Cristiano Ronaldo x Messi – Artigo 2: A Força da Natureza

Série: Cristiano Ronaldo x MessiArtigo 2: A força da Natureza.

Em todos os esportes, o condicionamento físico e o biotipo são determinantes para o sucesso do atleta. Em alguns esportes, inclusive, eles acabam sendo característica essencial para que o praticante se torne um profissional. A título de exemplo, você consegue imaginar um maratonista ou uma ginasta fora do peso? Ou quem sabe, imaginar um jogador de vólei ou de basquete com apenas 1.70 m? Não né? Simplesmente não existem atletas assim. Pelo menos não entre os profissionais.

No futebol isso sempre foi um pouco diferente. Por ser um esporte de extrema dificuldade técnica (já que executado com os pés e não com as mãos), o futebol sempre abrigou em seus quadros jogadores fora do biotipo ideal ou do condicionamento físico perfeito. Garrincha, por exemplo, possuia uma perna torta e era um alcoólatra mas mesmo assim está na lista dos melhores da história. Zidane, campeão do mundo em 1998, era um fumante contumaz. Eles são exemplos de jogadores que conseguiram marcar história mesmo tendo condicionamento físico inadequado.

Vale lembrar que condicionamento físico é diferente de velocidade ou de força bruta. Enquanto que velocidade trata apenas de se mover ligeiramente e força bruta trata apenas da quantidade de carga que se é capaz de suportar, o condicionamento físico é o somatório dos aspectos mais importantes para um desportista: velocidade, força, flexibilidade e resistência.

O técnico do Liverpool Jurgen Klopp afirmou que “esta é a geração de futebol mais profissional que já tivemos” e ele tem total razão. Vivemos a geração de futebol com maior preparo físico da história e, com certeza, este nível de profissionalismo cresceu de forma exponencial com a rivalidade de Messi x Cristiano.

Em outros tempos, fazer mais que 40 gols por temporada era uma loucura. Cruyff e Ronaldo Fenômeno, por exemplo, conseguiram superar esta marca apenas uma vez na carreira. Batistuta e Klinsmann, alguns dos maiores centroavantes da história, não conseguiram superar esta marca nem uma vez sequer em toda carreira. Messi e Cristiano Ronaldo, ao contrário, transformaram o absurdo em algo habitual. Por 6 temporadas seguidas ambos passaram da marca dos 40 gols. Cristiano Ronaldo, inclusive, passou da marca dos 50 gols nas 6 últimas temporadas. Já Messi, que passou da marca dos 40 gols em 7 temporadas, estabeleceu o recorde de gols em um único ano: 91.

O fato de Cristiano Ronaldo e Messi terem obtido resultados incríveis, fez com que todo o nível do futebol mundial tivesse que subir obrigatoriamente. Como já diria José Mourinho, “no futebol é assim: ou você é um jogador espectacular ou então corre suficiente para compensar sua deficiência”. O que Mourinho colocou pra nós é que o preparo físico é o fio condutor da melhora do desempenho dos atletas. Cristiano Ronaldo e Messi sabem muito bem disso. Tanto Cristiano Ronaldo quanto Messi já usaram tecnologia da Nasa para melhorarem seus desempenhos físicos. Ambos, inclusive, possuem treinamento físico especial, próprio para cada um. Eles elevaram tanto o nível do condicionamento físico deles que, necessariamente, todos os adversários devem subir o preparo físico, caso contrário vão levar 3 gols por jogo( inclusive, ambos são os jogadores com maior número de hat-trick – fazer 3 gols no mesmo jogo – da história, revezando a liderança temporada após temporada).

A esta altura você deve estar concordando com a análise sobre o condicionamento físico como sendo fator determinante para o desempenho dos dois mas e sobre o biotipo? Eles possuem biotipos completamente diferentes. Enquanto que Messi é de estatura baixa e de corpo franzino, Cristiano Ronaldo tem uma estatura acima da média e com a musculatura bastante desenvolvida. Não fica caracterizada uma qualidade em comum de ambos que possa justificar o sucesso de ambos ao mesmo tempo. Então, o que eles fizeram para alcançarem desempenhos tão absurdos? Como conseguiram resultados tão acima dos outros atletas? A resposta é mais simples do que se pensa: eles aprenderam a trabalhar e valorizar a própria natureza.

Filosoficamente falando, o objeto de estudo da natureza é o “ser” das coisas corpóreas, ou seja, sua essência. A essência das coisas diz respeito àquilo que faz a coisa ser única, diferente dos outros. Sendo assim, a essência do olho é olhar; a essência do lápis é escrever; a essência do goleiro é agarrar. Para Aristóteles, a felicidade está diretamente associada ao grau de envolvimento do ser humano com a sua própria essência. Com aquilo que nós estamos destinados a ser. O que diferencia o ser humano dos outros seres vivos é que ele é o único capaz de raciocinar. Sendo assim, a felicidade é obtida através do raciocínio.

No caso de Cristiano e Messi, eles são bastante ligados a natureza dos próprios biotipos. Pra este artigo, vamos considerar apenas o biotipo e não as características de personalidade dos jogadores. Mas o que é interessante observar é que o esperado de um jogador baixo e franzino, feito Messi, é que ele tenha por essência o drible e a agilidade. A capacidade de se movimentar em espaços pequenos e sob pressão. Já o jogador alto e forte, a exemplo de CR7, se espera por essência a velocidade e a força na finalização. A capacidade de aguentar um jogo mais pegado. Eles são exemplos vivos da exploração máxima do potencial humano.

Parte da rivalidade entre eles está justamente no tipo físico de cada um: o alto e forte x o baixo e ágil.

Atletas como Federer e Jon Jones, considerado por muitos o melhor da história no tênis e no MMA, possuem biotipos próprios para o esporte. Acredito que isso também ocorre com Cristiano Ronaldo e Messi. Se antes o futebol comportava jogadores que não tinham biotipos ideais para o futebol ou que não tinham condicionamento físico no mais alto nível, isso se encerrou com Cristiano e Messi. Hoje em dia a capacidade física do atleta está diretamente associada ao seu potencial. Jogadores como Garrincha ou Romário, por exemplo, talvez nem profissionais conseguissem ser, devido ao nível de profissionalismo que o futebol ficou após os dois gênios.

Messi utiliza seu biotipo para ser ágil, fazer movimentos acelerados e mudar de direção com facilidade. Cristiano utiliza o seu para ser veloz nos contra-ataques, efetivo dentro da área e forte nos chutes de longa distância.

Na filosofia, a força da natureza está na essência das coisas; no futebol, a força da natureza está na essência do próprio jogador. Para se fazer um grande jogador qualquer virtude é suficiente: técnica (Zidane, Sócrates), vontade (Gattuso, Dunga), habilidade (Ronaldinho, Denilson), força(Adriano, Ibrahimovic), agilidade (Maradona, Romário), velocidade (Owen, Canniggia), mas para se fazer os melhores da história, Messi e Cristiano, é necessário mais que uma grande virtude, é preciso se transformar no futebol. Eles são parte da essência do futebol.

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