Minhas considerações sobre o documentário Silenciados

Análise originalmente publicada em Modo Espartano.

O documentário Silenciados, produzido pela Terranova Filmes, dirigido por Daniel Moreno, tem uma premissa que é por si só muito nobre: Dar voz ás pessoas que são vítimas da violência no Brasil, aquelas que são silenciadas pelo espaço excessivo que a mídia dá aos criminosos.

Tive o privilégio de ver o documentário ontem, aqui no conforto de minha casa, e tenho muitos pontos a apresentar, sem dar spoilers, daquilo que vi. Abaixo, a minha análise.

Ponto de vista pessoal:

Chorei algumas vezes vendo o documentário, e acredito que provavelmente choraria se o visse de novo. É realmente chocante ouvir os relatos de violência gratuita, de crueldade, diretamente da boca das vítimas. É triste porque é real, porque sei que tudo aquilo não é apenas um filme, mas a realidade sendo filmada e mostrada da forma mais sincera e crua.

Ver uma mãe chorando pelo filho assassinado, ver um pai relatando a morte de seu filho, ver uma irmã contando o que aconteceu com a outra… Tudo isso me fez lembrar de um velho amigo que foi assassinado, há muitos anos, cujo responsável todos sabiam quem era e nunca foi preso apenas por ter 17 anos.

Como pai que sou, consigo vislumbrar, bem de longe, a dor de alguém que perde o filho de forma covarde. Esse vislumbre é o suficiente para me causar dor, raiva, angústia e revolta. Acredito que o choro que tive, em boa parte das vezes, foi de raiva, uma raiva justificada por saber que as pessoas que causaram tanto mal àquelas vítimas jamais serão devidamente punidos pelos seus atos.

Ponto de vista técnico:

É notório que a produção foi feita com poucos recursos, e isso se percebe pela qualidade do áudio que não é a melhor possível em alguns momentos, também pela pouca qualidade nas imagens. Porém, ao contrário de ser um demérito, isso torna o documentário ainda mais realista, mais verdadeiro.

A própria ideia em si é digna de méritos. Dar voz àqueles que nunca são ouvidos, deixar que eles desabafem, que eles exponham seus sentimentos e suas angústias é uma atitude humana, mas também é uma atitude que possui uma finalidade prática muito importante: Expor a sociedade canalha em que vivemos.

O melhor lado deste documentário é entender a realidade como ela é, detonando a hipocrisia de uma imprensa que está a serviço de uma agenda política nefasta, responsável por ocultar os fatos a fim de defender facínoras da pior estirpe. Por anos consecutivos nós ouvimos uma lado da história, que é sempre o dos bandidos. ONGs de Direitos Humanos, partidos políticos, jornais, emissoras de TV e rádio, todos mancomunados com o único objetivo de dar voz às “vítimas da sociedade” que estupram, matam, cometem latrocínios e toda sorte de crimes hediondos.

Silenciados foi na direção oposta e resolveu, de fato, dar voz para aquelas pessoas que nunca são convidadas para programas de TV como “Encontro” ou “Altas Horas”, as pessoas que sofreram a violência na própria pele e que são responsabilizadas indiretamente pela conduta criminosa de gente que não tem nenhum respeito pelo patrimônio e pela vida alheia.

Em certo ponto do documentário, que chegou a ser divulgado no trailer anterior, o entrevistador pergunta para as pessoas se elas foram procuradas por ONGs de Direitos Humanos, e todas elas dizem que isso nunca aconteceu. Temos que esfregar este fato na cara daqueles que dizem se preocupar com as pessoas, que se dizem “humanistas”, mas que aparentemente só apoiam pessoas que matam outras pessoas.

Conclusão:

Se você ainda não viu, veja. Eu recomendo. Apenas sugiro que se prepare para se emocionar muito com a dor daquelas pessoas, porque não é fácil. Ter que ouvir o pai contando a morte do próprio filho exige nervos de aço. Depois de assistir, dê um jeito de mostrar isso para o máximo número de pessoas que puder. Se você for professor, exiba este documentário em sala de aula, mostre para os seus alunos a realidade que outros professores têm escondido deles esse tempo todo.

Nós precisamos começar a agir. Não veja o documentário como se ele relatasse a vida de outras pessoas. Aquelas tragédias são nossas também. Hoje eles foram as vítimas, amanhã pode ser você ou eu. Vivemos em uma sociedade sem garantias!

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