Entre a vida e a morte

Esta semana tivemos mais um triste episódio da violência: um estudante de 21 anos foi covardemente assassinado quando lutava com um bandido pela posse de sua motocicleta.
O meliante declarou, em entrevista à imprensa (sim, porque neste “país das maravilhas”, degenerados dão entrevistas, como verdadeiras celebridades, que são veiculadas em horário nobre), que a vítima preferiu dar a vida em vez da moto. Assim, sem emoção alguma, como uma simples escolha entre tomates verdes ou maduros na quitanda da esquina. Como se a vida fosse apenas um bem de consumo, como qualquer outro, como um tênis ou uma caneta. Revela-se, neste ponto, uma personalidade totalmente psicopática.
Em sã consciência, ninguém dotado de uma gota de bom-senso, escolheria entre um bem material e a própria vida.
O que leva, então, uma pessoa esclarecida a lutar ferozmente por tal bem?
Talvez, pensemos, não seja o objeto motocicleta que estava em disputa.
Podemos imaginar que esta moto representasse anos de luta para obtê-la. Ou poderia ser o prêmio (“troféu”) por uma difícil conquista. Ou teria sido um presente de um ente muito querido e admirado (valor sentimental). Não nos esqueçamos que o pequeno automóvel poderia ser importante para suas atividades, até mesmo sendo indispensável para sua subsistência.
Enfim, quantas coisas estariam ali representadas, naquele ignóbil objeto, para este estudante? Provavelmente, aquilo representaria uma parte importante de sua vida – sua própria vida!
Não podemos crer que se tenha perdido uma vida “só por causa de uma moto”. Ali havia muito mais coisas em jogo. Era a luta pela VIDA, por sua HISTÓRIA particular e não por um mero anseio materialista.
Pergunto: e se o estudante estivesse armado? Não teria ele se defendido? Mas aí, teria tirado uma outra vida, com outra história, dirão vocês. Uma história de, aos 17 anos, o meliante já ter sido retido (preso, mesmo) nada menos que 5 (cinco, para que fique bem claro) vezes! E, claro, foi libertado sistematicamente pela maleabilidade inconsequente de nossas leis, para que, neste fatídico dia, extirpasse uma preciosa vida.
Assim, além do lamento inconsolável que toda a nação deveria manifestar por essa estúpida situação, caberia uma tão igualmente inconsolável revolta pela negligência de pouco-caso das autoridades “competentes”. Competentes em manter saudáveis os algozes da sociedade. Competentes em alimentar e sustentar o clima de insegurança total. Competentes em criar empecilhos para que a justiça seja feita.
Enquanto confiarmos nossos mais preciosos bens (vida – segurança – saúde) às mãos do Estado, é isso que colheremos.
Não, não é uma escolha. É um destino traçado por ratos com dentes afiados para espoliar a dignidade … lamentável! …

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