alunos possuem em torno de 13 disciplinas de caráter obrigatório e todos eles têm que aprender o mesmo conteúdo durante todo o processo, de forma mecanizada. Resumindo: o estudante tem que “aprender” tudo ou quase tudo concomitantemente ao longo de três anos.

Já é comprovado que o excesso de conteúdo curricular acarreta em um aprendizado deficiente, em pouco conhecimento, desestimulando o gosto de frequentar a escola por parte dos discentes. De acordo com o último levantamento pelo Movimento Todos Pela Educação (TPE), somente 54% dos alunos concluem o Ensino Médio até os 19 anos, ou seja, a decadência da Educação Básica no Brasil favorece o alto contingente de evasões. Conforme o Censo Escolar de 2015, cerca de 1,6 milhão de jovens se encontram fora da escola, um índice alarmante.

No Ensino Médio, muitos jovens já possuem a percepção acerca das áreas com as quais mais se identificam na escolha da profissão que pretendem exercer. Por que um aluno com maior habilidade em disciplinas de Humanas (história, português, geografia ou língua estrangeira, por exemplo) tem que se submeter fidedignamente à maratona minuciosa de fórmulas de física, nomenclaturas de biologia e cálculos de matemática, uma vez que ele tem dificuldade em decodificar? Será que mais adiante ele irá aplicar toda essa extensão curricular na vida profissional ou em práticas sociais? A pergunta pode ser feita em relação a um aluno com talento para Exatas, tendo que se aprofundar cronologicamente em tópicos de história ou em regras aprofundadas de regência ou concordância normal e verbal.

A individualidade do aluno tem que prevalecer ao dar-lhe a liberdade de escolher disciplinas em que seu desempenho seja notável. Claro que um currículo obrigatório deve seguir em vigência, porém sem tanto rigor no tempo em que estiver na escola – e de modo mais sucinto, enxuto e multidisciplinar. Se for o caso e conforme a necessidade de superar obstáculos, é possível, sim, um corte na grade fixa ou até a exclusão e/ou junção de algumas matérias.  Obviamente a aplicabilidade de um currículo nacional requer planejamento, estratégia, estudos técnicos e adaptações por parte de colégios da rede pública e privada. Por isso, é importante a integração do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Educação e de Secretarias Estaduais de Educação. O ser humano é cético em relação a mudanças, mas países como Singapura, Austrália e Japão começaram do zero e conseguiram tornar a educação um mecanismo de excelência. Até países latino-americanos como o Chile e o México possuem um padrão superior de ensino, com resultados acima da média em provas realizadas pela UNESCO, por exemplo.

Ainda é muito prematuro especular ou prever o que irá acontecer. Porém, sindicatos de professores à esquerda e pessoas que sequer leram a ação ventilam informações inverídicas sem nenhum fundamento, como de que haverá prejuízos à formação do aluno, desemprego pelo fim de disciplinas e outras falácias mais. Tudo por politicagem e corporativismo! A ideia de tratar a todos de modo igual e com o mesmo ensino não funciona, visto que cada indivíduo possui características próprias, aspirações, potencialidades e ambições distintas, de modo que uns se sobressairão a outros. O que certamente deve ser garantida é a igualdade de oportunidades a todos, para que despertem o interesse de aprimorar conhecimentos e transformar a realidade em que vivem.

O processo de reforma passará por modificações e será evoluído à medida que novas frentes e ferramentas forem disponibilizadas para destravar as amarras que há no currículo estudantil atual. Para isso, os professores terão que qualificar-se ainda mais para poder aglutinar diversas áreas do conhecimento, além do acompanhamento por parte dos órgãos competentes sobre a gestão nas escolas de todo o país, do ponto de vista estrutural e do ensino. Esta semana, uma comissão do Congresso aprovou algumas mudanças na MP que reforma o Ensino Médio, como a de que 60% da grade deve ser preenchida por conteúdo comum (Base Nacional Comum Curricular) e 40% de livre escolha do aluno, como linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. O Ministério da Educação prevê uma aprovação “com folga” da reforma na Câmara. Que assim seja!

 

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